Um estudo com cerca de 56 mil estrelas sugere que o Sol pode produzir uma superexplosão solar em média uma vez a cada século. Trata-se de uma estimativa bem mais elevada do que as produzidas por outros métodos, o que traz consigo alguma preocupação. Mas também não perca o sono por isso.
Sabemos que o Sol produz ocasionalmente eventos explosivos capazes de afetar as coisas na Terra. No mais das vezes, esses eventos produzem as belas auroras, nos polos terrestres, e nada mais. Contudo, em algumas circunstâncias, o evento pode ser energético a ponto de afetar severamente nossas redes elétricas em solo e danificar satélites em órbita.
Trata-se de uma ocasião rara, mas que já merece preocupação. Em 1859, tivemos o principal exemplo de uma ocorrência perigosa dessas. Durante o chamado evento Carrington, uma das mais violentas tempestades solares dos últimos 200 anos, a rede de telégrafos colapsou em boa parte do norte da Europa e da América do Norte. Se acontecesse hoje, um novo Carrington poderia causar estragos bem maiores, já que temos dependência muito maior de eletricidade agora que em meados do século 19.
O novo estudo, contudo, diz respeito a algo cerca de cem vezes mais poderoso do que o que ocorrera no evento Carrington –são as chamadas superexplosões estelares. No Sol, os astrônomos ainda não observaram uma dessas. Mas estudos que usam como referências evidências geológicas (como enriquecimento de carbono-14 em anéis de árvores antigas) chegaram a indicar pelo menos cinco eventos solares extremos desses e três outros candidatos nos últimos 12 mil anos.
Isso daria uma média relativamente confortável de um evento a cada 1.500 anos, o que explicaria por que a humanidade ainda não viu um pessoalmente com instrumentos astronômicos modernos. Mas um grupo internacional de astrônomos decidiu buscar a resposta nas estrelas –literalmente.
Analisando dados do telescópio espacial Kepler, da Nasa, a equipe que tem como primeiro autor Valeriy Vasilyev, do Instituto Max Planck, na Alemanha, se concentrou na observação de 56.450 estrelas similares ao Sol, monitoradas durante cerca de quatro anos, entre 2009 e 2013. Variações do brilho das estrelas indicaram a ocorrência de 2.889 superexplosões estelares, cem a mil vezes mais potentes que as típicas explosões solares, em 2.527 estrelas diferentes.
Com os números, os pesquisadores puderam concluir que, em média, estrelas similares ao Sol produzem uma dessas superexplosões a cada século –frequência bem maior do que a indicada por evidências indiretas na Terra. “Ficamos muito surpresos de que estrelas como o Sol sejam dadas a essas superexplosões frequentes”, comentou Vasilyev.
E, claro, não há, ao menos a priori, razão para achar que o Sol fugiria muito dessa média. Os resultados foram publicados na revista Science e ajudam os cientistas na difícil tarefa de aprimorar modelos de comportamento solar, a fim de prever esses eventos mais intensos e, com isso, viabilizar a proteção adequada de nossos sistemas elétricos e satélites.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, em Ciência.
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