A pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil” de 2024 mostrou que houve uma queda de 6,7 milhões de leitores nos últimos quatro anos: 53% dos brasileiros não leram nenhum livro e 73% não completaram a leitura de nenhum livro.
A falta de tempo para ler foi apontada por 46% dos pesquisados; 9% preferem outras atividades e 8% não têm paciência para ler. O aumento do tempo de tela foi apontado como um dos fatores da queda do número de leitores: 87% do público leitor e 70% dos não leitores mencionaram o uso de internet no tempo livre. Esse dado não me surpreende, já que, em média, o brasileiro fica online 9 horas e 17 minutos todos os dias.
No meu novo livro, “Memórias de uma Antropóloga Malcomportada”, conto que, desde muito cedo, os livros salvaram a minha vida. E continuam salvando até hoje. Não tive brinquedos na infância: os livros foram o meu único refúgio em meio a uma família extremamente violenta e miserável afetivamente.
Aprendi a ler e escrever aos 4 anos. Aos 12, já havia devorado todos os livros do meu pai, desde “Treblinka” até “O Complexo de Portnoy”, uma mistura indigesta para uma menininha apelidada de Olivia Palito. Aos 16, li “O Segundo Sexo” e toda a obra de Simone de Beauvoir, livros que me apontaram os caminhos da minha libertação.
Costumo ler três ou quatro livros por semana. E só consigo dormir escutando audiobooks. Nos momentos mais difíceis, não me canso de reler “Em Busca de Sentido”, de Viktor Frankl, e “Meditações”, de Marco Aurélio. E também Sêneca, Epicteto, Schopenhauer, Clarice Lispector e Rubem Alves. Durante o meu pós-doutorado em psicologia social sobre envelhecimento, autonomia e felicidade, reli os livros de Freud, Jung, Karen Horney, Melanie Klein, Carl Rogers, Erich Fromm, Winnicott, entre muitos outros.
No momento em que estou lançando o meu novo livro, recebi uma notícia maravilhosa: o Rio de Janeiro foi designado pela Unesco como Capital Mundial do Livro para o ano de 2025. Esta é a primeira vez que uma cidade de língua portuguesa recebe esse título.
Por fim, em uma coluna sobre o meu amor pelos livros, não posso deixar de homenagear a minha querida amiga Heloísa Teixeira, que conheci, há muitos anos, como Heloísa Buarque de Hollanda. Estávamos trabalhando em um projeto que começou no dia 13 de março de 2023 com a seguinte mensagem: “Oi Mirian, aqui Helô Buarque. Não sei se você já sabe, estou no Projeto Maysa Matarazzo com Gringo e o projeto vai ter um livrão tipo o do Darcy. Você escreve um texto pra gente? Preciso muito do seu texto nesse livrão!!!! Será lindo. Diz SIIIM! Beijo enorme Helô”.
Também fiquei muito feliz com o convite carinhoso de Helô para sua posse na Academia Brasileira de Letras, em 28 de julho de 2023. No dia 14 de março de 2025, enviei por WhatsApp: “Helô, minha amiga querida, me manda seu novo endereço. Quero lhe enviar meu novo livro com uma dedicatória muuiitto especial”. Imediatamente ela respondeu: “Querida!”, com o endereço.
Duas semanas depois, no dia 28 de março, Helô faleceu, aos 85 anos. Em uma entrevista para a Folha (20/10/2023), ela confessou: “Não tenho mais o que esconder… Estar perto da morte conforta, porque viver cansa”. A Helô que conheci não cansava nunca, estava sempre escrevendo livros e mergulhada em projetos. Que saudade, Helô. Você está fazendo muita falta.
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