Unknown 9: Awakening é uma aventura single-player com enorme potencial, misturando gameplay estimulante e um universo misterioso. O jogo proporciona momentos muito memoráveis, mas os gráficos medianos e o baixo desempenho impedem-no de ser uma das experiências mais divertidas do ano.
Se me perguntassem há uma semana sobre Unknown 9: Awakening, pouco poderia dizer sobre o projeto. O jogo passou de raspão pelo meu radar, e apenas sabia que era protagonizado por Anya Chalotra, uma das atrizes principais da série The Witcher. O marketing em seu redor tem sido praticamente nulo, o que é bastante estranho tendo em conta que está a cargo de uma das maiores editoras da atualidade: a Bandai Namco.
O facto de o jogo estar a passar despercebido é um péssimo prenúncio; estamos perante uma IP totalmente nova, algo que nos deveria entusiasmar numa indústria cada vez mais repetitiva e saturada, mas acredito que os laços à Sweet Baby Inc. (algo que descobri após jogá-lo) possam ditar a sua sentença. O que é uma valente pena, uma vez que existe aqui um enorme potencial.
Olhando para Unknown 9: Awakening de uma forma abrangente, podemos classificá-lo como um jogo AA, encontrando-se a meio caminho entre uma produção indie e um mega blockbuster. Em termos de escala, o jogo lembrou-me imenso de A Plague Tale: Innocence, com influências bastante notórias de outros títulos como Assassin’s Creed, Dishonored ou até mesmo Uncharted. Mesmo influenciado por jogos de alto calibre, Unknown 9 trilha o seu próprio caminho e consegue distinguir-se graças a um universo único e peculiar, personagens curiosas e mecânicas de gameplay que se adaptam a vários estilos de jogadores.
Uma mistura curiosa de temáticas
Misturando cultura indiana, tecnologia vintage e fantasia num único embrulho, o jogo adota uma temática que penso nunca ter visto antes num videojogo, ou em qualquer outro produto de entretenimento. Com Haroona no papel principal, uma rapariga destemida e determinada capaz de mergulhar e canalizar poderes de uma dimensão paralela conhecida como The Fold, o jogo leva-te por várias localizações curiosas e coloca-te frente a frente com múltiplos inimigos que é necessário derrotar para prosseguir.
A história do jogo é simples, mas funcional: o nosso objetivo é resgatar Reika, a nossa amada mentora, que foi capturada pelo temível vilão Vincent Lichter. Como seria de esperar num jogo single-player com um grande foco na narrativa, os jogadores podem contar com companheiros leais, reviravoltas inesperadas e momentos de muita ação, à medida que vão descobrindo mais informações sobre os Unknown 9 e o lore complexo que encapsula este universo.
Para enfrentar todos os martírios que a esperam, Haroona tem uma vasta gama de habilidades entusiasmantes à sua disposição, que podem ser melhoradas ao longo do tempo. Por um lado, ela é capaz de aguentar-se firmemente em combate direto, corpo a corpo, mas existe também um enorme componente de stealth que corresponde à maioria do jogo. Usando a erva alta ou outras estruturas para esconder-se dos inimigos, Haroona pode eliminá-los um a um de forma sorrateira usando os seus poderes de invisibilidade, de possessão ou ativando armadilhas espalhadas pela arena.
Haroona possui um vasto arsenal ao seu dispor
A habilidade de possessão é a mais interessante de todas, criando momentos de gameplay verdadeiramente excitantes que, horas mais tarde, continuam a causar uma enorme sensação de prazer. Com o simples premir de um botão, é possível possuir temporariamente alguns inimigos, levando-os a matarem-se uns aos outros ou até mesmo obrigá-los a cometer “suicídio” atacando, por exemplo, uma botija de gás. Sempre que podia, dava por mim a jogar de uma posição mais defensiva, escondido e protegido por uma qualquer cobertura, e evitava a todo o custo entrar em combate direto, optando por eliminar os inimigos da forma mais dissimulada possível.
Tudo isto pode dar a entender uma certa invencibilidade de Haroona, mas esse não é o caso; à medida que vamos progredindo, o jogo oferece arenas cada vez mais perigosas, com máquinas que nos detetam automaticamente ou campos de força que protegem os inimigos da habilidade de possessão. Ademais, novos inimigos são introduzidos frequentemente, mais poderosos e com padrões de ataques diferentes, que obrigam a reformular constantemente as nossas estratégias; e como não podia deixar de ser, existem alguns bosses que vão testar todas as habilidades que fomos aprendendo e dominando ao longo do tempo.
Unknown 9: Awakening possui vários sistemas e “armas” em vigor que permitem a Haroona navegar estes locais infestados de inimigos, mas decidi apenas focar-me nos anteriores para não vos maçar (e não “spoilar” todo o jogo). Tal como referido no início desta análise, a sua fórmula lembra bastante a saga A Plague Tale, com vastas secções de stealth interrompidas por outras mais calmas voltadas para a exploração e locomoção.
Como um jogo AA, fiquei impressionado com o nível de imaginação, longevidade e escala de Unknown 9, que poderia ser o início de uma badalada saga não fosse a sua adesão abaixo de morna. Olhando unicamente para o jogo, sem qualquer tipo de preconceito exterior, existe aqui o esqueleto de algo com um potencial extremo, com um grande nível de empenho e dedicação por parte do estúdio Reflector Entertainment.
O jogo tem uma secção em Portugal!
Posso afirmar aqui, de forma categórica, que Unknown 9 proporcionou-me um dos momentos mais marcantes em memória recente, deixando-me de sorriso rasgado e com os olhos coladíssimos ao ecrã. Uma grande fatia do jogo decorre em Portugal! Não é apenas uma menção ou uma simples passagem pelo território nacional: estou a falar de um capítulo inteiro que decorre numa das zonas mais icónicas e belas do nosso país e que podemos percorrer com Haroona, gerando implicações importantíssimas para a história. Não revelarei o local exato por razões óbvias (gostava de saber os vossos palpites nos comentários), mas foi algo que me deixou em puro êxtase e que me apanhou totalmente desprevenido.
Mas Portugal é apenas uma das muitas localizações presentes no jogo, que nos leva a viajar um pouco por todo o mundo a bordo de um fantástico zepelim. Desde florestas densas a desertos tórridos, com passagem pela Índia ou pelo universo paralelo do The Fold, há sempre algo novo a acontecer em termos geográficos.
Penso que o meu apreço pelo jogo é notório e é pena saber que as probabilidades desta saga ficar por aqui serem praticamente certas. Os maiores problemas que posso apontar dizem respeito ao seu grafismo e desempenho que, nos dias que correm e no hardware à nossa disposição, não são aceitáveis.
Os gráficos e desempenho são o maior problema
Em momento algum, olhando para o jogo, parece estarmos a jogar um título desta atual geração. Os gráficos vão de medianos a aceitáveis e, uma vez que se trata de um jogo linear single-player, nada os justifica. Jogando na PS5, as texturas são estranhas, a iluminação deixa um pouco a desejar e, por vezes, parece pairar um efeito “desenho-animado” que não é nada atraente. Como se isto não fosse o suficiente, o jogo parece-me correr apenas a 30FPS, sem quaisquer modos gráficos disponíveis – de um ponto de vista visual, não é um jogo propriamente bonito (especialmente quando comparado com outros no mercado), algo que apenas consegui tolerar porque tudo o resto era-me imensamente apelativo.
Por fim, posso também destacar alguns problemas na IA dos inimigos e na câmara do jogo, mas nada que me deixasse propriamente frustrado ou que tenha denegrido de forma considerável a minha experiência. É possível que, após o lançamento, a Reflector Entertainment lime algumas destas arestas e torne o jogo ainda melhor.
Conclusão
Os laços do jogo à Sweet Baby Inc. pouco me interessam, até porque só descobri a sua associação após ter terminado o jogo e ter a minha opinião formada. Acredito, no entanto, que mesmo que soubesse essa informação de antemão, a minha opinião não mudaria um único milímetro. Diverti-me imenso com o jogo, já estou cansado de remasters/remakes e é bom experienciar uma nova IP com personagens e universos distintos e carismáticos que se destacam de tudo o resto já feito. É perfeito? De maneira alguma, mas os prós prevalecem sobre os contras e faz aquilo que um videojogo deve fazer: entreter.
Prós: | Contras: |
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