O chão de concreto, quente e cinza, vai perdendo espaço para áreas verdes que equilibram o calor e tornam mais atraente o pátio da Escola Municipal Pedro Ernesto, na Lagoa, na zona sul do Rio de Janeiro.
Próxima de completar 90 anos, a unidade tem tomado uma série de medidas para combater a alta das temperaturas: árvores centenárias passaram a receber mais cuidados e poda, um jardim de chuva foi criado para absorver a água que antes inundava o terreno, e brinquedos de metal e plástico foram trocados por outros feitos de madeira de reflorestamento.
Todas são soluções para enfrentar os perigos do clima extremo. “Esse espaço não é só um pátio, é um respiro no meio da cidade”, disse a diretora Elizabeth Mendes, observando os alunos correndo sob a sombra das árvores.
“A área externa é o nosso desafio. Nossa escola é muito grande, mas sem cobertura. A ideia é cuidar para manter as árvores que são centenárias, mas que começaram a cair por conta das adversidades do tempo. Também estamos plantando novas árvores que, no futuro, vão tornar o espaço ainda mais fresco. E, com o trabalho da horta, entramos no processo para recuperar o solo do pátio”, disse a diretora.
A mudança começou com a reforma do parquinho, em 2019 —antes da mudança, muitas vezes as crianças não conseguiam brincar no local no momento de maior calor.
Além das adaptações físicas, iniciativas como a horta têm se revelado terapêuticas. A diretora cita o exemplo de um aluno atípico que utiliza o espaço para se acalmar em momentos de ansiedade.
A escola atende crianças de 6 a 12 anos, do 1º ao 5º ano do ensino fundamental em horário integral.
A unidade virou um GET (Ginásio Experimental Tecnológico) em agosto do ano passado. É um novo modelo de ensino da rede municipal de educação do Rio, no qual a aprendizagem se baseia em atividades de mão na massa e recursos que promovam a cultura digital.
As soluções climáticas na escola estão mais avançadas do que em muitas outras unidades da rede municipal. Para o secretário de Educação do Rio, Renan Ferreirinha, o assunto é uma prioridade na cidade.
“Temos diversas medidas que são feitas nas nossas escolas para atenuar isso e buscar conscientizar nossos alunos, que vão desde hortas escolares, ao processo de plantio de árvores, e educação das mudanças climáticas”, disse.
Desde junho, a pasta segue o decreto municipal que prevê cinco níveis de calor na cidade. Nos mais altos, os órgãos são orientados a adaptar ações de risco. No caso das escolas, as atividades realizadas em área externa podem ser suspensas ou transferidas para locais internos.
Enquanto isso, na rede particular, algumas instituições já adotaram medidas práticas como cobertura de áreas abertas, jardins verticais e plantio de árvores.
O Colégio Santo Agostinho, que possui duas unidades, criou um espaço sombreado com bancos e mesas sob copas de árvores. Os ginásios das escolas também foram adaptados para práticas esportivas em dias de calor, com ventilação e quadras cobertas.
Apesar dessas iniciativas, 34% das escolas do Rio —tanto públicas quanto particulares— não possuem áreas verdes em seus terrenos, de acordo com o estudo “O Acesso ao Verde e a Resiliência Climática nas Escolas das Capitais Brasileiras”, feito pelo Instituto Alana com dados levantados pelo MapBiomas.
“É preciso desconcretar as escolas e adotar soluções baseadas na natureza para reduzir a temperatura, como acesso a água, sombreamento, ventilação cruzada e natural, planejar e reformar o solo para ter conforto térmico. Ou seja, equilibrar o calor, aumentar a biodiversidade e, ao mesmo tempo, trazer benefícios para a saúde física e mental das crianças”, afirmou JP Amaral, gerente de Natureza do instituto.
Outro dado da pesquisa indica que 117 escolas cariocas estão em áreas de risco climático, sujeitas a enchentes, deslizamentos e alagamentos. Essas condições impactam 19.226 alunos, colocando o Rio em quinto lugar no ranking de capitais brasileiras mais afetadas, atrás de Salvador, São Paulo, Belo Horizonte e Recife.
“Quando a gente vai para a escola em favelas ou comunidades urbanas, ou próximas de favelas ou comunidades urbanas, todos os indicadores pioram: 52% das escolas nessas áreas, na área de comunidades rurais, não tem nenhuma área verde”, afirmou Amaral.
No recorte da primeira infância o indicador é ainda mais alarmante, segundo o pesquisador. “Chega a 4,45% das escolas da educação infantil sem área verde, justamente nesse momento das crianças de desenvolvimento, físico, cognitivo, social, até mesmo da saúde.”
Além do cuidado com os espaços externos, a climatização das unidades também é uma preocupação diante do calor cada vez mais intenso.
Um levantamento do ano passado feito pelo Sindicato de Professores da Rede Pública do Rio de Janeiro mostra que 168 escolas e creches no estado reclamaram da falta de ventilador e ar condicionado.
Em toda a rede municipal, segundo a prefeitura, 99,2% das 1.557 escolas já possuem climatização, o que inclui a Pedro Ernesto. No entanto, espaços ao ar livre como quadras e pátios precisam de adaptações. A escola, por exemplo, espera conseguir verba para cobrir a quadra esportiva no futuro, e vislumbra um projeto de irrigação automática para a horta.
Na rede estadual, algumas unidades ainda aguardam adequação da rede elétrica e reformas estruturais, de acordo com a Secretaria de Estado de Educação.