Uma mescla de aclamados AAA de ação e aventura na terceira pessoa que podia compensar a falta de originalidade com uma boa história e cenas empolgantes, mas não o consegue. Uma aventura Star Wars de ação e aventura devia deixar-nos fascinados e entretidos, não indiferentes.
Star Wars Outlaws da Ubisoft Massive Entertainment chega numa altura muito pertinente nesta nossa tão adorada indústria dos videojogos. Vivemos numa era na qual o desenvolvimento AAA está envolto em elevada controvérsia, mais criticado do que nunca por jogar demasiado pelo seguro, com medo de correr riscos que podem afastar jogadores, o que pode ser demasiado perigoso para projetos tão caros. Isto é compreensível, mas também desperta queixas de projetos demasiado familiares, sem os tão empolgantes rasgos de brilhantismo que desejamos.
Sim, nem todos os jogos precisam inovar, não há problema nenhum em copiar o trabalho de outros, o mais importante é mesmo apresentar experiências capazes de despertar eletricidade em quem o joga. Seja pelos gráficos, pelo gameplay, banda sonora, história, personagens, atividades ou uma qualquer mecânica, a junção de vários destes elementos é ainda melhor, o que mais queremos é sentir que somos entretidos, que investimentos bem o nosso tempo. Muitos jogos frequentemente precisam de acertar num destes para conquistar as boas graças dos jogadores pois raramente temos os preciosos épicos que acertam em várias ou todas, mas depois temos os AAA receosos de falhar.
Star Wars Outlaws poderá ser descrito como o expectável AAA, um jogo grandioso, em escala e conteúdo, que copia outros e com medo de correr riscos para não alienar as massas casuais que serão atraídas pelo seu nome. No entanto, mesmo como aposta segura que copia experiências existentes, a Massive poderia ter feito muito melhor do que aquilo que fez. É precisamente o desperdiçar de tamanho potencial que realmente desilude neste Star Wars Outlaws. Foi-se a era do AAA empolgante e eletrizante, entramos na era do AAA seguro e competente. Mas o que acontece quando nem sequer é realmente competente? Entramos na era do AAA estéril?
Uma narrativa e elenco que não cativam
Enquanto AAA cinematográfico no universo Star Wars, Outlaws não se foca nos sabres de luz, mas sim no submundo da galáxia. Se Star Wars Jedi é o realizar da fantasia Luke Skywalker em videojogo, Outlaws é a oportunidade de te transformares numa espécie de Han Solo. Aqui é mais propriamente numa mulher chamada Kay Vess, acompanhada pelo pequeno animal e amigo chamado Nix, que terá de navegar por uma série de assaltos e relações que a colocam no meio de um acontecimento de uma escala muito superior.
A Massive tenta apanhar-te com ganchos emocionais, empolgar-te com sequências cinematográficas e conquistar-te com um elenco tão multifacetado quanto o gameplay, mas não esperes daqui um Ocean’s Eleven. O elenco de Outlaws é desprovido de carisma, a narrativa não conquista e mesmo com a inevitável associação a elementos dos filmes ou séries, este Star Wars dificilmente ficará na tua memória.
Quer penses em Lara Croft ou Han Solo como a referência para Kay Vess, a protagonista de Outlaws jamais consegue um semblante do carisma que permite a essas duas lendas brilhar. A Massive tenta contar a história do bom bandido, como já vimos tantas vezes, mostrar que Kay é vítima das circunstâncias e empurrada pela vida para as situações, mas que o seu coração é bom, mas não consegue de forma que te faça preocupar sequer com o que lhe acontece. É um enredo de pouco apelo e até altamente previsível.
Gameplay competente, mas pouco empolgante
É quase impossível jogar Star Wars Outlaws e não pensar na recente trilogia de Tomb Raider. Este é um jogo no qual Kay Vess se revela uma espécie de Lara Croft, que por muito que não queira, dá sempre por si metida no meio de problemas, com aliados em perigo e inúmeros locais para explorar. Seja nos níveis lineares da campanha ou nos 4 planetas que podes explorar (cada um dividido entre 4 a 5 áreas controladas pelas diversas facções ou Império), terás um gameplay de ação e aventura muito similar à recente trilogia Tomb Raider, mas adaptado para Star Wars.
De várias formas, Outlaws parece uma espécie de “Modern third-person action adventure AAA: the game”, com ideias que já conhecemos. A Massive mostra que soube copiar e adaptar para Star Wars o trabalho de outros, mas esqueceu-se de criar algo engenhoso, empolgante, viciante, que te deixe sem vontade de parar de jogar. As coisas ficam ainda mais complicadas quando empresta ideias da série The Division (como humanos que são esponjas de balas, mesmo com tiros na cabeça).
Quando te coloca nas missões de campanha, a linearidade cinematográfica consegue ocasionais bons momentos. Mesmo que o gameplay seja previsível (tal como a narrativa) e seguro (raramente corre riscos ou revela capacidade para te empolgar) consegue divertir. A maioria dos problemas está nos confrontos, nas secções aos tiros que frequentemente descambam para o patético devido à IA e bugs. A Massive conseguiu afinar bem os controlos de Kay Vess, o elemento Nix (a pequena criatura a quem podes dar ordens e até pedir ajuda nos combates), e conseguiu um elemento muito interessante com o stealth, mas existem muitos outros detalhes que o prejudicam.
Se não quiseres seguir a campanha principal em linha recta, podes optar por explorar os 4 planetas à procura de segredos (podes desativar o mapa e minimizar o HUD para maior imersão), tens imensos contratos de facção para cumprir, e tens ainda diversas personagens que te dão desafios que permitem desbloquear mais habilidades. Há mesmo muito para fazer em Star Wars Outlaws e facilmente podes jogar mais de 40 horas. Se investires o teu tempo no jogo, terás mais histórias opcionais para descobrir, melhor equipamento, mais dinheiro, e até a mota podes melhorar. Não posso deixar de dizer que é divertido andar com a mota.
Um dos melhores detalhes no gameplay é como a Massive te força a escolher as missões a pensar na relação com cada facção. Isto tem impacto no gameplay pois ao entrar numa zona controlada por uma facção específica, isso pode tornar as coisas mais fáceis ou difíceis. Uma missão numa região ou local controlados por uma facção em bons termos significa que não és atacado. Pelo outro lado, se estiveres na lista de inimigos de uma facção, disparam para ti assim que te vêm a passar. Isto também se aplica ao Império, que te coloca na lista de procurados de acordo com as diabruras que aprontas. Se fizeres demasiadas, serás perseguido por Troopers muito mais temíveis.
Ao invés de figurar como uma majestosa experiência de ação e aventura Star Wars, Outlaws da Ubisoft parece uma lista de “já vi isto, já joguei isto e com melhor qualidade”. A falta de originalidade não é problema, mas os diversos problemas que se intrometem no caminho da diversão em conjunto com os problemas técnicos, IA ou bugs, já prejudicam a sério. Com locais tão ricos e ocasionalmente belos (na versão PC, com equipamento poderoso certamente são, e muito), esta aventura com rufias aos tiros em Star Wars tinha o direito de ser muito mais empolgante e satisfatória.
Combater no espaço é elemento que realmente o diferencia
A Trailblazer, a nave que Kay rouba e a coloca no meio de toda uma encrenca de proporções que jamais imaginaria, é um dos elementos mais divertidos de Star Wars Outlaws, nos quais é alcançado aquele tão importante efeito que tens aqui algo que nenhum outro jogo te consegue dar. Pelo menos com esta qualidade pois as secções de combate no espaço estão muito bem conseguidas. No que diz respeito ao controlo de Kay e da nave, a Massive acerta em cheio. Mostra que afinou bem o movimento, velocidade das ações e na resposta de ambos.
Após passar algum tempo a executar missões opcionais para ganhar dinheiro e comprar melhor equipamento, enquanto tentava executar os desafios para obter mais habilidades, dei por mim a escolher missões relacionadas com a nave, a querer explorar mais do espaço. Jogar com a Trailblazer é divertido, muito mais do que controlar Kay, é o elemento que realmente diferencia Outlaws e está bem conseguido.
Não é o primeiro jogo de combate no espaço, nem sequer o primeiro jogo Star Wars de combate no espaço, mas por momentos voltei aos tempos em que joguei Star Wars Rogue Squadron 2 na Gamecube. A Trailblazer e o gameplay no espaço é o elemento que realmente dá brilho ao trabalho da Massive, que revela o cuidado da equipa para afinar os controlos, para que tudo se sinta perfeito. Ao mesmo tempo, também mostra os efeitos das missões extra, desafios e recompensas que podes obter para sentir desejo de continuar a jogar mais tempo.
Mesmo que na maioria do tempo este Star Wars multifacetado não pareça ostentar capacidade para te agarrar, isso muda quando jogas com a Trailblazer e só tenho pena que seja praticamente esquecida nas missões de história, o que te força a apostar nela por vontade própria. Acredito que serás recompensado.
Bugs, IA e o destruir da imersão
Para um jogo de ação e aventura cujo design alterna entre linear nas missões de história e mundo aberto no resto, inserido no universo Star Wars, o feito mais incrível de Outlaws parece mesmo a sua incapacidade para apresentar momentos empolgantes que fiquem na memória. As missões da história principal raramente conseguem aproximar-se do que consideraríamos épico e até fica a estranha sensação que quanto mais progrides na história principal, pior ficam as missões e a própria narrativa. No entanto, o pior de tudo é mesmo o ridicularizar de qualquer semblante de imersão devido aos bugs e à inteligência artificial.
Jogada em linha reta, a campanha pode ser terminada em cerca de 18h, mas como é de esperar, o melhor é investir nas atividades opcionais para melhorar o armamento de Kay. Isto significa muito tempo em mundos abertos vazios, em muitas missões estilo “fetch quest”, mas andar na mota pode ser muito divertido. Se te focares na campanha, sem melhorar o equipamento de Kay ou apanhar as melhores vestimentas, terás uma experiência que se pode tornar frustrante nos últimos combates muito mal desenhados (quando o jogo parece copiar The Division, sim, esponjas de balas e tudo), mas a IA e os bugs são pior do que isso.
Isto é algo pessoal, mas adoro a série Assassin’s Creed, joguei todos, mas também joguei muitos jogos da Ubisoft. Em nenhum deles apanhei tantos bugs quanto em Star Wars Outlaws. Em 120h de Assassin’s Creed: Odyssey não tive tantos bugs quanto em 18h de Outlaws, por exemplo. Isto inclui erros que fazem o jogo encerrar e sair para o menu da PS5 (a versão que joguei), erros gráficos como inimigos entrar pelas paredes e outros inofensivos, mas que quebram a imersão.
Junta a isto uma inteligência artificial inimiga incompetente e raramente terás diversão sem encorrilhar a testa. Foi raro o tiroteio em que não me senti pateta porque algo de errado ocorreu e um inimigo não se portou com lógica. Aliados e adversários que ficam parados, sem disparar, adversários que nem olham para ti enquanto disparam e outros problemas derrubam qualquer efeito de imersão que o gameplay furtivo pode alcançar. Até mesmo apostar em stealth resulta em falhas na IA porque os inimigos são inconstantes na detecção do jogador.
Grafismo que deixa a deseja e não esperado de um AAA
Star Wars Outlaws é suposto representar os AAA, os mega projetos da indústria, um jogo que acompanhamos durante vários meses e anos ao longo de trailers e amostras gameplay com gráficos que despertam entusiasmo. São daqueles jogos que até podem não ter nada de novo, mas despertam aquele desejo de os ver a correr em toda a glória para ajudar a justificar aquela grande TV 4K HDR que compramos. Infelizmente, a versão PlayStation 5 está longe de conseguir alcançar a qualidade que foi mostrada até agora.
O contacto que tive com Star Wars Outlaws antes do lançamento e que me deixou incrivelmente empolgado foi jogado num PC com uma fenomenal qualidade gráfica, muito distante daquela que encontrei ao jogá-lo na consola. Diria até que as 4h que joguei antes do lançamento foram as melhores horas de Star Wars Outlaws pois o resto do jogo apenas tem um momento (nível de história) capaz de igualar. Mas é nos gráficos que dei por mim verdadeiramente surpreendido, pela negativa.
Jogar o Modo Qualidade a 4K significa jogar a 30fps com artefactos a poluir o ecrã, o que prejudica a qualidade de imagem, enquanto o Modo Desempenho coloca o alvo nos 60fps, mas reduz significativamente a qualidade de imagem. Podes optar pelo modo Qualidade Equilibrado a 40fps, mas somente em ecrãs compatíveis com VRR. Após experimentar o modo a 60fps, não consegui voltar a outro, uma vez que permite controlar Kay com precisão e tirar melhor proveito deste gameplay competente. No entanto, a qualidade de imagem regista uma queda fortíssima.
A resolução de Star Wars Outlaws em Modo Desempenho parece extremamente baixa, a falta de nitidez forma uma imagem com aquela sensação que está um véu por cima do ecrã, ao ponto de muitos elementos nos cenários nem apresentarem texturas e algumas faces de NPCs surgirem totalmente desfocadas. É verdadeiramente bizarro e tudo aquilo que jamais imaginaríamos ver num projeto AAA de grande orçamento. A queda na resolução e a falta de nitidez resultam em cenários desprovidos de muitas texturas e na maior parte do tempo custa acreditar que não estou a jogar numa PS4.
Conclusão
Star Wars Outlaws é o tipo de experiência que dá mau nome aos AAA. É um jogo desprovido de originalidade, mas isso jamais foi impedimento para a diversão, com graves problemas de imersão devido aos frequentes erros e má inteligência artificial, que fica ainda mais frágil ao não conseguir empolgar ou entreter tanto quanto os outros AAA singleplayer populares aos quais foi tirar ideias. Star Wars Outlaws também falha ao apresentar poucas missões empolgantes de história e por estar desprovido de bosses ou cenas realmente frenéticas.
Prós: | Contras: |
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