No dia 1º de setembro de 2010, o psicólogo Bernardo Jablonski me convidou para escrever um artigo sobre o significado da risada na cultura brasileira. Quando ele chegou aqui em casa para discutir o artigo, perguntei: “Como você está?”. Ele respondeu: “Morrendo…”. Foi de um jeito tão engraçado que nós dois caímos na risada.
Bernardo sempre foi assim: brincava com tudo, inclusive com a própria morte, que, infelizmente, aconteceu no dia 28 de outubro de 2011. Ele queria fazer um pós-doutorado comigo para escrevermos um livro intitulado “Homens São de Morte; Mulheres São Divinas”.
No artigo, levantamos algumas questões a partir de uma pesquisa que realizei na cidade do Rio de Janeiro com 500 homens e mulheres. Perguntei: “Você ri muito ou pouco?”. “Você gostaria de rir mais?” “Quem ri mais, o homem ou a mulher?” “Que dicas você daria para quem quer rir mais?”
“Ficar ranzinza”, “mal-humorado” e “perder a alegria” foram citados, por homens e mulheres, como aspectos negativos do envelhecimento. Para construir uma “bela velhice”, seria necessário preservar a alegria, o bom humor e a leveza.
Os homens afirmaram que brincam mais do que as mulheres: 84% dos homens disseram rir muito; 68% das mulheres disseram o mesmo. Eles gostam de dar risadas em momentos descontraídos com os amigos, em situações relaxadas que permitem que eles sejam espontâneos e brincalhões. Reclamaram que as mulheres reprimem esses comportamentos e os acusam de serem imaturos, infantis e bobos.
Enquanto 60% dos homens afirmaram que estão satisfeitos com suas risadas, 62% das mulheres afirmaram que gostariam de brincar e de rir muito mais.
Por que as mulheres não riem tanto quanto desejam? Elas dizem que o ato de brincar pode ser malvisto pela sociedade. E, como querem passar uma imagem pessoal e profissional de equilíbrio, confiança e maturidade, temem não parecer sérias, responsáveis e competentes.
Elas também se queixaram de falta de tempo para brincar, pois estão sempre ocupadas e preocupadas com filhos, marido, pais, casa, trabalho, saúde etc. Afirmaram que não sobra energia, disposição e oportunidade para dar risadas. Muitas confessaram que invejam a liberdade que os homens têm de brincar e de dar risadas sem se preocupar com a opinião alheia.
Quais foram as melhores dicas que recebi para dar mais risadas?
Aprender a rir mais de mim mesma; não me levar tão a sério; deletar da minha vida todos os parasitas e vampiros emocionais; ter a coragem de dizer não; ligar o botão do foda-se; não me preocupar tanto com críticas e julgamentos dos outros; sair mais com as amigas; ser mais leve; casar com um homem divertido; fugir de pessoas escrotas e arrogantes; não ficar ruminando problemas e ressentimentos; ser menos crítica com os outros e comigo mesma; não ficar obcecada com rugas e imperfeições; parar de me comparar com mulheres mais jovens, bonitas e autoconfiantes; ficar menos tempo nas redes sociais; não ter grupos de WhatsApp; assistir a comédias românticas; tomar mais sorvete e comer mais chocolate; caminhar descalça na areia da praia; viver um dia de cada vez como se fosse o último; nunca deixar de ser a criança que um dia eu fui; transformar tragédias em comédias.
Que dica você daria para uma antropóloga malcomportada que precisa urgentemente brincar e rir mais de si mesma?
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