Um robô que analisou o leito rochoso do Pacífico descobriu um reino de vida animal no subsolo, perto de fontes hidrotermais. O habitat fica em um ponto onde duas das imensas placas que compõem a crosta externa da Terra se encontram
Operado remotamente, o veículo submarino SuBastian se deparou com gigantescos poliquetas Riftia pachyptila e outros invertebrados marinhos, como caracóis e vermes cerdas. Os animais habitavam cavidades dentro da crosta terrestre, a 2.515 metros da superfície.
Todas as espécies eram conhecidas por viver perto dessas fontes, mas não no subsolo.
“Descobrimos vida animal de fontes hidrotermais nas cavidades da crosta oceânica. Agora sabemos que o ecossistema único de fontes hidrotermais se estende para dentro da crosta oceânica”, diz a bióloga marinha Sabine Gollner, do Instituto Real Holandês de Pesquisa Marinha. Ela é uma das líderes do estudo publicado na última terça (15) na revista Nature Communications.
“Até onde sabemos, é a primeira vez que a vida animal foi descoberta na crosta oceânica”, acrescentou ela.
A exploração foi realizada na dorsal do Pacífico leste, uma crista vulcânica ativa no fundo do sudeste do oceano, região aproximadamente paralela à costa oeste da América do Sul.
A parte externa rígida da Terra é dividida em placas colossais que se movem ao longo do tempo em um processo chamado tectônica de placas. A dorsal do Pacífico leste está localizada onde duas dessas placas estão se afastando gradualmente.
Essa área contém muitas fontes hidrotermais, que são fendas no fundo do mar situadas onde a água do mar e o magma sob a crosta terrestre se encontram —magma é a rocha derretida que está no subsolo e lava, a rocha derretida que chega à superfície, incluindo o fundo do mar.
As fontes hidrotermais lançam no mar frio a água superaquecida e rica em substâncias químicas que nutre os microrganismos.
“Os fluidos quentes liberados são ricos em energia —por exemplo, sulfeto— e podem ser utilizados por micróbios, que formam a base da cadeia alimentar”, diz Gollner.
A vida prospera ao redor das fontes, com poliquetas (vermes marinhos) que alcançam três metros de comprimento, mexilhões, caranguejos, camarões, peixes e outros organismos adaptados a esse ambiente extremo.
Os poliquetas, que têm formato tubular, não se alimentam como outros animais. Bactérias que residem em seu corpo, em um órgão em forma de saco, transformam o enxofre da água em energia para o animal.
Os pesquisadores lançaram o SuBastian do navio de pesquisa Falkor, do Instituto Oceanográfico Schmidt. O robô estava equipado com braços que empunhavam um cinzel, utilizado para cavar a crosta e descobrir as cavidades quentes e cheias de fluidos onde os animais foram avistados.
“Nós usamos um cinzel para quebrar a rocha e cavamos cerca de 20 cm. As placas de lava tinham cerca de dez centímetros de espessura, e as cavidades abaixo das placas de lava, em torno de dez centímetros de altura,” afirma a bióloga.
As larvas desses animais podem invadir esses habitats no subsolo, segundo os pesquisadores, em um exemplo de conexão entre o fundo do mar e os ecossistemas subterrâneos.
“Mudou nossa visão sobre a conectividade no oceano,” diz Gollner.