A função de bloquear um usuário no X, ex-Twitter, deixou de vetar o acesso a publicações do perfil que efetuou o banimento. A mudança foi percebida por usuários nesta segunda-feira (4), antes da rede social ou de seu dono, Elon Musk, fazerem qualquer anúncio.
“Você pode ver as postagens públicas de @exemplo, mas está bloqueado de interagir com elas. Você também não pode seguir ou enviar mensagens para @exemplo”, diz o novo alerta de bloqueio.
Antes da alteração, o usuário recebia a informação: “@exemplo bloqueou você. Você está impedido de seguir @exemplo e de ver os tuítes de @exemplo.”
A mudança deteriora um dos mecanismos de segurança indicados em caso de perseguição, importunação e assédio virtual, segundo advogados consultados pela Folha, uma vez que a pessoa bloqueada continuaria com acesso a informações da vítima.
No último dia 16, a equipe de engenharia do X publicou que mudaria a dinâmica de bloqueio “nos próximos dias”, sem definir uma data. A medida, segundo o X, visaria evitar que usuários restrinjam a visualização de outras pessoas para, depois, publicarem conteúdo nocivo ao bloqueado.
A rede social afirmou, ainda no fio, que as pessoas ainda podem manter seus perfis privados, para permitir que apenas os seguidores tenham acesso às publicações. Procurado, o X não retornou até a publicação desta reportagem. A empresa deixou de ter representação de imprensa no país, após ser comprada por Musk em outubro de 2022.
A diretora de pesquisa do InternetLab, Heloisa Massaro, pondera que a medida, de um lado, tira uma ferramenta de segurança dos perfis públicos. “A pessoa que tem um perfil público pode ser uma pequena influenciadora ou uma candidata que foi alvo de violência política”, diz.
Porém, de outro, a mudança mitiga os efeitos negativos de políticos e outras autoridades que bloqueiam jornalistas e cidadãos, vedando o direito de acesso à informação.
“Essa suposta maior transparência pode expor pessoas a perseguidores virtuais, ex-parceiros abusivos e adversários políticos, entre outros riscos”, diz o pesquisador do Instituto de Referência em Internet e Sociedade (Iris) Paulo Rená.
Para ele, a rede social deveria coibir a difamação a partir de uma postura mais ativa na punição de quem espalha calúnias. “Fica a impressão de que a empresa está diretamente interessada em fomentar mais conflitos online, talvez como uma forma de elevar as interações na plataforma, sendo irrelevante se haverá mais harmonia ou agressividade.”
A rede social alterou a política de bloqueio nos termos de uso, e retirou as restrições à visualização de publicações, respostas, seguidores, seguidos, listas, e à data de criação da conta enquanto está conectado ao X, além da possibilidade de encontrar postagens do bloqueador na busca.
Foi possível verificar as mudanças a partir de uma versão anterior dos termos de uso arquivada no site Internet Archive.
O bloqueio ainda proíbe:
- Interagir com publicações do bloqueador (gostar, responder, republicar)
- Seguir
- Enviar mensagens
- Adicionar o bloqueador a listas
- Marcar a pessoa em fotos