Por Fernando Cardoso
SÃO PAULO (Reuters) – O Comitê de Política Monetária () do Banco Central deve subir a taxa básica de juros em 1 ponto percentual em cada uma de suas duas próximas reuniões, tendo à frente uma inflação acima do teto da meta em 2025 e um perto de 6 reais, de acordo com boletim macroeconômico da XP (BVMF:) divulgado nesta quarta-feira.
Em suas projeções econômicas de dezembro, a XP passou a ver a taxa básica de juros, atualmente em 11,25% ao ano, encerrando 2024 em 12,25%, ante 11,75% na previsão anterior. Após as duas altas de 1 ponto percentual em dezembro e janeiro, o Copom deve elevar a Selic mais duas vezes em 0,5 ponto, em março e maio, segundo suas estimativas.
Com isso, segundo a XP, o atual ciclo de aperto monetário encerrará com a taxa em um pico de 14,25%, ante 13,25% na projeção de novembro. Um ciclo de afrouxamento monetário no final do próximo ano deve permitir dois cortes de 0,5 ponto, levando a Selic a 13,25% no encerramento de 2025.
A mudança nas projeções ocorreram devido à análise de que “a tarefa do Copom de trazer a inflação à meta se tornou mais desafiadora”, disse o economista-chefe da XP, Caio Megale, no documento, citando uma atividade econômica aquecida, a aceleração da inflação e a desvalorização acentuada do real.
Esse cenário, de acordo com Megale, implica a necessidade de um “ajuste mais tempestivo” pelo Copom, justificando as mudanças nas projeções da XP. O BC também deve procurar ancorar as expectativas do mercado para indicadores, enfrentando a “tendência de desancoragem”.
“O mercado entrou em um estado de perda de referências. Cabe ao Banco Central trazê-lo de volta para os fundamentos”, disse Megale em coletiva de imprensa após a divulgação do boletim. Ele ainda apontou que as duas altas de 1 ponto percentual permitiriam que o BC não ficasse “atrás da curva”.
No entanto, as projeções da XP não indicam alívio para a inflação ou para a taxa de câmbio no futuro próximo.
O boletim prevê que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo () encerrará este ano em 5%, ante 4,9% na projeção anterior. Em 2025, o índice deve acelerar para um avanço de 5,2%, de 4,7% na estimativa de novembro, e em 2026 desacelerar para 4,5%
Em 2024 e 2025, portanto, a inflação ficaria acima do teto da meta perseguida pelo BC — com centro de 3% e uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo — e em 2026 atingiria exatamente o teto.
Na frente do câmbio, a expectativa da XP é de que o dólar feche este ano em 6,00 reais, com uma leve queda para 5,85 reais em 2025 e uma retomada dos 6,00 reais no ano seguinte.
A XP também prevê que a demanda interna no próximo ano continuará robusta no Brasil, pressionando os preços, mas indica que o crescimento do país deve desacelerar. Após fechar 2024 com avanço de 3,5%, o PIB brasileiro deve expandir 2% no próximo ano e apenas 1,2% em 2026.
A perspectiva para o próximo ano de juros altos, inflação mais elevada e desaceleração da atividade levou os analistas da XP a projetar que 2025 será um período de “freio de arrumação”, segundo o documento.
FISCAL NO BRASIL E DESAFIOS GLOBAIS
Na semana passada, o dólar ultrapassou a marca de 6 reais pela primeira vez na história da circulação da moeda brasileira, em 1994, com o mercado reagindo negativamente ao duplo anúncio pelo governo de um pacote de medidas de contenção de gastos e de um projeto de reforma do Imposto de Renda.
O pacote, que prevê, uma economia de 71,9 bilhões de reais nos próximos dois anos, foi bem recebido pelo mercado, mas os investidores foram pegos de surpresa pelo anúncio concomitante de um projeto que prevê a expansão da faixa de isenção do IR para quem ganha até 5 mil reais por mês.
De acordo com os analistas da XP, as preocupações do mercado com o compromisso do governo no equilíbrio das contas públicas e o debate sobre a reforma do IR devem ocupar as atenções dos investidores em 2025.
“A dívida pública vai continuar crescendo mesmo com o arcabouço fiscal e o pacote, porque o arcabouço é expansionista”, afirmou Megale na coletiva, apontando que as medidas fiscais anunciadas pelo governo apenas colocam os gastos discutidos dentro da regra fiscal.
Ele apontou a necessidade de debate de uma reforma administrativa e de uma nova reforma “ampla” da Previdência para que a trajetória atual da dívida pública seja de fato alterada.
Megale também disse ver a reforma do IR proposta pelo Executivo como “correta do ponto de vista da justiça tributária”, mas sinalizou para a incerteza sobre se o governo conseguirá aprovar no Congresso as medidas que indicou como compensação à renúncia de receita.
O próximo ano, segundo os analistas da XP, ainda traz uma série de desafios globais, com destaque para o novo governo do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, cujas promessas de tarifas têm levantado as perspectivas de guerras comerciais e retorno da inflação global.
“Próximo ano traz maiores dúvidas. Devemos ter excepcionalismo norte-americano em voga, o que é bom para os EUA, mas para o mundo há tarifas, o que coloca maior pressão sobre os mercados emergentes”, disse Fernando Ferreira, estrategista-chefe e head de research da XP.