Por Stefania Spezzati
LONDRES (Reuters) – A Autoridade de Conduta Financeira do Reino Unido (FCA) está examinando alegações de que alguns ex-funcionários do Credit Suisse (SIX:) compartilharam informações confidenciais pelo WhatsApp, mostram documentos vistos pela Reuters.
A FCA, que regula empresas financeiras no Reino Unido, está avaliando a conduta de vários integrantes da área de análise do Credit Suisse em Londres, que conta com cerca de 100 funcionários, durante o período de meados de 2022 ao início de 2023, de acordo com os documentos.
Um representante da FCA não comentou o assunto. Um porta-voz do UBS, que comprou o Credit Suisse no ano passado, disse que “não tem conhecimento de uma investigação da FCA dessa natureza em andamento”.
O UBS promove treinamento e possui regras abrangentes sobre o uso apropriado de comunicações eletrônicas e fornece telefones de trabalho aos analistas, acrescentou o porta-voz. Mais de meia dúzia de funcionários foram citados na queixa e pelo menos três estão atualmente empregados pelo UBS, de acordo com os documentos e uma análise de seus perfis no LinkedIn.
Se a FCA decidir que tem provas suficientes, poderá abrir uma investigação, que normalmente é conduzida de forma privada e sem prazo determinado. O órgão regulador pode aplicar multas contra indivíduos e empresas, bem como banir profissionais do setor. Também é possível processar indivíduos por crimes.
Em 2017, o órgão regulador multou um executivo de banco de investimento por compartilhar informações confidenciais de clientes por meio do aplicativo de mensagens, concluindo que ele não agiu com a devida habilidade, cuidado e diligência. Em setembro de 2022, autoridades dos EUA multaram o Credit Suisse em 200 milhões de dólares por não monitorar as comunicações dos funcionários em aplicativos de mensagens não autorizados e ordenaram que o banco cessasse e desistisse de futuras violações.
O UBS também foi multado por violações semelhantes. Em setembro de 2024, o órgão regulador do Reino Unido pediu a muitos bancos que entregassem detalhes de funcionários que violaram suas políticas em aplicativos de mensagens, incluindo o WhatsApp, informou o Financial News.
Os documentos mostram que o órgão regulador do Reino Unido começou a analisar as alegações por volta do final de fevereiro de 2023, alguns dias antes do governo suíço orquestrar a aquisição do Credit Suisse pelo UBS. As acusações incluem funcionários em Londres comunicando assuntos de negócios em dispositivos pessoais e compartilhando informações sensíveis a preços de ativos na plataforma de mensagens sobre as empresas que cobriam.
Os requisitos regulatórios da FCA em vigor desde pelo menos 2021 exigem que as empresas tomem medidas para evitar que os funcionários façam, enviem ou recebam conversas telefônicas e comunicações eletrônicas relevantes em equipamentos particulares, que a empresa não pode registrar ou copiar.
Os bancos precisam manter registros das comunicações comerciais para que o órgão regulador possa cumprir sua tarefa de supervisão, diz a FCA. A Reuters não conseguiu determinar se o Credit Suisse, que empregava cerca de 50 mil funcionários quando foi adquirido, estava mantendo um registro das comunicações privadas.
A FCA também está buscando informações sobre o uso do recurso de mensagens temporárias do WhatsApp, uma função que permite que os usuários enviem uma mensagem que vai desaparecer automaticamente após um período de tempo.
Alguns funcionários do Credit Suisse supostamente ativaram a configuração no início de 2023, segundo os documentos. Outras alegações que estão sendo analisadas pela FCA envolvem quatro casos durante meados de 2022, nos quais funcionários do braço de análise do Credit Suisse gravaram conversas com executivos seniores de quatro empresas listadas em bolsa sem solicitar previamente seu consentimento.
As gravações foram compartilhadas no bate-papo do WhatsApp usado pelos analistas do Credit Suisse para o trabalho, de acordo com as alegações nos documentos vistos pela Reuters. Os analistas publicam estudos sobre empresas para ajudar os investidores a tomarem decisões de investimento e sua avaliação pode influenciar o mercado.
Em duas das reuniões, os executivos das empresas comentaram sobre o plano de capital e a lucratividade das empresas acompanhadas por eles, segundo os documentos. Em um caso, um executivo de uma empresa coberta pelos analistas fez comentários sensíveis ao mercado durante o período de silêncio que antecedeu a publicação de resultados financeiros.
Executivos de empresas não têm permissão para compartilhar informações com indivíduos selecionados, incluindo investidores e analistas, que possam dar uma ideia sobre as finanças da empresa no período que antecede a divulgação de resultados. A Reuters não conseguiu determinar se os órgãos reguladores também estão analisando a conduta do executivo que divulgou as informações confidenciais.