A SpaceX recebeu na última quinta-feira (22) a autorização para retomar os voos do Starship, o maior foguete do mundo –e o mais propenso atualmente a explodir sobre o Caribe.
Gracejos à parte, os últimos dois voos, realizados em janeiro e março, tiveram sabor agridoce. Enquanto o primeiro estágio do veículo fez retornos espetaculares à plataforma, o segundo estágio, nas duas ocasiões, explodiu pouco depois do acionamento de seus motores. O resultado foram vídeos espetaculares de detritos caindo sobre ilhas caribenhas –felizmente sem danos à vida ou a propriedades.
A nova autorização veio após a conclusão da investigação dos problemas com o oitavo voo. Mas a FAA (agência de aviação civil e lançamentos comerciais de foguetes), que costumava soar tigrona com a SpaceX, dessa vez veio na versão gatinha. “A FAA conduziu uma abrangente revisão de segurança do Voo 8 do Starship da SpaceX e determinou que a companhia satisfatoriamente respondeu às causas da falha e, portanto, o veículo Starship pode voltar aos voos.”
O documento não especificou qual teria sido o problema, nem que medidas a companhia de Elon Musk tomou para resolvê-lo. “A FAA determina que a SpaceX cumpre todos os rigorosos requisitos ambientais e de segurança, entre outros.”
Da parte da empresa, a falha foi descrita apenas como um “evento energético” que causou a perda de vários motores Raptor e, com eles, o controle sobre o veículo, levando à autodestruição. Não foi muito diferente do fim do voo anterior, o que leva à hipótese de que talvez haja um problema mais grave com o design da segunda versão do Starship, maior que a primeira, e fez sua estreia justamente no voo malfadado, repetindo a dose de fracasso pouco menos de dois meses depois. Diz a SpaceX que, apesar da similaridade, a falha nos dois casos foi diferente. E, para evitar um desfecho similar no próximo voo, realizou testes exaustivos dos motores em solo.
Será que agora o problema está resolvido? A SpaceX projeta nova decolagem para esta semana, possivelmente já na terça-feira (27). E até o primeiro estágio deve trazer alguma emoção, já que será a primeira vez que a empresa tenta reutilizá-lo, como já faz rotineiramente com seu foguete Falcon 9. Para contemplar todas essas possibilidades, na semana passada a FAA atualizou a licença da SpaceX para o Starship, autorizando até 25 voos por ano a partir de Starbase, em Boca Chica, no Texas, e estendendo as áreas de perigo para aeronaves no trajeto do voo de 1.640 km para 2.960 km. Isso implica mais desvios de aviões, sobre uma área maior, para contemplar as necessidades do teste.
Depois de terem vencido os russos na primeira corrida para a Lua, em 1969, os EUA mais uma vez correm contra o tempo, desta vez para bater os chineses, no primeiro pouso lunar tripulado do século 21. O Starship é uma peça fundamental do programa Artemis, com que a Nasa espera retomar a exploração humana da Lua, mas ele ainda tem um longo caminho a percorrer para demonstrar não só sua confiabilidade, como também sua versatilidade (com abastecimento em órbita e capacidade de pouso lunar), para que possa atender à missão Artemis 3, da Nasa, marcada –até o momento– para 2027. A China, por sua vez, pretende levar seus primeiros astronautas à Lua em 2029.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, em Ciência.
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