Na última semana, o presidente do PSDB paulista, Paulo Serra, se reuniu com Kassab para tratar de alternativas para salvar o legado do partido, que já ocupou a presidência da República com Fernando Henrique Cardoso e dominou São Paulo por quase três décadas.
“Tivemos uma boa conversa e essa questão da fusão do PSDB com o PSD está avançando bastante. Nós precisamos crescer e a fusão, incorporação ou federação podem ser alternativas”, disse em entrevista ao Estadão.
Contudo, as negociações podem ser emperradas pela posição do PSD no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em que ocupa três ministérios e planeja mais pastas na próxima reforma ministerial: André de Paula (Pesca), Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Carlos Fávaro (Agricultura e Pecuária).
Desde a eleição municipal de outubro do ano passado, o governo vem estudando como ampliar a participação dos partidos da base para evitar que lancem candidatos próprios na sucessão presidencial de 2026. Além do PSD, também estão na mira o MDB e o União Brasil, que têm alas favoráveis a um desembarque da “frente ampla” de Lula.
Além da Esplanada, o PSD é também o partido do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que pretende se lançar ao governo de Minas Gerais com o apoio de Lula.
O presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, reconheceu as divisões internas sobre o futuro do partido. De um lado, há os defensores da fusão, mas de outro para seguir com autonomia.
“Há uma divisão em termos de vontade política porque uma corrente quer que o PSDB continue e outros defendem a incorporação ou fusão a um partido maior. Vamos nos debruçar sobre esse tema em fevereiro, a partir da reabertura dos trabalhos do Congresso”, afirmou.
O declínio do PSDB ficou evidente após a saída de figuras-chave, como Geraldo Alckmin, que migrou para o PSB e hoje é vice-presidente, e Aloysio Nunes, ex-chanceler. Além disso, a ausência de um candidato presidencial em 2022 foi considerada um erro estratégico por Perillo.
“Foi um erro não termos lançado candidato a presidente em 2022”, admitiu o dirigente. O PSDB se colocou como oposição a Lula desde o início deste terceiro mandato, negando qualquer possibilidade de negociação para aderir à base.
A crise também atingiu os principais colégios eleitorais do país. Nas últimas eleições municipais, o PSDB não conseguiu eleger vereadores em São Paulo ou Belo Horizonte. Para tentar recuperar relevância, o partido pretende lançar o governador gaúcho Eduardo Leite (PSDB-RS) como candidato à sucessão de Lula em 2026.
Além de Leite, o PSDB conta com outros dois governadores: Raquel Lyra, de Pernambuco, e Eduardo Riedel, de Mato Grosso do Sul. No entanto, Lyra estaria negociando filiação ao PSD, o que pode enfraquecer ainda mais os tucanos.
“Isso revela que algo está errado. O que precisamos fazer, o que o PSDB precisa fazer, é se reencontrar com a sua história e seus valores. A gente precisa ter partidos e instituições fortes que possam enfrentar o jogo democrático”, disse.