Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) – A curva de juros brasileira desinclinou nesta quinta-feira, com as taxas curtas em alta, em meio à leitura de que o Copom fará o necessário para atingir a meta de inflação, e as longas em baixa firme, acompanhando o recuo dos rendimentos dos Treasuries um dia após a vitória de Donald Trump na eleição norte-americana.
Durante a tarde, notícias na imprensa de que o corte de gastos do governo Lula poderia ficar entre 10 bilhões e 15 bilhões de reais chegaram a pressionar a curva de juros e o , com o mercado avaliando que as cifras seriam menores que o necessário. A informação, no entanto, foi desmentida oficialmente pelo governo, que segue sem dar pistas sobre o montante a ser anunciado.
No fim da tarde, a taxa do DI para janeiro de 2025 — que reflete as apostas para a Selic no curtíssimo prazo – estava em 11,386%, ante 11,354% do ajuste anterior. Já a taxa do contrato para janeiro de 2026 marcava 13,025%, em alta de 8 pontos-base ante o ajuste de 12,942%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 12,77%, em queda de 11 pontos-base ante 12,878% do ajuste anterior, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 12,66%, em baixa de 11 pontos-base ante 12,774%.
As taxas curtas sustentaram leves ganhos desde mais cedo, na esteira da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central na véspera, que elevou a taxa Selic em 50 pontos-base, para 11,25% ao ano.
Mais do que a decisão em si, que era largamente esperada, profissionais do mercado destacaram o compromisso do colegiado com o atingimento do centro da meta de inflação, de 3%.
“O BC indicou que será hawk (duro com a inflação) e fez comentários a respeito do fiscal. Ele passou a mensagem de um BC forte, independente e técnico, indicando que pode aumentar a Selic mais do que se esperava, por isso o (juro) curto sobe”, comentou Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research. “Isso também reduz um pouco o prêmio de risco no longo”, acrescentou.
A parte longa da curva também era influenciada pela baixa firme dos yields dos Treasuries, depois de atingirem os maiores níveis em vários meses na sessão anterior. Investidores ajustavam posições para aproveitar os preços mais baixos dos títulos e voltar ao mercado, passada a incerteza sobre o resultado eleitoral nos EUA.
À tarde, a CNN Brasil noticiou que o pacote fiscal do governo Lula pode ficar entre 10 bilhões e 15 bilhões de reais — uma cifra bem abaixo do quem vem sendo citado por profissionais do mercado ouvidos nos últimos dias pela Reuters, que calculam a necessidade de um esforço em torno de 50 bilhões de reais.
A notícia foi mal-recebida e as taxas de alguns vencimentos renovaram máximas, assim como o dólar ante o real. Às 14h54, sob o efeito da notícia, a taxa do DI para janeiro de 2027 atingiu o pico de 13,13%, em alta de 10 pontos-base ante o ajuste da véspera.
O desmentido oficial do governo, divulgado logo depois, fez as taxas perderem força. O Ministério da Fazenda informou que não procediam as informações veiculadas na mídia sobre a suposta análise das duas propostas para a área fiscal.
“É importante ressaltar que tal informação não corresponde ao que vem sendo debatido entre a equipe econômica, demais ministérios e a Presidência da República”, disse a Pasta em nota.
Também durante a tarde, o Federal Reserve cortou sua taxa de juros em 25 pontos-base, para a faixa entre 4,50% e 4,75%, como era largamente esperado pelo mercado. A instituição disse que a atividade econômica norte-americana continuou a se expandir em um ritmo sólido e que os riscos para inflação e emprego estão “mais ou menos equilibrados”.
Às 16h37, o rendimento do Treasury de dois anos–que reflete apostas para os rumos das taxas de juros de curto prazo– tinha queda de 5 pontos-base, a 4,22%. Já o retorno do título de dez anos –referência global para decisões de investimento– caía 7 pontos-base, a 4,351%.