O Parque da Joia, no Jardim São Domingos, no Butantã, ainda é só um projeto. Mas um coletivo de moradores do bairro tem trabalhado sistematicamente no local fazendo o replantio de várias espécies vegetais e cuidando de duas nascentes que desembocam no córrego Água Podre, afluente do ribeirão Jaguaré.
O movimento social busca transformar o terreno de 13.000 metros quadrados num parque linear municipal forrado de árvores e plantas da Mata Atlântica. O projeto de lei 436/22, do vereador Aurélio Nomura (PSD), que tramita na Câmara, tem justamente esse objetivo.
O problema é que a Secretaria Municipal de Saúde planeja instalar uma UBS (Unidade Básica de Saúde) num ponto onde hoje está instalado um campo de futebol que faria parte do parque. O Jardim São Domingos é desprovido de equipamentos de saúde e também carece de áreas verdes.
Em tese, as duas iniciativas poderiam coexistir: a UBS ocuparia o campo e o parque se desenvolveria Atrás da unidade de saúde. Mas, por enquanto, os projetos concorrem.
“Estamos em busca de um outro local para a instalação da UBS, mas até agora todas nossas propostas foram descartadas”, diz o músico Vinícius Pereira de Souza, um dos fundadores do coletivo Gente Joia, que luta pela criação da área de proteção e segue os princípios da permacultura. “Estamos tentando encontrar uma solução que concilie os interesses.”
O local onde fica o parque Joia foi uma favela nos aos 1980, desapropriada em 1995, quando metade dos cerca de 2 mil moradores (420 famílias) foram transferidos para um conjunto habitacional no quilômetro 19 da rodovia Raposo Tavares.
Posteriormente virou um depósito de entulho, que descaracterizou o terreno. O que antes era um vale virou um morro. No lugar ainda se vê grandes quantidade de entulho expostas.
Há sete anos, o coletivo Gente Joia trabalha todos os sábados para converter a área do antigo aterro em um polo urbano de regeneração ambiental. “O processo é transformar um local degradado num lugar de acolhimento”, afirma Souza. “A gente remove espécies exóticas e substitui por plantas nativas.”
Entre as ações em curso estão o reflorestamento do terreno, a recuperação das duas nascentes, a implantação de jardins de chuva (técnica que irriga o lençol freático e mitiga enchentes) e a compostagem comunitária de resíduos sólidos (média de 60 kg por mês).
Legalmente, a área é um espaço livre que não pertence a nenhuma secretaria. Mas já aconteceram grandes avanços como a inclusão, em 2022, do futuro parque municipal urbano no Planplavel (Plano Municipal de Áreas Protegidas, Áreas Verdes e Espaços Livres), e no Zepam (Zona Especial de Proteção Ambiental) no novo plano diretor de São Paulo, em 2023.
Souza conta que alunos de várias escolas já foram recebidos no Parque da Joia. Entre os visitantes estão estudantes do 3º ano do fundamental 1 do Céu Butantã, do 7º ano do fundamental 2 e do 8º ano da Arco, que é uma escola associativa. “Esse lugar tem um potencial pedagógico imenso”, diz.
No seu projeto de transformação do local, o coletivo, que reúne onze famílias, tem envolvido agentes locais como o CEU Butantã, além do poder público (subprefeitura do Butantã), de organizações não governamentais e da iniciativa privada. O desafio agora do Gente Joia é se acertar com a Secretaria da Saúde.
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