As críticas que a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PT-PR), fez contra o corte de gastos, neste final de semana, expôs um novo ponto de tensão dentro do governo entre a ala mais social do partido e a equipe econômica – mais precisamente ao ministro Fernando Haddad (Fazenda).
Um dos principais expoentes do PT, Haddad lidera a equipe econômica para executar o pacote pedido pelo mercado como prova de compromisso do governo com as contas públicas. Tanto o partido como outros aliados veem com resistência, que está cada vez mais exposta.
A crítica de Gleisi foi principalmente em cima de editoriais publicados no final de semana a favor do corte de gastos, que ela classifica como um “sacrifício dos aposentados, dos trabalhadores, da saúde e da educação, que podem até combinar com o neoliberalismo frenético do governo passado, mas não com o governo que foi eleito para reconstruir o país”.
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No manifesto publicado recentemente contra o corte, o PT assina através de um dirigente local do partido, Jardel Lopes, enquanto que legendas aliadas se expõem mais, como o PSOL, PC do B, PCB, entre outros movimentos sociais.
“O poder financeiro, os mercados e seus porta-vozes na mídia agitam o fantasma de uma inexistente crise fiscal, quando o que estamos vivendo é a retomada dos fundamentos econômicos, destruídos pelo governo anterior”, diz um trecho do texto.
Em outro, o manifesto afirma que “agora querem cortar na carne da maioria do povo, avançando seu facão sobre conquistas históricas como o reajuste real do salário-mínimo e sua vinculação às aposentadorias e ao BPC, o seguro-desemprego, os direitos do trabalhador sobre o FGTS, os pisos constitucionais da Saúde e da Educação”.
O governo vem tentando fechar o pacote há três semanas, mas esbarrando constantemente na resistência de, pelo menos, cinco ministros contra os cortes: Wellington Dias (Desenvolvimento Social), Luiz Marinho (Trabalho e Emprego) e Carlos Lupi (Previdência) já vieram a público expor a insatisfação com a possibilidade de suas pastas perderem recursos.
Já reservadamente, Nísia Trindade (Saúde) e Camilo Santana (Educação) também resistem a possíveis mudanças nos pisos constitucionais das suas áreas, entre elas atrelar o Fundo da Educação Básica (Fundeb) ao arcabouço fiscal.
Neste final de semana, a Força Sindical ameaçou partir pra cima do governo se o pacote atingir benefícios dos trabalhadores. O presidente da federação, Miguel Torres, disse enviou uma carta a Lula pedindo uma reunião sobre os cortes.
“Não estou falando que não tem que ter correção, que não tenha que ter controle de gastos, mas nós estamos tirando daquele que mais precisa, do trabalhador desempregado”, pontuou.
Entre as mudanças mais criticadas está a do seguro-desemprego, que prevê o desconto das parcelas no valor da multa rescisória sobre o FGTS paga pelo empregador em caso de demissão sem justa causa. Ela se soma a outras possibilidades, como revisão e cortes no Benefício de Prestação Continuada (BPC).
Estes dois benefícios são classificados pelo governo como “direitos adquiridos” que o líder de Lula no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), já adiantou que não serão mexidos.
A expectativa é de que Lula e os ministros mais resistentes ao pacote voltem a se reunir nesta semana para negociar os cortes, enquanto o mercado financeiro aguarda com cautela o que deve ser ajustado nas contas públicas.