Os rankings universitários conferem poder político às instituições, normalmente do Norte Global, que ocupam as primeiras posições. Porém, longe de serem ferramentas precisas para avaliar ensino, pesquisa e extensão e seus impactos locais ou globais, tais avaliações estabelecem padrões universais que ditam o que as universidades devem perseguir, ignorando suas realidades regionais.
Em geral, esses rankings avaliam apenas alguns aspectos da missão universitária, supervalorizando a dimensão da pesquisa destacando, principalmente, a quantidade e o veículo no qual as publicações (em geral em inglês) são divulgadas. Avaliar o ensino, por outro lado, é um desafio global, geralmente baseado na opinião de acadêmicos e empregadores sobre os egressos das instituições, o que pode desfavorecer universidades do Sul Global, apesar da qualidade do ensino de nossas universidades. Destaca-se que as atividades de extensão são fracamente captadas por esses rankings.
Os rankings internacionais acabam por criar hierarquias entre as nações, beneficiando instituições americanas e europeias. Nesse sentido, a iniciativa dos BRICS para repensar os critérios de avaliação das suas universidades é importante, já que cada país tem prioridades e contextos específicos e que devem nortear a missão de suas instituições universitárias.
As universidades, como instituições políticas de Estado, têm papel crucial na soberania nacional ao expandir as fronteiras do conhecimento e empregá-las em políticas públicas e no desenvolvimento tecnológico. Assim, torna-se necessário que se destine financiamento público adequado garantindo o cumprimento de suas missões. Entretanto, estudos do SoU_Ciência mostram que o orçamento das universidades federais brasileiras sofreu cortes sistemáticos a partir de 2012 e que, apesar da retomada, ainda não foi recomposto, comprometendo seu pleno funcionamento. Como, então, comparar nossas instituições a outras que recebem financiamentos robustos e são valorizadas pelos seus governos?
À medida que instituições alcançam prestígio nos rankings, é comum que restrinjam o acesso e que ofereçam cursos de maior interesse para as elites, perpetuando a acumulação de capital econômico, social e cultural. Os egressos dessas instituições acabarão ocupando cargos e posições privilegiadas no governo ou no setor corporativo. É essa é a direção que desejamos para as universidades brasileiras?
As universidades também devem ser espaços para agendas contra-hegemônicas e inclusão de grupos marginalizados. O desafio é equilibrar demandas diversas, como atender às necessidades de empresas e, ao mesmo tempo, focar em questões de saúde pública, por exemplo.
Dependendo dos critérios de avaliação, os rankings podem levar as universidades a ajustar suas prioridades, muitas vezes se afastando das demandas locais. Talvez por isso agora os países do BRICS, que buscam novos valores e novas prioridades para suas universidades, estejam propondo a criação de um ranking para suas universidades que se aproxime mais do interesse desses países.
Um exemplo é a Rússia, que, em resposta à lógica predominante, criou um ranking próprio em 2009. Por esse ranking, algumas universidades russas aparecem em posições superiores às de universidades americanas, o que mostra que, dependendo dos indicadores escolhidos, pode haver mudanças na posição das universidades.
No Brasil, o MEC ainda não tem um ranking nacional para avaliar as universidades brasileiras. Desde 2012 a Folha de S.Paulo preenche essa lacuna com o Ranking Universitário Folha (RUF), que utiliza indicadores inspirados nos rankings internacionais, atribuindo 42% da avaliação a métricas de pesquisa.
Diante disso, surge a pergunta: qual é a real utilidade dos rankings universitários em seu formato atual? Talvez seja a hora de construir um novo instrumento de avaliação que reflita melhor nossas necessidades e nossa identidade.
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