A morte de Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, 38, empresário ameaçado pelo PCC (Primeiro Comando da Capital), e de Celso Araújo Sampaio de Novais, motorista de aplicativo que estava no local, é o caso mais recente de uma série de assassinatos com indícios de participação da organização criminosa.
Gritzbach era jurado de morte por membros da facção, e essa é uma das linhas de investigação do caso, embora as investigações ainda não tenham determinado quem foi o mandante do crime. Desde 2018, investigações têm apontado a ligação de várias mortes com desavenças internas no PCC.
Elas incluem mais de um assassinato a tiros em via pública, emboscadas e vinganças. Gritzbach era suspeito de envolvimento em ao menos um desses casos.
Relembre alguns dos principais casos:
Gegê do Mangue e Paca, 15.fev.2018
Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca, eram considerados as principais lideranças do PCC fora dos presídios quando foram mortos, em fevereiro de 2018.
Eles estavam num helicóptero, numa viagem com destino final à Bolívia, após passarem férias no litoral do Ceará. O helicóptero fez um pouso não programado numa clareira no meio da mata de uma reserva indígena, em Aquiraz (CE), onde foram assassinados e os corpos deixados na mata.
Os dois foram acusados de “roubar” o próprio PCC, desviando dinheiro. Essa teria sido a motivação da morte, segundo um bilhete encontrado na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, onde à época estava presa a cúpula da organização criminosa.
A investigação do caso apontou que dentro do helicóptero estava Wagner Ferreira da Silva, 32, conhecido como Cabelo Duro. Já a ordem para as mortes teria partido de Gilberto Aparecido dos Santos, conhecido como “Fuminho” —que foi preso em Moçambique dois anos depois.
Cabelo Duro, 22.fev.2018
Uma semana após a morte de Gegê do Mangue e Paca, Cabelo Duro foi morto com tiros de fuzil em frente a um hotel no Jardim Anália Franco, na zona leste da capital. Sua morte, segundo as investigações, foi uma resposta à sua participação no assassinato dos dois líderes do PCC.
Cabelo Duro era apontado como o principal líder da facção criminosa no litoral paulista. No momento em que foi morto, ele era alvo de um mandado de prisão da polícia do Ceará, pela suspeita de sua participação no duplo assassinato. Cabelo Duro era dono do helicóptero usado no crime.
As câmeras de segurança do hotel o mostraram fugindo de um homem que disparava tiros de fuzil. Durante a fuga, Cabelo Duro caiu aos pés de um homem que conversava com um rapaz e duas mulheres do lado de fora de um carro. Ao verem os tiros, os quatro saíram correndo.
O assassino se aproximou e deu um tiro na cabeça. Em seguida, fugiu de carro.
Galo Cego, 23.jul.2018
Quatro meses após as mortes na cúpula do PCC houve um novo ataque com tiros de fuzil, também na zona leste de São Paulo. A vítima dessa vez foi Cláudio Roberto Ferreira, 38, conhecido como Galo Cego.
O assassinato também foi desdobramento das mortes de fevereiro. Segundo a polícia, Galo Cego participou da emboscada que terminou com a morte de Cabelo Duro, ao telefonar e marcar o encontro em frente ao hotel onde ele foi morto.
Galo Cego havia acabado de estacionar carro na rua Coelho Lisboa quando os assassinos chegaram em dois carros, desembarcaram e dispararam tiros de fuzil. Na rua, os peritos encontraram ao menos 70 cápsulas. O veículo onde ele estava era blindado, mas não conseguiu impedir que o motorista fosse atingido pelos tiros.
Cara Preta e Sem Sangue, 27.dez.2021
Anselmo Becheli Santa Fausta, vulgo Cara Preta, e Antônio Corona Neto, o Sem Sangue, foram assassinados enquanto estavam dentro de um carro no Tatuapé, na zona leste da capital.
Imagens de uma câmera de segurança captou o momento em que um outro carro se aproximou do veículo onde os dois estavam. Um atirador sacou uma pistola automática e efetuou cerca de dez disparos. Os dois morreram no local.
Cara Preta era apontado como líder da facção criminosa e foi citado em mais de uma investigação sobre esquemas de lavagem de dinheiro do PCC. Em 2022, por exemplo, a Polícia Civil afirmou que ele e outros 17 criminosos da facção tinham participação societária na empresa UPBus, que operava linhas de ônibus municipais na zona leste da capital paulista.
Investigação do DHPP (Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa) sobre o caso afirmou que, em 2022, Cara Preta teria passado US$ 100 milhões a Gritzbach para que ele investisse o valor em criptomoedas. O dinheiro sumiu, segundo a investigação.
Gritzbach e outro homem chegaram a ser presos por suspeita de envolvimento com a morte. Em delação premiada, ele negou envolvimento no assassinato, mas admitiu participar de esquemas de lavagem de dinheiro para o grupo.
Noé Alves Schaun, 16.jan.2022
Menos de um mês após a morte de Santa Fausta e Corona Neto, policiais encontraram a cabeça de um homem na região do Tatuapé, zona leste da capital paulista. Ela foi colocada na praça 20 de Janeiro, a poucos metros do local onde Cara Preta e Sem Sangue foram mortos.
Dentro da boca da vítima havia um bilhete ligando a morte à possível guerra interna do PCC. “Esse pilantra foi cobrado em cima da covardia que ele fez em cima dos nossos irmãos ‘Anselmo’ e ‘Sem Sangue’”, dizia o bilhete, segundo a polícia.
A cabeça estava entre a guia da calçada e o pneu dianteiro de um veículo estacionado na via. Próximo do local também foi encontrado um saco com uma dentadura.