Vengeance é a versão definitiva deste esforço da Atlus. Um JRPG que permanece incrivelmente exigente, com constantes armadilhas e cuidadosa gestão, mas com imensa novidade e refinamento geral que tornam muito mais gratificante explorar estes locais desolados.
Shin Megami Tensei 5: Vengeance chegou como uma versão muito melhorada e expandida do jogo original, lançado em 2021 na Nintendo Switch, que refina de formas muito pertinentes essa agressiva experiência da Atlus. Ao longo dos últimos anos, a companhia conquistou maior sucesso com a série Persona (que deriva desta Shin Megami Tensei) devido a elementos como estilo, profundidade e gameplay, mas também porque foi afinada para exigir menos do jogador em termos de dificuldade. Agora, que tem uma maior audiência, a Atlus quer convidá-los para o castigo que os veteranos bem conhecem e adoram.
Tal como na versão original, Vengeance mostra uma Atlus numa missão para equilibrar o preservar da identidade da série com concessões para se adaptar aos tempos atuais, mas vai ainda mais longe, sem jamais comprometer a essência da série. É percetível que a equipa estudou o feedback dos jogadores sobre o jogo e percebeu onde podia melhorar a experiência de jogo. O melhor de tudo é que o fez sem comprometer a essência da experiência, que continua a transmitir aquela sensação que se começas a cometer muitos erros na gestão da equipa, estás tramado.
Shin Megami Tensei 5: Vengeance chega com o objetivo de expandir a história, existem agora duas rotas (a original e a nova) que inicialmente até podem ser muito similares, mas revelam grandes diferenças importantes em várias áreas. O melhor é mesmo jogar a nova rota (Vengeance) para desfrutar de um melhor jogo, uma vez que a Atlus se esforçou para melhorar ou introduzir novidades que tornam a narrativa mais compreensível. Além disso, existem novas personagens e eventos que tornam tudo ainda mais interessante.
Com novas zonas, cenas, personagens, demónios, refinamentos e mecânicas extra, Shin Megami Tensei 5: Vengeance é facilmente superior ao original, mas a Atlus trabalhou para melhorar o desfrutar da experiência geral sem cortar na dificuldade, aqui não tens qualquer “hand-holding”. Permanece um JRPG por turnos “hardcore”, que vai exigir a tua total atenção, especialmente nas batalhas e tudo o que está relacionado com elas.
Punitiva progressão estratégica
Em Shin Megami Tensei 5: Vengeance, vais caminhar pelos mesmos locais desolados (graficamente permanecem simples e poucas melhorias exibem), mas existem novas criaturas (algumas delas humanas que se juntam à equipa), novas missões opcionais muito mais gratificantes de completar devido às recompensas, novas mecânicas para aproveitar melhor os espaços vazios, mas o principal permanece o sistema de combate. É por turnos e ao bom estilo de Atlus, focado em descobrir a fraqueza dos inimigos para os derrotar. No entanto, não te podes esquecer que tens de convencer os demónios a entrar para a tua equipa e as negociações, também foram expandidas, podem levar-te ao desespero.
Para descobrir as fraquezas, entras num jogo de tentativa e erro, mas em Shin Megami Tensei 5: Vengeance os erros são caros, por isso tens de ter cautela e construir uma equipa com cuidado, gradualmente tentando convencer criaturas mais poderosas. Isto é importante pois precisas delas para a mecânica de fusão que permite obter criaturas com diversas combinações de elementos, muito útil para as batalhas mais intensas.
O refinamento na experiência geral está presente em todas as facetas de Shin Megami Tensei 5: Vengeance, o mapa tem novos espaços aos quais podes aceder, a pequena fada que te acompanha revela mais segredos, existem mais missões opcionais que se tornam gratificantes com melhores recompensas, e agora podes gravar a qualquer momento, entre outros inúmeros exemplos, mas a essência é a mesma: austeridade.
Não te adianta de nada entrar num ciclo de grind para subir o nível do protagonista e dos principais membros da equipa, sejam os novos humanos ou os demónios que já convenceste, tens de constantemente convencer outros demónios. Isto vai-te permitir expandir o leque de fusões possíveis, para obter novas criaturas e algumas muito poderosas, com combinações personalizadas de ataques de elemento ou buffs/debuffs para respeitar devidamente os preciosos 3 espaços adicionais que tens na tua equipa. Os bosses em particular vão-te castigar a sério e exigir respeito, exigir que te esforces para melhorar a equipa com novas fusões e combinações de ataques de elemento.
Em nome do equilíbrio da experiência, não podes recrutar ou criar demónios de nível superior ao teu, o que te obriga a treinar. Isto não é problema pois o grind significa ganhar mais dinheiro, necessário para comprar itens de cura ou recuperar a vida aos membros da equipa que tombaram. Além disso, muitas criaturas pedem o precioso dinheiro (Macca) para entrar na equipa, por isso todos os elementos fazem parte de um ciclo estratégico de mecânicas que deves respeitar.
Executar missões secundárias permanece obrigatório para ajudar a subir de nível. Diria que nem são opcionais, tendo em conta como foram melhoradas as recompensas, são obrigatórias. O melhor de tudo é sentir que apesar das novidades, das melhorias no design e conteúdo, e nos refinamentos de diversas mecânicas, nenhuma delas foi usada para tornar o jogo mais fácil.
A arte de refinar
Shin Megami Tensei 5: Vengeance relembrou-me rapidamente o quanto senti que o jogo original parece adorar castigar-te. Mesmo na dificuldade Normal, a série permanece igual a si mesma: bizarra, difícil, exigente para a tua atenção, e sem simplificação de mecânicas para se tornar artificialmente mais fácil. Mesmo que a experiência original já seja mais tolerável do que os anteriores, Vengeance foi expandido e melhorado, mas o grindind permanece intenso, a progressão poderá sentir-se na mesma lenta, mas esta versão mostra um resultado final muito superior.
Com o aumento na resolução ao jogar numa consola mais poderosa ou PC, com desempenho a 60fps, loadings incrivelmente rápidos, e outras melhorias gráficas (joguei numa Xbox Series X), a Atlus reforça a sensação que tem nas mãos um grande trunfo na era moderna dos JRPGs. Shin Megami Tensei 5: Vengeance reforça ainda mais a sensação que a Atlus se esforçou imenso para equilibrar o historial da história com as tendências atuais. Não é um jogo para consumo rápido, para abordar com uma postura casual a desejar resultados imediatos. Vai exigir o teu tempo, vai conquistar o teu respeito.
Agora podes gravar a qualquer momento, mas a viagem rápida continua disponível somente em pontos específicos, a moeda continua um bem extremamente precioso, o grindind é a palavra de ordem, e a animosidade da experiência não foi banalizada com as melhorias efetuadas à experiência geral.
Lembro-me de sentir que o original parece um jogo que detesta o jogador, que deseja causar desespero em quem percorre estes locais envoltos em tragédia. Parte da gestão que te é ensinada pelo design reforça a dificuldade da experiência geral, mas outras nem tanto. As novidades e refinamentos em Shin Megami Tensei 5: Vengeance apenas engrandecem a sua exigência, ao ponto de conquistar o teu respeito. Assim que o comecei a jogar, pensei logo que ‘isto é tudo o que queria desde o primeiro instante com o original’. Vê-lo a correr a 4K e a 60fps com estas melhorias e novidades, sem estragar a essência original é tudo o que podia pedir de uma versão expandida.
Dificuldade expandida
Para quem colocou dezenas de horas na versão original na Nintendo Switch, é muito difícil recomendar novamente o jogo, mas a verdade é que Shin Megami Tensei 5: Vengeance é a versão definitiva, o título que a Atlus devia ter lançado em novembro de 2021. É um JRPG por turnos incrivelmente austero, muito profundo, com diversas mecânicas que te vão desafiar a todo o instante, mas agora com melhorias gerais que o tornam menos punitivo de forma benéfica. Shin Megami Tensei 5: Vengeance inclui imensas novidades e refinamentos que o tornam num JRPG de respeito.
Prós: | Contras: |
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