Chorar é uma experiência humana essencial. Claire Danes faz isso, assim como Kim Kardashian ou Michael Jordan. E não importa quanto tempo tenha passado desde a última vez que você derramou uma lágrima, não há dúvida de que você também já chorou.
Outras espécies produzem lágrimas, porém a nossa é a única que os cientistas dizem acreditar que chora consistentemente não apenas para lubrificar e proteger os olhos, mas também para expressar emoção —após uma separação, em cerimônias de formatura e ao assistir “Diário de uma Paixão”.
Uma das poucas coisas que nos tornam humanos de forma única, as lágrimas emocionais continuam sendo um enigma. Pesquisas revelaram que nossas emoções são ainda mais complicadas do que os neurocientistas pensavam; não há uma área específica do cérebro responsável por sentimentos de tristeza ou raiva, por exemplo. E cientistas ainda não escanearam o cérebro das pessoas para ver o que acontece enquanto choram.
Ainda assim, algum progresso foi feito para nos ajudar a entender as lágrimas humanas —para compreender do que são feitas, por que as produzimos (alguns de nós mais do que outros) e por que produzi-las pode nos fazer sentir melhor.
OS TRÊS TIPOS DE LÁGRIMAS
Praticamente qualquer criatura que tenha globos oculares produz dois tipos de lágrimas: basais e reflexas. As primeiras mantêm o olho úmido, e as segundas são destinadas a protegê-lo de materiais que causam irritação, como poeira.
Os humanos também derramam um terceiro tipo, apropriadamente chamado de lágrimas emocionais, quando estão tristes, frustrados, sobrecarregados, felizes ou emocionados.
Todos os três tipos de lágrimas são estruturalmente semelhantes, pois são compostos principalmente de água, óleos, muco, proteínas antibacterianas e eletrólitos, segundo Darlene Dartt, professora de oftalmologia na Escola de Medicina de Harvard.
É bem provável que você raramente, se é que alguma vez, perceba as basais, que são liberadas em pequenas quantidades ao longo do dia. Conforme elas evaporam, a temperatura na superfície dos globos oculares diminui ligeiramente, sinalizando que os olhos devem produzir mais lágrimas desse tipo para evitar o ressecamento.
As reflexas e as emocionais liberam mais líquido. Esse líquido extra vem principalmente de glândulas lacrimais especiais localizadas sob as sobrancelhas que são reguladas por células no tronco cerebral. Com as lágrimas reflexas, os nervos nos olhos sinalizam para o tronco cerebral que as lágrimas são necessárias para limpar o que está irritando-os. Para as lágrimas emocionais, os cientistas pensam que outras partes do cérebro ativam essas células do tronco cerebral para ligar as glândulas lacrimais.
POR QUE EVOLUÍMOS PARA CHORAR
Muitos animais choram em momentos de aflição. Especialistas pensam que eles —e nós— evoluímos para fazer isso na infância como um meio de sobrevivência. Isso porque os animais que choram vocalmente, ou seja, mamíferos e pássaros, tendem a depender de uma mãe ou pai. Os piados de um filhote de tordo e os balidos de um cabrito são a principal maneira do bebê solicitar cuidados de um dos pais quando está com fome, assustado ou com dor.
No entanto, os animais não derramam lágrimas emocionais quando choram. E nas primeiras semanas de vida, os humanos também não o fazem. Em vez disso, semelhante a outros animais, bebês recém-nascidos produzem um choro comovente (e ensurdecedor). Então, em algum momento no primeiro ou segundo mês, um fluido salgado também começa a cair de seus olhos.
Ainda é cercado de mistério por que começamos a produzir lágrimas quando estamos chateados, em vez de continuar a chorar com os olhos secos como preguiças ou morcegos fazem.
É possível que o ato de franzir o rosto para soltar um grito coloque pressão nos globos oculares, estimulando as glândulas lacrimais, de acordo com Ad Vingerhoets, professor emérito de psicologia clínica na Universidade de Tilburg, nos Países Baixos, e um dos principais especialistas em choro humano. É por isso que bocejar, rir e vomitar também podem levar às lágrimas, acrescentou.
Lágrimas também podem ter uma vantagem evolutiva sobre uivos e, conforme envelhecemos, nos tornamos mais capazes de chorar silenciosamente. Enquanto qualquer pessoa em um avião pode ouvir um bebê chorar, apenas aqueles sentados nos assentos perto de você verão lágrimas escorrerem pelo seu rosto enquanto você assiste à sequência de abertura de “Up”.
Dessa forma, as lágrimas podem alertar de forma mais sutil os outros próximos sobre o sofrimento de alguém sem expor a pessoa a predadores que possam estar à espreita, segundo Lauren Bylsma, professora associada de psiquiatria e psicologia na Universidade de Pittsburgh.
MOTIVOS PELOS QUAIS CHORAMOS MUDAM CONFORME ENVELHECEMOS
Nos primeiros anos de nossas vidas, derramamos lágrimas principalmente relacionadas às nossas próprias experiências —um joelho machucado, uma picada de abelha ou um sorvete derrubado.
Isso começa a mudar conforme envelhecemos e nos tornamos mais emocional e socialmente desenvolvidos. Choramos menos em resposta à dor física e mais por nossas conexões emocionais com outras pessoas. “Seu mundo se torna maior, então há mais pessoas que se tornam mais importantes para você”, disse Vingerhoets.
Uma das razões mais comuns para chorar é a ausência ou perda de um ente querido, seja por saudades na infância, coração partido na adolescência ou luto por uma morte em qualquer idade. Também choramos pelas dificuldades dos outros. Essas lágrimas empáticas podem ocorrer porque estamos nos imaginando no lugar de outras pessoas, sejam amigos, estranhos ou até personagens fictícios. Na verdade, é assim que os cientistas estudam o choro: eles mostram às pessoas um trecho triste de um filme e veem se isso faz brotar as lágrimas.
Embora a tristeza seja a emoção mais comumente associada ao choro, o que muitas experiências lacrimosas têm em comum é um sentimento de impotência. Esse sentimento de impotência muitas vezes acompanha lágrimas de frustração e pode até explicar as lágrimas que algumas pessoas derramam quando se sentem emocionalmente sobrecarregadas, seja de alegria, ansiedade ou admiração. Na verdade, Vingerhoets chamou a impotência de “o elemento central do choro”, já que remete ao propósito evolutivo original das lágrimas: necessidade de assistência ou apoio.
POR QUE ALGUMAS PESSOAS CHORAM MAIS DO QUE OUTRAS
Como clichê, o maior preditor de com que frequência alguém chora é o gênero. Pesquisas descobriram que as mulheres choram consistentemente com mais frequência do que os homens.
Muita dessa diferença provavelmente é resultado de pressões sociais e normas de gênero, na avaliação de especialistas. Considere o fato de que meninos e meninas choram aproximadamente na mesma quantidade, segundo Jonathan Rottenberg, professor de psicologia da Universidade de Cornell. Só com o tempo é que uma lacuna de gênero lacrimosa começa a surgir. Parte da razão pode ser que a sociedade ensina em grande parte aos meninos a importância de serem fortes.
“Os meninos podem inibir seu choro com medo de violar um estereótipo de gênero”, afirmou Rottenberg.
Hormônios também podem desempenhar um papel. A diferença de gênero no choro tende a surgir durante a adolescência, quando os hormônios sexuais entram em ação, e uma hipótese é que a testosterona pode suprimir as lágrimas ou que as oscilações nos níveis de estrogênio tornam a resposta de choro mais provável. Mas há pouca pesquisa sobre o assunto, e um dos poucos estudos que examinaram a conexão entre hormônios e lágrimas descobriu que, apesar das crenças comuns sobre a síndrome pré-menstrual, as mulheres não eram mais propensas a chorar durante nenhuma fase específica de seus ciclos.
Certos traços de personalidade parecem influenciar quanto as pessoas choram. Pessoas altamente empáticas tendem a relatar mais choro, assim como pessoas mais neuróticas, de acordo com Vingerhoets. E então há coisas que fazemos com nossos corpos que aumentam as chances — principalmente, beber álcool e negligenciar o sono. Qualquer um dos dois pode fazer as pessoas chorarem mais facilmente, muito provavelmente porque diminuem a inibição, tornando mais difícil conter as lágrimas.
OS BENEFÍCIOS DE UM BOM CHORO
Talvez o debate mais duradouro entre os pesquisadores seja o motivo pelo qual chorar frequentemente faz as pessoas se sentirem melhor.
Um dos maiores estudos para investigar o conceito perguntou a milhares de pessoas ao redor do mundo sobre a última vez que derramaram lágrimas. Um pouco mais da metade relatou se sentir melhor depois, quase 40% não sentiram diferença e 10% disseram que na verdade se sentiram pior.
Chorar, especialmente quando sozinho, pode servir como uma espécie de autoterapia. “Isso te força a pensar sobre o que quer que você esteja chorando”, disse Bylsma. “Para lidar com isso cognitivamente, emocionalmente, e processar de certa forma aquilo que está te perturbando.”
As pessoas tendem a relatar sentir-se melhor se o episódio de choro foi provocado por um problema que poderia ser resolvido, como uma discordância com um parceiro, em vez de por uma situação fora de seu controle, como a perda de um ente querido, segundo Vingerhoets.
Em situações sociais, o maior fator que influencia como você se sente após chorar é como as pessoas ao seu redor reagem. As pessoas que recebem uma resposta de apoio, como um abraço ou validação de seus sentimentos, tendem a se sentir melhor, enquanto aquelas cujas lágrimas são recebidas com raiva ou ridicularização têm mais probabilidade de se sentirem pior.
Isso faz sentido, pois os especialistas dizem acreditar que o objetivo principal da lágrima, não importa a idade, é comunicar angústia aos outros. “Está lá para sinalizar aos outros quando ajuda é necessária e quando alguém está se sentindo separado e não ligado ao cuidado”, disse Rottenberg.
E uma lição: quando alguém chora perto de você, mostre que está lá para essa pessoa. A ciência diz que realmente ajuda.