No programa Última Análise desta segunda-feira (19), a visita de Janja à China e o recente vazamento de comprometedora mensagem, em que a primeira-dama pede conselhos a respeito de redes sociais, trouxeram novamente debate sobre controle do discurso pela esquerda. O modelo chinês, em que a censura é pública e ostensiva, como inspiração de uma regulamentação, traz receios quanto às verdadeiras intenções do projeto governista. “É mais ou menos como perguntar para o crime organizado como que você cuida da segurança pública”, ironizou o colunista da Gazeta do Povo Deltan Dallagnol.
No fundo, o discurso oficial de “combater as fake news” se trata de uma “linguagem política muita inteligente” usada pelos petistas. É o que diz Deltan, explicando que ao brasileiro agrada esse tipo de discurso “estatizante”, em que o Estado deve criar cada vez mais leis “Por isso é fundamental ter representantes que apontem os problemas e os riscos desse projeto que pode acabar por gerar a restrição das nossas liberdades”, alerta.
O professor de Economia e Direito da FGV Daniel Vargas ressalta a importância da liberdade de expressão diante dos avanços autoritários. Liberdade, esta, expressa sobretudo na possibilidade de divergência de opiniões. “Uma democracia tem por princípio a humildade de saber que, por mais convicto que se esteja de uma ideia, ela pode não ser a única ou, pior, ela pode estar errada”, diz. E completa: “A única garantia de que uma visão imposta seja revista é existir uma margem para uma opinião diferente”.
Redes sociais: a carência da esquerda
As contínuas investidas da esquerda sobre as redes sociais revelam também uma fraqueza: a dificuldade de competir neste mercado. O comentarista Guilherme Kilter explica que há várias evidências neste sentido, citando o vídeo do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) sobre o monitoramento do PIX – publicado em janeiro, que chegou a ser um dos mais assistidos do mundo – além de uma pesquisa que aponta que, dos 10 políticos brasileiros com mais engajamento virtual, 8 são de direita.
A explicação, para ele, é simples: “A esquerda é um um velho dinossauro que parou no tempo e se vê atrelada a uma forma de comunicação muito antiga. Há uma precariedade da esquerda na comunicação digital. Eles dominam a velha mídia, com a máquina pública”.
A última trincheira da liberdade de expressão
Diante do controle majoritário da imprensa tradicional, da cultura e das universidades, as redes sociais se colocam como “a última trincheira da liberdade de expressão” e portanto devem ser defendidas, segundo Dallagnol. Ele cita os casos específicos de remoção de perfis, inquéritos contra parlamentares, bem como a censura prévia a veículos de imprensa, como expressões de avanço tirânicos.
Para além do autoritarismo em si da regulação das redes sociais, Dallagnol lembra que hoje no Brasil já existem mecanismos suficientes de controle do discurso virtual: “Não só pelo Marco Civil da Internet já há o impedimento de fazer uma difamação, que é trazer um fato que machuca a reputação de alguém, e calúnia, que é imputar a alguém um fato criminoso”, exemplifica.
O programa Última Análise faz parte do conteúdo jornalístico ao vivo da Gazeta do Povo, no YouTube. O horário de exibição é das 19h às 20h30, de segunda a quinta-feira. A proposta é discutir de forma racional, aprofundada e respeitosa alguns dos temas desafiadores para os rumos do país.