As mortes no trânsito atingiram em 2024 seu maior patamar em nove anos, tanto na capital quanto no estado de São Paulo. O número de vítimas em acidentes de janeiro a novembro já supera a maior parte das estatísticas anuais desde o início da série histórica em 2015, segundo o Infosiga, sistema de monitoramento de letalidade no trânsito do governo paulista.
Foram 5.594 mortes ao longo de 11 meses nas estradas, ruas e avenidas do estado. Isso significa mais de 16 mortes por dia, em média. Além disso, representa aumento de quase 15% na quantidade de vítimas, em comparação com o mesmo período do ano passado.
A cidade de São Paulo teve 935 mortes de janeiro a novembro deste ano —em média, mais de duas mortes por dia—, um crescimento de quase 13%. Isso ocorreu apesar do aumento na quantidade de faixas azuis exclusivas para motocicletas em avenidas, que é a principal iniciativa da gestão Ricardo Nunes (MDB) no combate às mortes no trânsito.
Hoje o município tem um total de 212 km de vias com faixas exclusivas para motociclistas. No início do ano, eram pouco mais de 60 km com a sinalização.
Os motociclistas são aqueles que mais morrem em acidentes de trânsito. Segundo o Infosiga, um total de 2.390 motociclistas morreram no trânsito em todo o estado, ou mais de 40% do total de mortes. Em seguida estão os pedestres (1.273 mortes no período) e os ocupantes de automóveis (1.232 mortes).
Na capital, apesar da aposta nas faixas azuis, a quantidade de motociclistas mortos cresceu de 318 para 384 desde o ano passado. No ano passado, a cidade já havia chegado ao maior número de mortes no trânsito desde 2015.
A grande maioria das vítimas do trânsito em São Paulo são homens entre 20 e 29 anos —foram 1.082 vítimas com esse perfil.
O ano foi marcado por dois casos de morte no trânsito que foram provocadas por motoristas de carro de luxo. Em 31 de março, o motorista Fernando Sastre de Andrade Filho, 24, bateu seu Porsche no carro do motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana, 52, que morreu.
Sastre foi preso preventivamente e aguarda o julgamento do caso. Ele é réu sob acusação de homicídio doloso qualificado e lesão corporal gravíssima.
Quatro meses depois, um motociclista morreu após ser atingido por um carro, também um Porsche. Neste caso, testemunhas disseram que o motociclista teria batido no retrovisor do carro de luxo e que o condutor havia discutido com ele, e que a colisão ocorreu em seguida.
Questionado, o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) destacou a queda no número de mortes em novembro, na comparação com o mesmo mês de 2023, apesar da piora no acumulado do ano.
“Os últimos dados do Infosiga mostram que, quando comparados os meses de novembro de 2024 e 2023, houve atual redução no total de óbitos no Estado (-1,7%), nos óbitos de pedestres (-14,5%) e nos óbitos de ocupantes de automóveis (-4,7%)”, destacou o Detran.
“Na capital, considerando o mesmo período, há redução geral nos óbitos (-27%), nos óbitos envolvendo motociclistas (-31%), automóveis (-25%) e pedestres (-31%).”
Na contramão desses índices, o número de mortes de ciclistas em todo o estado cresceu 18% em novembro, na comparação com o mesmo mês de 2023, e as mortes de motociclistas aumentou 8%.
O Detran informou que reforçou as campanhas educativas em 2024, com 16 iniciativas realizadas desde o ano passado. Além disso, afirmou que intensificou as operações para coibir motoristas que dirigem após a ingestão de bebidas alcoólicas.
O número de operações “cresceu 23,8%, assim como a quantidade de motoristas fiscalizados, que subiu 63,5%, se comparados os períodos de janeiro a novembro de 2023 e de 2024”, disse o órgão.
A SSP (Secretaria de Segurança Pública) informou que o Comando de Trânsito da Polícia Militar fiscalizou mais de 76.197 motocicletas e apreendeu cerca de 10.333 veículos,
Já a prefeitura afirmou que desenvolve várias medidas para ampliar a segurança viária, dentre as quais destacou a faixa azul.
“Para ampliar a segurança dos pedestres, a Prefeitura aumentou o tempo de travessia em mais de 950 cruzamentos da cidade, criou Áreas Calmas com velocidade máxima permitida de 30 km/h, implantou 12 mil faixas de pedestres e reduziu o limite de velocidade de 50 para 40 km/h em 24 vias”, informou a gestão Nunes.
“A CET aplicou, desde 2021, mais de R$ 185 milhões em atividades destinadas exclusivamente à educação no trânsito. Somente no ano de 2023, foram R$ 54 milhões investidos em educação, representando um aumento de 30% em relação a 2022.”