Reuniões entre sindicato e investidor que negocia a compra da indústria bélica de Jacareí têm como objetivo alinhar as propostas voltadas aos funcionários, que estão em greve e sem receber salários há quase 20 meses por conta da crise financeira da empresa. Funcionários da Avibras participam de reunião em Jacareí
O Sindicatos dos Metalúrgicos de São José dos Campos (SP) e o investidor que negocia a aquisição da Avibras, sediada em Jacareí (SP), voltam a se reunir na tarde desta sexta-feira (22).
Este será o terceiro encontro entre as partes desde que a indústria bélica anunciou a possibilidade de venda a um novo interessado.
Em recuperação judicial por conta de uma crise financeira, a empresa anunciou no fim de outubro que está sendo negociada com um investidor brasileiro, que ainda não foi revelado – entenda abaixo.
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Reunião entre dirigentes do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e representantes de possível comprador da Avibras
Edilene Faria/Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos
Desde então, o sindicato e o investidor têm se reunido para alinhar as propostas voltadas aos funcionários, que estão em greve e sem receber salários há quase 20 meses por conta da crise financeira da empresa. O objetivo é definir as condições de pagamento das dívidas e direitos dos trabalhadores caso o negócio seja concretizado.
O primeiro encontro aconteceu no dia 8 de novembro, quando o sindicato apresentou ao investidor as propostas para retomada dos funcionários ao trabalho.
Na última terça-feira, 19 de novembro, o possível investidor apresentou as contrapropostas e não houve acordo. As negociações seguem nesta sexta-feira (22).
Sindicato e funcionários da Avibras se reúnem para discutir propostas de investidor
André Luis Rosa/TV Vanguarda
Divergências
O principal ponto de divergência está no pagamento das dívidas trabalhistas. Enquanto o investidor quer que os funcionários renunciem das multas relativas aos atrasos salariais, o Sindicatos dos Metalúrgicos de São José dos Campos exige o pagamento em até quatro parcelas.
Segundo o sindicato, o investidor também prevê o pagamento dos 19 salários atrasados em 13 parcelas, a partir de janeiro de 2025. O sindicato defende o pagamento dos salários atrasados também em quatro parcelas, junto com as multas.
O investidor prevê ainda o pagamento do salário de dezembro e do 13º no dia 30 de dezembro – neste ponto, o sindicato exige o pagamento do 13° no dia 20 de dezembro.
Outro ponto de divergência está na volta do plano de saúde – na proposta feita pelo investidor consta o retorno do plano de saúde, mas sem uma data definida para isso. O sindicato, por sua vez, exige a definição de uma data.
Manifestação dos funcionários da Avibras
Roosevelt Cássio/Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região
Outros pontos defendidos pelo sindicato são:
reajuste das cláusulas econômicas em 4%;
estabilidade no emprego para todos os trabalhadores até abril de 2025;
extensão das cláusulas sociais do Acordo Coletivo até 31 de agosto de 2026.
Em relação à estabilidade no emprego para todos os trabalhadores até abril de 2025, o investidor afirmou ao sindicato que não vai reduzir o quadro, mas que há possibilidade de layoff.
Venda da Avibras
A indústria bélica Avibras afirmou no fim de outubro que a venda da empresa está sendo negociada com um investidor brasileiro. O nome do investidor e o valor do negócio não foram revelados.
Segundo a Avibras, no dia 25 de outubro, o investidor brasileiro assinou um acordo com a empresa, para adquirir o controle da companhia, o que a indústria bélica, que vive uma crise, classificou como um avanço significativo no “processo de recuperação financeira”.
Avibras
Reprodução/TV Vanguarda
Apesar da assinatura, a Avibras informou que a conclusão do negócio ainda depende de outros fatores, como o cumprimento de condicionantes estabelecidas em contrato.
“O fechamento efetivo da aquisição somente poderá ocorrer se cumpridas todas as condições estabelecidas no acordo”, diz trecho da nota da Avibras. A empresa não detalhou o acordo firmado.
Ainda segundo a Avibras, nesta fase, estão sendo seguidas as etapas necessárias “para concretizar e validar a aquisição, com o intuito de restabelecer as operações da companhia”.
Por fim, a Avibras destacou que “a assinatura do acordo representa um marco importante no processo de reestruturação da empresa” e que o investidor brasileiro e a indústria bélica “estão trabalhando de forma colaborativa para concluir a transação”.
A Avibras é uma empresa bélica localizada no interior de SP.
Reprodução/ TV Vanguarda
Crise da Avibras
Confira a linha do tempo da crise e da situação da Avibras:
março de 2022: a Avibras pediu recuperação judicial alegando uma dívida de R$ 600 milhões
setembro de 2022: os trabalhadores entraram em greve por causa dos atrasos nos salários
julho de 2023: o plano de recuperação judicial foi aprovado
abril de 2024: a Avibras anunciou que negociava a venda para a empresa australiana Defendtex
junho de 2024: a Defendtex desistiu da compra
junho de 2024: o Ministério da Defesa informou que a Avibras havia recebido nova proposta, desta vez de um possível investidor chinês
outubro de 2024: a Avibras afirmou que negocia com um investidor brasileiro
Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, a dívida adquirida pela Avibras durante o período de recuperação judicial – de 2022 para cá – é de cerca de R$ 327 milhões.
Quando o processo de recuperação começou, a empresa de Jacareí tinha cerca de 1,4 mil funcionários. Atualmente, são 924 funcionários, que estão em greve desde setembro de 2022.
Avibras
Reprodução/TV Vanguarda
A Avibras
A Avibras Aeroespacial é a maior indústria bélica do país e foi fundada em 1961 por engenheiros do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), de São José dos Campos. Ela é uma das primeiras empresas nacionais a atender o setor aeroespacial.
A empresa desenvolve tecnologia para as áreas de Defesa e Civil. A organização foi uma das primeiras no Brasil a construir aeronaves, desenvolver e fabricar veículos espaciais para fins civis e militares.
Presente no mercado nacional e internacional, a empresa tem sede em Jacareí, no interior de São Paulo, e desenvolve motores de foguetes para as forças armadas, entre outras coisas.
Fábrica da Avibras em Jacareí
Reprodução/TV Vanguarda
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