Saiu nesta Folha que, caso Carlo Ancelotti enfim aceite ser técnico da seleção brasileira, ganhará da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) R$ 5 milhões por mês, remuneração próxima à de executivos que chefiam grandes empresas no Brasil e perto do que recebe no Real Madrid.
OK, vivemos em uma sociedade capitalista, na qual cada pessoa empregada tem um salário, estabelecido pelo que o contratante acha que o contratado merece e/ou pelo que considera poder pagar.
Porém está fora da minha compreensão a CBF oferecer essa quantia a um treinador. Para qualquer um. Pode ser o melhor do mundo, e pelos resultados deste ano o italiano Ancelotti, 65, não é.
É muito dinheiro, que a entidade poderia usar para desenvolver o futebol no Brasil, investindo em escolinhas para crianças e adolescentes, na melhor formação de árbitros, no desenvolvimento do futebol feminino, na infraestrutura para clubes nanicos, na disseminação de cursos para capacitar treinadores.
Este último item merece especial atenção. Estamos com escassez de bons técnicos no país, tanto que os nomes mais cotados para assumir a seleção são de estrangeiros.
Além de Ancelotti, fala-se em Jorge Jesus (sem clube) e em Abel Ferreira, ambos portugueses. Conforme difundido por sites esportivos, Jesus (ex-Flamengo) recebia cerca de R$ 6 milhões por mês no Al Hilal, da Arábia Saudita, e Abel ganha por volta de R$ 3 milhões mensais no Palmeiras. Também são caríssimos.
Ofereço uma solução. Chame-me, CBF. Por 1% do mencionado salário de Ancelotti, assumo a seleção. Barato, uma pechincha.
Entendo bastante de futebol, acompanho tudo com interesse desde o começo dos anos 1980, e tenho atuação no jornalismo esportivo há quase três décadas.
Conheço os esquemas táticos, posso dar funções claras e específicas a cada jogador. E convocarei 80% de atletas que jogam no Brasil, em uma tentativa de “sacudir” a seleção. Os melhores em atividade por aqui, no Campeonato Brasileiro. Quem está fora parece pouco comprometido com a camisa que representa uma nação. Na seleção, tem que “comer grama”.
Além disso, se souber que há empresário ou dirigente fazendo lobby para que alguém seja convocado – fala-se que existe, nunca ninguém comprovou–, denunciarei.
Falta-me a prática de campo, pois nunca fui treinador. Contudo, pelo que vejo na atuação da maioria dos clubes, não sei o que é feito nos treinos, que faz tempo são fechados, então a mídia não tem como saber. O que sei é que falta padrão de jogo, faltam jogadas ensaiadas, falta organização tática. É doído ver a maioria das partidas.
Um jornalista na seleção? Não seria inédito.
João Saldanha, o João Sem Medo, comandou o Brasil nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1970, nomeando as Feras do Saldanha e formando a base de um dos melhores times já vistos na história do futebol, que conquistou o tricampeonato mundial.
Comigo, nada de comissão técnica. Não formalmente. Posso consultar gente (jornalistas também, por coerência) que considero que possa dar um ou outro palpite. Mas em regime de exceção. Tenho meus próprios conceitos, não dá para aceitar interferência.
Eu seria bom? Impossível saber, dependeria dos resultados, como dependerá com qualquer um que esteja na função. Ganhou, quase sempre? Fica. Perdeu, ou mesmo empatou? Vida curtíssima, tchau.
Encerro este texto com a convicção de ter feito uma proposta que soa como “brincadeira séria”. Você, leitor que acompanha constantemente futebol, tem tanta capacidade quanto eu de ser técnico da seleção.
Não acontecerá. Prosseguirei do lado de cá, observando e escrevendo. Com a certeza de que milhões serão mal investidos pela CBF.
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