A cidade de São Paulo acumula o maior volume de pedidos de poda ou remoção de árvores em calçadas e praças sem resposta da prefeitura em oito anos, segundo análise da Folha sobre os registros da central de serviços 156.
Quedas de troncos e galhos sobre a rede elétrica durante vendavais foram a causa de dois grandes apagões recentes na capital paulista, um em novembro de 2023 e outro em outubro deste ano.
Até o terceiro trimestre deste ano, a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) tinha 7.500 solicitações em aberto, representando 28% das 26,8 mil ocorrências no período.
É a maior quantidade de ocorrências para o mesmo intervalo desde 2017, no exercício do ex-prefeito João Doria (sem partido), quando 8.200 pendências relacionadas a árvores em locais públicos aguardavam resposta. O número representava 27% das 29,9 mil requisições anotadas até o terceiro trimestre daquele ano.
Os dados extraídos pela reportagem representam uma amostra do total de queixas da população. Como os registros da prefeitura não filtram os casos em que uma mesma árvore provocou diversas chamadas ao 156, a reportagem considerou apenas um pedido mensal por raio de 20 metros em calçadas ou praças no mesmo CEP. Foram excluídas também todas as requisições para áreas privadas.
O método tenta aproximar ao máximo o número de pedidos ao de ocorrências reais em locais onde a execução do serviço é de responsabilidade da prefeitura.
Em nota, a gestão Nunes afirma não reconhecer a metodologia usada pela Folha.
A administração Nunes diz ser de 90% o seu índice de resposta para as solicitações de podas de árvores registradas pelo 156 de 2021 a 2024, considerando períodos de janeiro a setembro. Na regra aplicada pela reportagem o índice de finalização sobe para 92%.
A prefeitura também diz ter aumentado em 22% o seu índice de pedidos finalizados na comparação com o quadriênio anterior, finalizando 181 mil dos 200 mil pedidos recebidos nesse período.
Na metodologia aplicada pela Folha, o resultado mostra que o mandato iniciado por Bruno Covas (PSDB) e continuado por Nunes melhorou em 9% o seu índice de finalização de pedidos novos –há menos de um ano no sistema–, passando de 98,4 mil, na gestão Doria/Covas, para 107,2 mil, na atual administração.
Mas o resultado da atual prefeitura fica negativo em 4,7% na comparação com a anterior se forem incluídos no cálculo o atendimento a pedidos antigos –que ingressaram no sistemas em anos anteriores ao da finalização.
Enquanto a gestão Doria/Covas finalizou 113 mil ocorrências, a administração Covas/Nunes encerrou 107,7 mil.
A prefeitura também afirma ter reduzido em 89% o tempo médio de atendimento para poda, passando de 507 dias em média, no ano de 2017, para 54 dias, neste ano. Além disso, afirma ter podado 627.734 árvores desde 2021, atingindo uma média diária de 454 exemplares. Os dados estão no sistema interno de zeladoria da prefeitura que, diferente do 156, não é aberto ao público e não pôde ser consultado pela Folha.
Sobre as ocorrências relacionadas a apagões, a prefeitura afirma haver desde 2020 convênio firmado com a Enel para que a concessionária realize o manejo de árvores em contato com a fiação.
Segundo a gestão Nunes, em 2024, a Enel pediu autorização para podar 240,4 mil árvores, mas executou menos de 1% do serviço.
A concessionária não confirma o dado e, em vez disso, afirma que mais de 99% dos pedidos de podas solicitadas pela Prefeitura de São Paulo foram executados ou ainda estão dentro do prazo de 90 dias para conclusão.
A Enel diz ter recebido neste ano, via ofício da prefeitura, 11.300 pedidos de poda. Desse total, 9.400 foram atendidos e 1.800 estão em andamento, dentro do prazo de execução.
Corrida para podar árvores preocupa defensores do verde em SP
Intervenções inadequadas na cobertura arbórea urbana podem resultar em prejuízos para a cidade, como aumento das ilhas de calor, e até mesmo aumentar o risco de quedas, segundo a arquiteta especialista em paisagismo ecológico Marlene Bicalho, integrante do Fórum Verde de São Paulo.
Procedimento antinatural para a árvore, a poda inadequada pode abrir caminho para propagação de patógenos responsável pelo adoecimento e morte da planta, facilitando a queda, diz Bicalho.
Riscos de queda também crescem quando a poda sem a técnica correta desequilibra a estrutura. Ameaça semelhante ocorre quando a raiz, com pouco espaço para crescer em calçadas concretadas, não consegue sustentar o peso da copa. “Quando vemos uma copa, temos de ter em mente que a raiz precisa ser proporcional, mas muitas raízes estão enoveladas por falta de espaço”, comenta.
Bicalho diz ver com preocupação a corrida da prefeitura e da Enel para podar preventivamente o maior número possível de árvores em um momento de crise.
Para reduzir as quedas e manter uma cobertura vegetal adequada, a cidade precisa realizar um inventário arbóreo, com informações sobre espécies, idade e condições fitossanitárias das suas árvores. “Isso iria indicar quais precisam de tratamento urgente, é uma ação planejada, não desesperada, como estamos vendo”, diz.