A investigação da Polícia Federal que levou à Operação Contragolpe, desencadeada na manhã desta terça (19) com a prisão de quatro militares e um policial federal, aponta uma possível ligação entre a suposta tentativa de golpe de Estado com as explosões ocorridas na semana passada em Brasília, que deixaram uma pessoa morta.
De acordo com a autoridade, os envolvidos neste esquema foram responsáveis pelo clima de acirramento político ao longo do ano de 2022, com dúvidas sobre o processo eleitoral e a incitação popular contra a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à presidência da República.
“Tais fatos criaram o ambiente propicio para o florescimento de um radicalismo que culminou nos atos do dia 8 de janeiro de 2023, mas que ainda se encontra em estado de latência em parcela da sociedade, exemplificado no atentado bomba ocorrido na data de 13/11/2024 na cidade de Brasília/DF”, disse a PF no ofício enviado ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), para autorizar a operação.
Na semana passada, um homem atirou bombas caseiras contra o prédio do STF na Praça dos Três Poderes e acionou mais explosivos em um carro no estacionamento do Anexo IV da Câmara dos Deputados. Embora os artefatos não tenham causado danos ao patrimônio público, a Polícia Federal entrou na investigação por suspeita de atentado.
As investigações prosseguiram e indicaram que ele havia alugado uma residência em Ceilândia, uma região administrativa do DF a cerca de 30 quilômetros de Brasília, e armazenado mais explosivos – alguns deles prontos para serem detonados durante trabalho da perícia. A Polícia Federal precisou utilizar um robô para desarmar os artefatos, mas um deles gerou uma “explosão gravíssima”, segundo relatou o diretor-geral da corporação, Andrei Passos Rodrigues.
No banheiro da residência havia uma mensagem escrita no espelho endereçada a uma mulher que vandalizou a estátua da Justiça em frente ao STF durante os atos de 8 de janeiro de 2023.
“A organização criminosa investigada tinha o objetivo de incitar parcela da população ligada à direita do espectro político a resistirem à frente das instalações militares para criar o ambienta propicio ao golpe de Estado. Para isso, utilizaram o modus operandi da milícia digital, para disseminar, por multicanais, fake News sobre possíveis fraudes nas eleições de 2022 e ataques sistemáticos a ministros do STF e do TSE”, completou a PF nas alegações ao STF para a operação desta terça (19).
“Kids pretos” instigaram animosidade, diz PF
A autoridade indicou, ainda, que esse modo de atuação “foi robustecido pelo emprego de técnicas de ações psicológicas e propaganda estratégica no ambiente politicamente sensível pelo ‘Kids Pretos’, instigando, auxiliando e direcionando líderes das manifestações antidemocráticas conforme seus interesses”.
Os “kids pretos” são uma força especial do Exército com alto grau de treinamento e que teve quatro militares presos mais cedo: o general da reserva Mario Fernandes, o tenente-coronel Helio Ferreira Lima, o major Rodrigo Bezerra Azevedo e o major Rafael Martins de Oliveira. Também foi preso o policial federal Wladimir Matos Soares. Este último atuou na segurança de Lula durante o período de transição e teria vazado informações estratégicas ao grupo supostamente com a participação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
“As investigações apontam que a organização criminosa se utilizou de elevado nível de conhecimento técnico-militar para planejar, coordenar e executar ações ilícitas nos meses de novembro e dezembro de 2022. Os investigados são, em sua maioria, militares com formação em Forças Especiais (FE)”, disse a PF na nota informativa da operação.
Ainda segundo a autoridade, foi identificada a existência de um detalhado planejamento operacional denominado “Punhal Verde e Amarelo”, que “seria executado no dia 15 de dezembro de 2022, voltado ao homicídio dos candidatos à Presidência e Vice-Presidência da República eleitos” e do próprio ministro Alexandre de Moraes.
As investigações afirmam que o grupo usaria armamento pesado e envenenamento para a execução das autoridades.
Os documentos apreendidos mostram que o planejamento incluía a utilização de recursos bélicos e humanos, com técnicas militares avançadas, além da criação de um “Gabinete Institucional de Gestão de Crise” para gerenciar os conflitos decorrentes das ações.
A PF acredita que a organização atuava com um esquema meticuloso, indicando alta preparação estratégica para a execução das ações supostamente golpistas.