Em 2024, a Folha publicou que o mercado de nutrição esportiva movimenta mais de R$ 4 bilhões ao ano no Brasil, puxado pelo consumo de idosos. Suplementos como Whey Protein conquistam quem buscam construir massa muscular e são frequentemente indicados por nutricionistas. Mas é necessário suplementar proteína, aderir à creatina e vitaminas?
Fernanda Pisciolaro, do do Programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, diz que um suplemento não cura ou previne doenças, mas complementa uma alimentação insuficiente. “Pode ser uma questão de saúde, paladar ou de disponibilidade, pensando em pessoas com necessidade aumentada por um objetivo, como o esporte. Mas não precisamos bater todos os macronutrientes diariamente para estar saudáveis.”
De acordo com ela, a maioria das pessoas pode consumir a quantidade de proteína, creatina, vitaminas e minerais apenas comendo de forma balanceada, mas há um lobby de venda de produtos que faz crer necessários mais nutrientes do que a realidade.
Segundo Greta Antoine, nutricionista com especialização em nutrição e medicina vegetariana e avaliação metabólica, a obsessão pela proteína é antiga. “Em 1842 um estudo [Animal Chemistry, de Justus von Liebig] já dizia que ‘a proteína é o único verdadeiro nutriente’. Há tempos ela é posta num patamar acima dos outros e a indústria ganha muito com isso”, diz.
Por outro lado, a partir dessa perspectiva, a importância do cálcio para pessoas veganas e ovolactovegetarianas, cuja ingestão pode ser minimizada, é escanteada. Nesse sentido, a indústria de suplementação e alimentos fortificados com vitaminas e nutrientes traz benefícios. “Os leites vegetais fortificados com cálcio, por exemplo, podem bater metade da ingestão diária necessária em 200 ml.”
Ela alerta que priorizar o consumo proteico pode pressupor a contagem diária de gramas de proteína e gerar gatilhos para pessoas pré-dispostas a desenvolver transtornos alimentares (assim como a contagem de calorias). “Não é simples contabilizar proteínas. Os alimentos têm diferentes macronutrientes”, explica.
Já o ômega 3 é o suplemento mais indicado por Greta. Presente na carne de peixe, na linhaça e na chia, o nutriente pode ser reduzido na alimentação do dia a dia. “Ele é antioxidante, promove a recuperação muscular, auxilia na diminuição do triglicérides etc.”
De acordo com ela, também a creatina pode ser suplementada em doses diárias, exceto por quem apresenta problemas renais ou outras restrições. Enquanto um suplemento proteico auxilia no ganho de massa muscular, a creatina pode ser benéfica na preservação dessa massa em pessoas idosas, por exemplo.
A nutricionista PhD e membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição, Lara Natacci, adiciona que a suplementação pode ser necessária para pessoas em fases da vida em que a demanda por nutrientes é maior, além de atletas e idosos, como gestantes e lactantes, além de auxiliar quem tem dificuldade em manter uma dieta balanceada ou apresenta deficiências nutricionais específicas. “Mas eles só devem ser consumidos após uma avaliação e acompanhamento individual com um nutricionista”, reitera.
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