Dezessete pegadas descobertas no sudeste da Austrália, feitas aproximadamente 355 milhões de anos atrás, estão reescrevendo a história da evolução dos vertebrados terrestres.
As pegadas fossilizadas, aparentemente feitas em uma margem de rio lamacenta antiga, incluem duas trilhas mais uma impressão isolada. Todas exibem características de rastros de répteis, incluindo forma geral, comprimento dos dedos e marcas de garras associadas, segundo pesquisadores. Elas parecem ter sido deixadas por um réptil com dimensões corporais semelhantes às de um lagarto.
As pegadas revelam que os répteis existiram cerca de 35 milhões de anos antes do que se conhecia anteriormente, mostrando que a evolução dos vertebrados terrestres ocorreu mais rapidamente do que se pensava.
“Isso é algo bastante radical”, disse o paleontólogo Per Ahlberg, da Universidade de Uppsala (Suécia), que liderou o estudo publicado nesta quarta-feira (14) na revista Nature.
As pegadas foram preservadas em uma laje de arenito medindo cerca de 35 cm de largura, encontrada nas margens do rio Broken, próximo à cidade de Barjarg, no estado de Victoria.
A história dos vertebrados terrestres começou com peixes deixando a água, um marco na evolução da vida na Terra. Esses animais foram os primeiros tetrápodes —que significa “quatro pés”— e foram os precursores dos vertebrados terrestres atuais: anfíbios, répteis, mamíferos e aves. Pegadas na Polônia datadas de aproximadamente 390 milhões de anos atrás representam a evidência fóssil mais antiga desses primeiros tetrápodes, que viviam um estilo de vida anfíbio.
Essas criaturas foram as ancestrais de todos os vertebrados terrestres posteriores. Seus descendentes se dividiram em duas linhagens principais: uma levando aos anfíbios atuais; e a outra aos amniotas, um grupo que abrange répteis, mamíferos e aves.
Os amniotas, os primeiros vertebrados a pôr ovos em terra e, assim, finalmente se libertarem da água, dividiram-se em duas linhagens, uma levando aos répteis e a outra aos mamíferos. As aves evoluíram muito mais tarde a partir de ancestrais répteis.
As pegadas australianas têm aproximadamente 3 a 4 centímetros de comprimento cada uma. Parecem ter sido deixadas por três indivíduos da mesma espécie de réptil, sem marcas de arrasto de cauda ou corpo. Nenhum resto de ossos foi encontrado, mas as pegadas oferecem alguma ideia de como era o réptil que as fez.
“Os pés têm forma semelhante a lagartos, e a distância entre o quadril e o ombro parece ter sido cerca de 17 cm. Não sabemos nada sobre o formato da cabeça, o comprimento do pescoço ou o comprimento da cauda, mas, se imaginarmos proporções semelhantes às de um lagarto, o comprimento total poderia ter sido na região de 60 cm a 80 cm”, afirmou Ahlberg.
“Em termos de aparência geral, ‘semelhante a um lagarto’ é provavelmente a melhor descrição, porque os lagartos são o grupo de répteis vivos que mantiveram a mais próxima forma corporal ancestral”, acrescentou o paleontólogo.
Esse réptil provavelmente era um predador, porque a alimentação à base de plantas só apareceu mais tarde na evolução reptiliana. Os corpos dos répteis herbívoros tendem a ser grandes e desajeitados, enquanto esse evidentemente era ágil, com dedos longos e finos, segundo Ahlberg.
Os pesquisadores também descreveram pegadas fossilizadas de répteis recentemente identificadas na Polônia, datadas de 327 milhões de anos atrás, que se assemelham às da Austrália. Essas também são mais antigas do que as evidências anteriormente conhecidas mais antigas de répteis —fósseis encontradas no Canadá de uma criatura semelhante a um lagarto chamada Hylonomus, datada de cerca de 320 milhões de anos atrás, bem como pegadas fósseis aproximadamente da mesma época.
O réptil que deixou as pegadas australianas viveu durante o Período Carbonífero, uma época em que as temperaturas globais eram semelhantes às atuais, com gelo nos polos da Terra, mas uma região equatorial quente. A Austrália, naquela época, formava parte do antigo supercontinente Gondwana e estava localizada na borda sul dos trópicos. Havia florestas, parcialmente compostas por árvores gigantes de licopódios.
“As pegadas foram deixadas perto da margem da água do que provavelmente era um rio bastante grande, habitado por uma diversidade de peixes grandes”, afirmou Ahlberg.