Se o projeto da nova ponte entre Tocantins e Maranhão seguir as premissas técnicas do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte), a segurança viária será prejudicada.
A afirmação é da arquiteta urbanista Suzana Nogueira, especialista em mobilidade urbana com passagens pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo), SPTrans e Prefeitura de Guarulhos.
A pedido do Ciclocosmo, Suzana analisou as dimensões apresentadas pelo Dnit para a obra de transposição do rio Tocantins, entre Aguiarnópolis (TO) e Estreito (MA), em substituição à ponte que colapsou em 22 de dezembro, matando ao menos 14 pessoas.
Segundo ela, as dimensões propostas pelo Dnit são antiquadas e criam condições para infrações de trânsito de alto risco além de impossibilitar a construção de ciclovias adequadas às normas do próprio órgão.
“O intuito não é ter velocidade alta na ponte. Pontes são locais onde há a necessidade de reduzir ao máximo os riscos. Mas o que vemos é um acostamento de classe especial, para rodovias com velocidade de 100 km/h”, diz Suzana ao verificar a proposta do Dnit.
Em texto divulgado no dia 31 de dezembro, o órgão federal sugere à construtora contratada emergencialmente por R$ 172 milhões uma ponte de 630 metros de comprimento e 19 de largura. O tabuleiro estaria dividido entre duas faixas de rolamento de 3,6 metros, duas faixas de acostamento de três metros, duas calçadas de 2,3 metros e duas barreiras do tipo “New Jersey” de 40 centímetros.
O comunicado do Dnit menciona a construção de uma ciclovia, mas não aponta sua posição ou dimensões. Em uma projeção dos itens descritos, o espaço ocupado impossibilita estruturas cicloviárias dentro das normas do Manual de Projeto Geométrico de Travessias Urbanas, elaborado pelo próprio Dnit.
De acordo com o manual, ciclovias sobre pontes devem ter largura mínima de 1,2 metros para cada sentido e passeios de pedestres devem ter no mínimo 1,2 metros com seções de 1,5 metros para manobra de cadeiras de rodas. O manual alerta que faixas compartilhadas devem ser evitadas sobre pontes.
Ou seja, não sobra espaço na largura do tabuleiro para qualquer tipo de estrutura cicloviária, o que fere uma das principais diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana: a priorização dos modos de transportes não motorizados sobre os motorizados.
“É uma proposta de projeto geométrico, não de sinalização. Então, provavelmente, estão prevendo uma ciclofaixa sobre o passeio ou uma calçada compartilhada, ambas fora dos padrões do Dnit”, diz Suzana.
“Nessas dimensões, os ciclistas provavelmente vão escolher rodar pelo acostamento. Além disso, os acostamentos com três metros de largura aumentam a probabilidade de ver veículos não autorizados o utilizando para o tráfego. Poderiam reduzir o acostamento para 2,5 metros de largura, isso evitaria sua invasão e ajudaria a qualificar a segurança viária além de abrir espaço para a construção da ciclovia”, completa.
Suzana já esteve na região e observou a necessidade de ciclovia na ponte e nas duas cidades. “É uma região de planície onde um grande número de trabalhadores usa a bicicleta no dia a dia e por onde passam muitos caminhões pesados.”
Suzana também sugere outras modificações ao projeto. “Não são necessárias as barreiras New Jersey, podem usar uma mureta mais estreita. É muito importante incluir a construção de um canteiro central. Em rodovias, o canteiro central reduz os sinistros de ultrapassagens irregulares pela contramão e evita mortes.”
Questionado sobre as dimensões da ciclovia, o Dnit enviou ao Ciclocosmo o mesmo texto divulgado em 31 de dezembro, que não traz informações sobre a dimensão da ciclovia.
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