A bióloga Yara Barros, 59, recebe nesta quarta-feira (30) o Whitley Award, o maior prêmio internacional sobre conservação de fauna e flora. Ela coordena há 30 anos o projeto Onças do Iguaçu, no Paraná, de preservação da espécie classificada como criticamente ameaçada de extinção.
A cerimônia de premiação, considerada no segmento como o “Oscar” verde, acontece em Londres e reconhece o trabalho de outros cinco conservacionistas de diferentes países. Cada um recebe 50 mil libras (cerca de R$ 380 mil, na cotação atual) para aplicar em seus projetos no prazo de um ano.
“Eu estou muito feliz pelo reconhecimento de 30 anos de carreira voltada a conservação”, disse Barros à Folha. “O prêmio dá maior visibilidade para o projeto e mais chances de encontrar parcerias. O recurso nos permite ampliar nossas ações.”
“Eu atribuo a gente ter ganhado à boa proposta e ao bom trabalho que temos. Minha equipe está, realmente, fazendo a diferença na conservação da onça-pintada na mata atlântica e eu tenho um histórico de dedicação nessa área.”
A bióloga destaca que o valor do prêmio Whitley será utilizado na compra de equipamentos, treinamento e contratação de pessoal, além de realização de censo e aquisição de armadilhas fotográficas. Segundo ela, o projeto investe anualmente cerca de R$ 800 mil para manutenção de suas atividades.
O projeto é desenvolvido pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), em parceria com o Parque Nacional do Iguaçu, o Instituto Pró-Carnívoros e o WWF Brasil.
De acordo com Barros, a iniciativa busca garantir a conservação da onça-pintada como espécie-chave da biodiversidade do Parque Nacional do Iguaçu, que possui 185 mil hectares. As ações consistem em pesquisa, engajamento, capacitação e apoio a políticas públicas e de comunicação.
“A gente faz cerca de 400 visitas por ano em dez municípios do entorno do parque do Iguaçu. O tempo inteiro a equipe está em contato com a comunidade. O projeto tem o componente de pesquisa, a gente captura as onças, coloca colar de monitoramento e armadilhas fotográficas para estimar o tamanho da população, além de avaliar a disponibilidade de presa”, explicou.
Barros atua ainda na conscientização da população para evitar incidentes. No projeto, as comunidades recebem guias de coexistência e de manejo de carcaça com objetivo de melhorar a relação entre humanos e os maiores felinos das Américas.
“No ambiente natural, sem alteração, a tendência das onças é fugir das pessoas. Nas raras vezes que a gente encontrou as onças na natureza, não deu tempo de pegar o celular para tirar foto, porque elas realmente se mandam”, afirmou.
Em 22 de abril, o caseiro Jorge Avalo, 60, foi encontrado morto após ser atacado por uma onça-pintada às margens do rio Miranda, em Aquidauana (MS), no pantanal. O animal foi capturado e pode não retornar à natureza devido à suspeita de alteração comportamental relacionada à ceva —alimentação irregular de animais silvestres para facilitar avistamentos.
“O senhor vivia sozinho e alimentava essa onça. Ele atraía o felino porque gostava do bicho. Só que a onça não é domesticável. Na medida que a pessoa começa a fornecer alimento ao animal silvestre, ele passa a viver em cativeiro, mesmo com paredes invisíveis. Altera totalmente a relação entre homem e onça. Numa situação normal, o felino jamais teria chegado tão perto”, frisou Barros.
Além dos felinos, a bióloga atuou há 15 anos na conservação da ararinha-azul, hoje extinta na natureza (a espécie existe apenas em cativeiro). Ela relata que, quando começou a trabalhar com esta ave, havia um último indivíduo na natureza, no sertão da Bahia.
Barros também vai receber neste ano, por seu papel na conservação de onças, o prêmio Wings – Women of Discovery, voltado para mulheres cientistas, exploradoras e conservacionistas. O título será dado em outubro nos Estados Unidos.