Van Gogh: Uma banana presa com fita adesiva? É isso que chamam de arte no século XXI?
Miró: Vincent, meu caro, ao contrário do que diria René Magritte, uma banana não é só uma banana. Veja sob outro ângulo, abrace o absurdo. Essa banana é uma representação da nossa própria complexidade, uma subversão da realidade, e, no fim das contas, o que é a arte, senão isso?
Van Gogh: Não viaja, Joan, essa banana foi vendida por US$ 5 milhões. Tem ideia do que é isso?
Picasso: … em criptomoedas.
Miró: Brilhante! Mais abstrato impossível.
Van Gogh: Eu me jogo inteiro nas minhas telas, entrego emoção e paixão a cada pincelada. Fiz mais de 2.000 obras, só vendi um quadro. Um! Aqui temos uma banana e uma fita adesiva, e as pessoas “ooohhh!”. E depois eu é que sou o louco. Talvez eu devesse agir mesmo como tal e colar girassóis na parede com durex.
Picasso: Não pense pequeno, você precisa ser mais ousado. Inove, pegue aquela sua orelha, corte em pedacinhos e crie uma escultura cubista.
Van Gogh: Já era. Nem sei onde foi parar minha orelha depois que eu dei para aquela meretriz.
Picasso: Pensando bem, a banana também já era. O comprador comeu a fruta em uma coletiva de imprensa e a grande obra está sendo digerida no seu intestino.
Miró: Bravíssimo! Mais performático impossível. Meus amigos, esse Maurizio Cattelan é um verdadeiro gênio. Além de bananas, ele já conseguiu formar filas de pessoas para urinar e defecar na “America”, uma privada de ouro maciço, com descarga e tudo, instalada no Guggenheim. Depois, ela sumiu, e dizem que o roubo foi encomendado pelo artista que incorporou o roubo à própria obra.
Van Gogh: Impressionante!
Miró: Surreal!
Picasso: Disruptivo!
Miró: E não é só isso, Vincent. Quando a Casa Branca, em 2017, pediu emprestado o seu quadro, “Paisagem com Neve”, para colocar nos aposentos particulares do então presidente Donald Trump, o museu ofereceu a privada do Cattelan.
Van Gogh: Trocar o meu quadro por uma privada? Eu definitivamente não entendo nada de arte.
Picasso: Acostume-se com a ideia, hoje não importa o que você faz, mas como você vende “o conceito”. Veja só, aquele artista italiano, Salvatore Garau, que vendeu uma escultura invisível por 15 mil euros em um leilão. Foram 15 mil euros por uma obra invisível, por um nada. Nihil!
Miró: Pablito, uma escultura imaterial, ainda que não exista, existe, compreende?
Van Gogh: Tanto quanto a roupa nova do rei.
Miró: O vácuo é o novo cheio, é um espaço cheio de energia. Abram suas mentes e seus corações que vocês conseguirão sentir. Essa obra é uma preciosidade justamente por poder ser o que cada um quiser que ela seja.
Van Gogh: E vocês caem nessa?
Picasso: Você ainda não entendeu, Vincent. Esqueça seus girassóis, seus retratos e suas paisagens dramáticas. Vá para outro caminho, se quiser vender. Que tal cortar sua orelha, a que sobrou, e colar na parede com uma fita adesiva e criar a obra “A Orelha Invisível”? Convoque as pessoas a ouvirem o grito do silêncio interno de cada um.
Van Gogh: Ótima ideia, Pablo. Me dê essa faca aí.
Picasso: Não seja louco, aqui não.
Van Gogh: É só para cortar essa banana para eu comer com aveia.
Miró (levantando sua taça de vinho imaginária): O absurdo é o novo belo. Às privadas, ao vazio e às bananas invisíveis!
Van Gogh: E aos bananas que consideram isso arte.
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