“Acredito que o [Real] Madrid vai virar. Os jogadores sabem que temos tudo para virar. Viramos partidas mais difíceis.”
Essas frases são de Marcelo, 36, ex-lateral esquerdo da seleção brasileira (titular nas Copas do Mundo de 2014 e de 2018), que se aposentou no começo deste ano, referindo-se ao jogo desta quarta-feira (16), Real Madrid x Arsenal, na capital espanhola, às 16 horas (de Brasília).
Eu as vi no site esportivo AS, da Espanha, e elas foram proferidas em espanhol.
Assim sendo, ele não usou “virar” ou “viramos”, e sim, no idioma em questão, “remontar” e “remontamos”. A “remontada” é a “virada” na Espanha, e o Real Madrid adquiriu a fama de conseguir grandes e improváveis viradas.
Marcelo, revelado pelo Fluminense, é um dos grandes nomes da história do Real Madrid, clube que defendeu de 2007 a 2022 e pelo qual conquistou vários títulos, incluindo cinco Ligas dos Campeões da Europa (Champions League), em 2014, 2016, 2017, 2018 (vi essa final “in loco”) e 2022.
O Real saiu de situações complicadas na Champions em 2022, nas oitavas de final, contra o PSG, nas quartas de final, contra o Chelsea, e na semifinal, contra o Manchester City, e em 2024, na semifinal diante do Bayern de Munique, tendo que reverter desvantagens para se classificar.
Essas remontadas recentes criaram uma certa mística, que os madridistas usam para manter viva a esperança e o otimismo em um cenário adverso.
Pois essa mística terá que funcionar de forma vista uma única vez para que o Real avance às semifinais da atual Champions e mantenha-se vivo no objetivo de faturar seu 16º título da competição –é com folga o maior vencedor, tendo ganhado inclusive a primeira edição, em 1956, e a última, em 2024.
Na semana passada, em Londres, Mbappé, Vinicius Junior, Bellingham, Modric, Courtois e o supertécnico Carlo Ancelotti foram surpreendidos e levaram uma sova do Arsenal: 3 a 0, com dois golaços de falta do inglês Rice e um do espanhol Merino.
Um seminocaute. Para se classificar, o Real precisa golear por pelo menos quatro gols de diferença no Santiago Bernabéu. Se a vantagem for de três gols, haverá prorrogação e, se o placar permanecer inalterado, disputa de pênaltis.
Somente há quase 50 anos, em 1975, quando a Champions era chamada de Copa Europeia, os merengues se recuperaram ao ter tamanha desvantagem do jogo de ida para o de volta. Coincidentemente, o adversário era uma equipe inglesa.
Pelas oitavas de final, no dia 22 de outubro, o Derby County, atuando em casa, goleou por 4 a 1. No dia 5 de novembro, mais de 95 mil torcedores viram no Bernabéu o Real repetir os 4 a 1 no tempo normal e fechar o placar em 5 a 1 com um gol do centroavante Santillana (hoje com 72 anos) na prorrogação.
Apesar dessa histórica remontada, o time que veste branco não alcançou a glória na edição 1975/1976 da Liga dos Campeões. Caiu nas semifinais (1 a 1 na Espanha, 0 a 2 na Alemanha) diante do Bayern de Gerd Müller (autor dos gols dos bávaros nas duas partidas), Beckenbauer, Sepp Maier, Hoeness e Rummenigge, que levantariam a taça.
Uma remontada do Real maior que essa até aconteceu, porém em um torneio europeu menor. Nas oitavas de final da Copa de Uefa 1985/1986, no primeiro jogo, na Alemanha, o Borussia Mönchengladbach goleou por 5 a 1, ums diferença de quatro gols. Na volta, o gigante espanhol fez 4 a 0 e eliminou o oponente por ter feito um gol fora de casa.
Marcelo ressalta em seu discurso otimista que o Real, antes, virou “partidas mais difíceis”, sem detalhar as razões de elas terem tido nível maior de dificuldade.
Será que ele quis fazer a comparação dos adversários, considerando que o Arsenal, apesar da larga vantagem, é rival superável porque tem “menos camisa” que Chelsea, Bayern, Man City?
E a verdade é que tem mesmo, quando o assunto é Europa.
O Arsenal, diferentemente dos outros, nunca ganhou a Champions. Chegou a uma única final, em 2006, contra o maior rival do Real, o Barcelona, e perdeu de virada, por 2 a 1 – o gol da vitória do Barça foi do brasileiro Belletti.