O mês de novembro terminou, o combate ao racismo não. Educadores têm buscado conhecimento e se empenhado para mostrar aos alunos que não basta não ser racista, é preciso ser antirracista.
Para a tomada de consciência, pais e famílias de crianças e adolescentes também têm papel fundamental e podem aproveitar dicas valiosas dos educadores, como a leitura de livros sobre o tema.
Hoje trago os exemplos de duas professoras negras da rede pública de São Paulo que foram além da obrigatoriedade curricular. Ambas sentiram a falta de referências sobre sua ancestralidade nos livros de história durante a infância, adolescência e na trajetória escolar. Agora, levam para dentro da sala de aula, com criatividade e conhecimento acadêmico, a educação antirracista.
A professora Luciana Aparecida Azevedo Conceição, 42 anos, leciona em tempo integral na mesma escola estadual em que estudou, a Professor Adhemar Antônio Prado, em São Mateus, zona leste da capital paulista.
Formada em história, pedagogia e artes visuais, e pós-graduada em história, psicopedagogia e cultura afro-brasileira ela lembra que não teve letramento racial nem na escola nem na faculdade, mas queria conhecer a própria origem, além de passar o conhecimento adiante.
Quando fez faculdade, em 2002, não teve história da África ou outra disciplina que falasse sobre negritude ou sobre o Movimento Negro.
“Isso me incomodava muito. Por isso resolvi fazer a pós. É uma herança que infelizmente não está sendo valorizada. Na minha época na escola não tinha nada disso, mas como professora de história, como ser humano, faço de tudo para que os meus alunos tenham uma educação antirracista.”
Luciana leciona História para os 8° e 9° anos, alunos com idades entre 13 e 15 anos, além do Projeto de Vida para os 6° anos, estudantes com média de 11 anos. Nas aulas, a professora propõe atividades que vão além dos livros, como a confecção de máscaras e bonecas africanas, pesquisa de pratos típicos, desenhos para colorir e jogos com palavras temáticas. Contudo, enfatiza que há outros colegas realizando atividades com o tema.
Desde o ano passado, quando desenvolveu um projeto sobre a origem das tranças, a professora presenciou uma transformação na autoestima dos alunos. “Hoje, vejo muitos deles empoderados, assumindo seus black powers e crespos, mesmo os mais novos, fazendo suas tranças.”
Ela diz que alguns alunos já vem de casa com essa consciência, mas outros começam a adquiri-la na escola. “Sei que tenho um papel fundamental nessa transformação de mentalidade. Dependendo da situação, reflito com eles sobre algumas posturas.”
Se surge alguma piada, por exemplo, Luciana diz que procura classificar se é bullying– intimidação repetitiva, quando há violência física ou psicológica em atos de humilhação ou discriminação, racismo ou racismo recreativo- que ocorre quando alguém usa de discriminação contra pessoas negras com intuito de diversão- e abordar a questão de uma forma didática.
Para Rauany Nataly Mota de Oliveira, 30 anos, professora da Emef General Paulo Carneiro Tomas Alves, da rede municipal, no Parque Vila Maria (zona norte), a implantação do currículo oficial antirracista foi um divisor de águas.
No momento, ela faz especialização sobre cultura africana e trabalha em uma comunidade periférica, onde a maioria das crianças é negra. “Tento trazer para os meus alunos o que realmente é a cultura, a representatividade, que existem autores negros, que nos livros há personagens negros, que podem ser o que quiserem.”
Rauany diz que demorou muito tempo para se reconhecer como uma mulher negra, além de sentir falta de representatividade e conhecimento. “Na minha época de escola não era tão comum falar sobre o tema, apenas fui conhecer autores negros depois de adulta.”
Em seu perfil no Instagram ela dá dicas de conteúdo para outros educadores, quem segundo ela, ainda buscam o conteúdo antirracista mais em novembro. Porém, acredita que aos poucos isso também mudará.
Entre as sugestões de livros as professoras indicam títulos como ‘Com Qual Penteado Eu Vou?, ‘O Pequeno Príncipe Preto’ e a ‘Coleção meu primeiro black power’. “Mesmo meus alunos ainda sendo pequenos eles se identificam muito com os personagens”, completa Rauany.
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