Cientistas descobriram como o sangue humano envelhece e o que permite que uma espécie de anfíbio substitua partes perdidas do corpo, em dois avanços simultâneos que podem abrir caminho para novas terapias de rejuvenescimento.
Um grupo de pesquisadores detectou mudanças biológicas que aumentam a vulnerabilidade das pessoas a doenças, enquanto outro descobriu como salamandras feridas desenvolvem novos membros e órgãos internos.
A chegada simultânea dos dois estudos destaca o intenso interesse de pesquisa em técnicas para prolongar a vida humana, buscando maneiras de retardar, interromper ou até mesmo reverter danos corporais.
“Se quisermos ir além dos tratamentos genéricos antienvelhecimento e entrar na verdadeira medicina de precisão para o envelhecimento, esse é exatamente o tipo de ferramenta de que precisamos”, disse Lars Velten, coautor da pesquisa sobre sangue publicada nesta quarta-feira (21) na revista Nature.
Velten e colegas de organizações lideradas pelo Centro de Regulação Genômica e o Instituto de Pesquisa em Biomedicina em Barcelona, na Espanha, analisaram como as células-tronco humanas que produzem sangue mudam ao longo da vida.
Com o tempo, as células-tronco começaram a ser dominadas por um pequeno grupo —conhecido como “clones”—, que tende a produzir células imunes chamadas células mieloides. Estas estão ligadas à inflamação crônica, que pode provocar uma ampla variedade de problemas de saúde. A mudança em direção aos clones era detectável a partir dos 50 anos e estava pronunciada uma década depois, descobriu a equipe.
“A mudança da diversidade para a dominância não é aleatória”, afirmou o coautor do estudo Indranil Singh, que realizou o trabalho no IRB Barcelona e agora está no Instituto Broad, nos Estados Unidos. “Aos 50 anos, já é possível ver o início desse processo e, após os 60 anos, torna-se quase inevitável.”
Os pesquisadores fizeram suas descobertas lendo “códigos de barras” químicos deixados pelas células-tronco quando se dividem para produzir gerações sucessoras. Eles esperam que o trabalho revele sinais de alerta para leucemia mieloide aguda e outras condições, além de impulsionar pesquisas mais amplas sobre possíveis técnicas de rejuvenescimento.
O estudo descreveu um “novo método poderoso” para rastrear como as células sanguíneas se desenvolvem e se alteram com a idade, disse Dusko Ilic, professor de ciências de células-tronco no King’s College London.
“Isso mostra potencial para detectar sinais precoces de doenças como problemas cardíacos, câncer ou distúrbios imunológicos e poderia até orientar futuros tratamentos para retardar ou reverter mudanças prejudiciais na produção de células sanguíneas”, acrescentou o docente.
Ilic afirmou, porém, ver obstáculos significativos para transformar a técnica em ferramentas preditivas e terapias. Estes incluíam a compreensão incompleta de todos os clones observados e a falta de precisão do método necessária para identificar clones “pequenos, mas potencialmente importantes”.
O estudo do axolote, também publicado na Nature nesta quarta-feira, investigou como os anfíbios regeneram membros perdidos devido à mordida de um vizinho agressivo ou outro acidente.
Pesquisadores do Instituto de Biotecnologia Molecular da Academia Austríaca de Ciências descobriram como um gene, conhecido como Hand2, ajuda a direcionar onde a parte substituta deve crescer.
“Esses mesmos genes também estão presentes em humanos, e o fato de que o axolote reutiliza este circuito durante a vida adulta para regenerar um membro é empolgante”, disse Elly Tanaka, autora sênior do estudo. “Isso sugere que, se uma memória semelhante existir nos membros humanos, os cientistas poderão um dia ser capazes de direcioná-los para desbloquear novas capacidades regenerativas.”
A “pesquisa belíssima” destacou como os axolotes são os “campeões da regeneração” entre os animais adultos, segundo o biólogo Mark Ferguson, especializado em cicatrização e cura.
Se as células em humanos adultos demonstrarem ter “memórias” semelhantes de suas posições, isso poderia ajudar no desenvolvimento de técnicas para criar tecidos substitutos, afirmou Ferguson, ex-conselheiro científico chefe do Governo da Irlanda.