A combinação da almofada Razer Freyja e dos headphones Kraken V4 Pro criam uma atmosfera vibratória como nunca senti. Existe muito potencial na tecnologia, que é capaz de intensificar músicas, filmes e séries, mas existem muitas arestas por limar.
Já perdi a conta à quantidade de produtos da Razer que me passaram pelas mãos ao longo dos anos: entre ratos, teclados e headphones, o valor seguramente ultrapassa as dezenas. Presumi que manuseei e analisei todo o tipo de produtos criados pela marca, mas estava enganado – num acaso bastante feliz, chegou-me às mãos um dispositivo que jamais experimentei no passado e que prova que a imersão dos videojogos e entretenimento pode ser levada mais além.
Estou a falar-vos da Razer Freyja, uma almofada vibratória para cadeiras gaming. Tal como a descrição indica, ela induz vibração na zona das costas e glúteos, com diferentes graus de intensidade, criando uma experiência reminiscente de um filme 4D. Pensemos desta forma: se comandos como DualSense ou os Joy-Cons revolucionaram a vibração 3D nas nossas mãos, a Freyja aplica-a à parte traseira do nosso corpo.
Vibrações 3D nas costas
Pode soar como gimmick, mas os meus testes provam o contrário e vou tentar demonstrá-lo o melhor possível através de palavras. A almofada possui dois sistemas primários embutidos, bastante diferente entre eles: o primeiro, denominado Audio-to-Haptics, converte qualquer som proveniente do computador em vibração, seja ele proveniente de um filme, videojogo, música ou até mesmo vídeo do YouTube.
Não sei exatamente a tecnologia aplicada pela Razer neste campo específico, mas desconfio que existe um pequeníssimo delay (impercetível para o utilizador) entre o som do computador e a vibração; nesse pequeno delay, a almofada analisa o áudio e tenta replicá-lo o melhor possível através de vibração, de forma um pouco indiscriminada, com especial ênfase nos momentos mais grandiosos ou com batidas mais pronunciadas.
Utilizemos um exemplo prático: a música Another One Bites the Dust da banda Queen. O baixo proeminente despoleta batidas sincronizadas na Freyja que se mantêm praticamente durante toda a duração da canção – excetuando uma parte mais “sossegada” do tema em que o dispositivo simplesmente pára. A sensação é brutal, mágica, e as músicas parecem ganhar uma dimensão extra, percorrendo cada fibra do corpo. Esta lógica mantém-se sempre, independentemente do conteúdo que assistimos/ouvimos – pode até ser uma publicidade do YouTube!
O sistema Audio-to-Haptics possui 4 modos distintos, cada um com características muito distintas. Podes vê-los mais claramente abaixo:
Controlled – Foco em sons mais graves, construído para enfatizar a presença de baixos com sensações físicas
Balanced – Otimizado para criar uma resposta leve em cenas mais tranquilas, resposta forte para eventos de alta intensidade
Dynamic – O modo mais forte, com os eventos de mais ação a criarem uma sensação mais vívida
Custom – tal como o nome indica, este modo deixa-nos ajustar as vibrações de maneira a criar algo personalizado
Apesar de o Audio-to-Haptics funcionar perfeitamente quando estamos a falar de música e sons ambiente, o caso muda de figura quando introduzimos diálogo na equação, quer seja proveniente de filmes ou de videojogos. O modo Controlled enumerado anteriormente faz com que a Freyja raramente seja ativada em contextos de diálogo, se bem que a solução não é perfeita nem 100% eficaz.
Qual o problema? Esta almofada foi feita para aumentar o grau de imersão quando o seu utilizador é exposto a diferentes meios de entretenimento, e a constante vibração enquanto as personagens falam, seja qual for o tema, fazem exatamente o oposto. Torna-se até irritante! Tal como disse anteriormente, a Freyja converte o áudio em vibração de forma indiscriminada, e apesar de podermos fazer ajustes para personalizarmos a experiência ao nosso agrado, haverá sempre falhas.
E é aí que entra o segundo modo do aparelho. Falei-vos do Audio-to-Haptics, mas existem também jogos Sensa HD, ou seja, títulos que foram especificamente pensados para a almofada. A lista é ainda bastante reduzida (esperemos que aumente no futuro!), mas a Razer teve a amabilidade de nos disponibilizar um código para Silent Hill 2 Remake.
Neste contexto específico, a almofada apenas é ativada em determinados momentos, usualmente em sincronia com a música, uma ação do jogador ou uma determinada parte do diálogo. A sua implementação no jogo é muito subtil, mas não deixa de ser muito eficaz: ela vibra quando James ataca um inimigo (ou quando é atacado), quando abre uma porta, quando se grava o jogo, sempre com graus de intensidade distintos. Quando chegamos pela primeira ao Otherworld, é possível ouvir um barulho distante, semelhante a uma sirene, e a Freyja vibra em concordância. Confesso que fiquei com pele de galinha.
Hogwarts Legacy e Silent Hill são dois dos jogos compatíveis
Decidi ainda experimentar Hogwarts Legacy, outros dos jogos que foi concebido para o dispositivo; apesar de apenas ter tido a possibilidade de jogar os momentos iniciais, foi uma decisão benéfica, já que a implementação vibratória é completamente diferente.
Enquanto Silent Hill 2 Remake recebeu uma abordagem mais comedida, indo de encontro ao género de terror, Hogwarts Legacy enveredou por um caminho mais grandioso, onde a vibração parece nunca parar. Tendo em conta o meu tempo limitado com o jogo, resolvi fazer um apanhado rápido dos momentos vibratórios: diálogos (numa versão soft), música de fundo, carroça a voar, ataque do dragão, vento/mar, feitiços, carrinho de carros em Gringotts, cofre a abrir, entre outros.
O destaque vai para o momento em que a personagem principal está com pouca vida, algo simbolizado por um retumbante batimento cardíaco que é replicado fielmente pela Freyja. Depois de nos curarmos, esse batimento vai-se esvaindo, assim como a vibração nas costas, criando uma experiência sensorial extraordinária, levada ao extremo quando emparelhada com o DualSense. Estes momentos replicam-se uma e outra vez, e estes são apenas alguns dos exemplos – agora, jogar sem a Freyja é estranho, como se estivesse a faltar uma peça fundamental.
Confere a lista de jogos atualmente compatíveis abaixo:
- Hogwarts Legacy
- Silent Hill 2 Remake
- Final Fantasy 16
- Frostpunk 2
- Vendetta Online
De um ponto de vista ergonómico, a almofada é bastante confortável, permitindo longas sessões de gaming sem qualquer tipo de consequências lombares. Ela quase funciona como um massajador improvisado, conferindo sensações bastante prazerosas e relaxantes no corpo – como não sou especialmente alto, a Freyja reveste-me quase na totalidade, permitindo usufruir do dispositivo de uma forma bastante intensa.
Ela possui dois modos de conexão: 2.4 GHz para o PC, Bluetooth para o telemóvel, através da app Nexus, sendo que podem facilmente ser intercalados através de botões físicos presentes no próprio dispositivo. Usando a aplicação Nexus, é possível jogar os jogos que tens instalados no teu smartphone aproveitando as vibrações hápticas da Freyja.
Precisa de uma lista de jogos maior
O potencial aqui é enorme, com a criação de uma camada extra de imersão que eleva a música, atmosfera, combate e história dos videojogos. Infelizmente, a lista de jogos é ainda bastante diminuta e gostava também que houvesse um suporte mais dedicado para filmes – especialmente nos géneros de terror e ação, a almofada consegue enfatizar momentos de uma forma única, seja um intenso combate ou um jumpscare aterrador.
A compatibilidade com outras plataformas, nomeadamente consolas como a PS5, Xbox Series ou Nintendo Switch, seria também uma mais-valia, dando a oportunidade aos seus utilizadores de desfrutarem das características da Freyja. Mas é notório que o projeto ainda está numa fase inicial, e veremos se o público apoia-o suficientemente de maneira a justificar investimentos futuros por parte da Razer e dos estúdios de jogos.
O preço da Freyja é também elevado para o consumidor tradicional, com o dispositivo à venda por €299,99. Neste momento, por mais satisfatório que seja em termos vibratórios, fica difícil justificar o seu valor dada a quantidade diminuta de jogos especialmente concebidos para ela. De qualquer das formas, caso estejas disposto a abrir os cordões à bolsa, a experiência final é transcendente, e nunca experimentei nada assim no passado.
Prós: | Contras: |
|
|
Entram em cena os headphones Kraken V4 Pro
Mas a análise à Razer Freyja é apenas metade desta epopeia, até porque ocultei-vos uma parte importantíssima (a não ser que tenhas lido o título, claro). Para além da almofada háptica, a Razer enviou-nos ainda os headphones Kraken V4 Pro, que também possuem capacidades vibratórias.
Então imaginem só o cenário: jogar Silent Hill 2 Remake à medida que as mãos, costas, glúteos e cabeça vibram! Claro está, o foco nos Kraken V4 Pro é novamente a vibração, sendo que tudo aquilo que ouvimos é convertido em feedback háptico HD com base no áudio, permitindo-nos sentir cada batida, cada passo e qualquer coisa que faça barulho.
Comparativamente à almofada, as vibrações são notoriamente mais fracas, por vezes tão subtis que parecem nem estar ativas. Existem três modos distintos – Low, Medium e High – mas mesmo na configuração mais alta, por vezes só me apercebia do feedback háptico ao tocar nos headphones com as próprias mãos.
No contexto específico de Silent Hill 2 Remake, os headphones seguem uma lógica semelhante à que foi aplicada na almofada Freyja, destacando determinados sons que nos ajudam a imergir ainda mais na experiência aterradora do jogo. Sempre que James desfere um golpe, parte um vidro, passa por uma abertura na parede ou abre uma porta, os Kraken produzem um ligeiro feedback. As vibrações por vezes acompanham a própria música e sons ambientais, criando uma atmosfera absolutamente arrepiante quando em concordância com a Freyja.
As vibrações são discretas, mas ainda assim satisfatórias
Tudo isto estende-se muito além dos videojogos e aplica-se igualmente a filmes, séries e músicas através do sistema Audio-to-Haptics. De acordo com os meus testes, os resultados são mais visíveis quanto mais “explosivos” forem os conteúdos de origem, ou seja, se um filme for baseado primariamente em diálogos, o feedback será praticamente nulo; por sua vez, se estivermos perante um filme cheio de disparos, carros e efeitos sonoros mais vincados, os Kraken vão vibrar de uma forma notória que muito ajuda à experiência. Volto a frisar que tudo isto pode ser enfatizado/diminuído consoante o modo escolhido, sendo que haverá sempre alguma tentativa e erro envolvida.
Como seria de esperar, a qualidade típica da Razer está presente em cada átomo do dispositivo, em parâmetros como o seu design, qualidade do som, conforto, personalização, entre muitos outros aspetos.
Basta olharmos para ele e senti-lo na mão para denotarmos a sua solidez, totalmente construído a partir de um plástico negro endurecido. Como já é hábito, as almofadas na parte superior e nas laterais criam um aconchego especial, e o dispositivo pode ser ajustado para se encaixar ainda melhor nas orelhas e cabeça.
Relativamente ao seu design, é imperativo mencionar o impressionante esquema luminoso nas laterais dos headphones que os enchem de cores e criam um efeito quase hipnótico. Já não é a primeira vez que trabalho com um dispositivo com este tipo de tecnologia RGB, mas fico sempre boquiaberto ao olhar para aquilo que a Razer é capaz de criar. No rebordo das laterais, podem ser encontrados múltiplos botões que agilizam imenso a manipulação dos Kraken, dando ao utilizador a possibilidade de ajustar o som, ligar/desligar microfone, alterar o modo em vigor ou a intensidade da vibração.
Os Kraken V4 Pro vêm com hardware extra
Mas a Razer foi ainda mais além, criando um hardware adicional: um Control Hub Oled, que podes ver na imagem abaixo. Através deste pequeno aparelho, é possível ajustar múltiplas configurações dos Kraken com um rápido gesto de mãos, incluindo o áudio, input, entre múltiplas outras configurações. Admito que prefiro os botões físicos dos headphones, uma questão meramente pessoal, mas trata-se de um aparelho bastante vistoso, com belos papéis de parede animados que lhe conferem um aspeto super dinâmico.
A qualidade sonora volta a estar em destaque, algo que já não me surpreende tendo em conta que estamos a falar da Razer. Com drivers Triforce Bio-Cellulose 40 MM, o som é rico e detalhado, quer seja proveniente de músicas, sons ambientais ou diálogo, com uma claridade distinta e grande ênfase na redução de distorção. Como se isso não fosse o suficiente, os Kraken V4 Pro fazem ainda uso do THX Spatial Audio, que induzem um maior nível de realismo auditivo e dão-nos uma localização mais precisa da origem dos sons.
Esta tecnologia é especialmente útil em jogos competitivos como Apex Legends, Fortnite ou Call of Duty, permitindo aos utilizadores dos headphones perceberem exatamente de onde provêm os passos ou disparos que escutam e agir em conformidade.
Os headphones incluem também um microfone retrátil, uma solução bastante elegante que já elogiei no passado: para usá-lo, basta puxá-lo para fora; assim que não for mais necessário, basta fazer o movimento inverso e podemos desfrutar do dispositivo sem qualquer tipo de “obstáculos”. Em termos do som, ele enquadra-se no espetro habitual e vai de encontro a outros headphones que analisei no passado. Para contextos de jogo multiplayer ou conversas mundanas no chat, funciona mais do que perfeitamente – todavia, se o objetivo do seu comprador é criar áudios cristalinos e limpos, sem qualquer tipo de distorção ou ruído, então esta não é de maneira alguma a melhor opção. Assim sendo, caso queiras fazer gravações num âmbito mais profissional, os Kraken não são ideais (confere um exemplo concreto abaixo).
Mas este é o único ponto negativo que lhes consigo apontar: estes são os headphones mais completos que a Razer já fez, com o feedback háptico a torná-los essenciais para quem quer uma experiência que vá além do sonoro. Com múltiplos métodos de conexão (Razer HyperSpeed Wireless 2.4GHz ou Bluetooth), personalização adicional no software Synapse e ainda uma bateria que pode chegar às 50 horas, eles possuem muitas das características que são obrigatórias nos dias atuais.
Possivelmente, os melhores headphones da Razer
Não sei mesmo como é que a Razer pode aprimorar a sua gama de headphones no futuro – para além do conforto, design belo, boa qualidade sonora, o vistoso esquema RGB e as vastas características ergonómicas, temos agora o feedback háptico que os tornam na derradeira escolha para os amantes de gaming imersivo. O preço é bastante avultado – 449,90 € não está às mãos da maioria dos consumidores – mas a qualidade fala por si, e é inegável.
Jogar com um setup como este (Silent Hill 2 Remake + PC que corra o jogo + DualSense + Freyja + Kraken Pro) é uma realidade distante para os jogadores dado o valor de investimento necessário; mas nunca joguei um videojogo desta forma no passado, com estímulos sensoriais a provirem de todas as direções, por vezes de maneiras muito inesperadas. Veremos se isto se torna no futuro dos videojogos.
Prós: | Contras: |
|
|