Quase metade dos brasileiros avalia que as prefeituras de suas cidades não estão fazendo nada para enfrentar os efeitos da crise do clima, mostra uma nova pesquisa do Datafolha.
O levantamento, encomendado pela Fundação SOS Mata Atlântica, ouviu a opinião da população sobre como as diferentes esferas de governo estão lidando com a emergência climática.
Foram entrevistadas 2.018 pessoas, com idade superior a 16 anos, em 113 municípios de todas as regiões do país, entre 5 e 12 de setembro. A amostra é representativa da população brasileira, e a margem de erro é de 2 pontos percentuais.
Para 46% dos entrevistados, a prefeitura de sua cidade não está fazendo nada para lidar com os impactos das mudanças climáticas. Outros 18% responderam que o governo municipal, responsável pela zeladoria das cidades, faz menos do que deveria, 20%, que faz o que deveria e 6%, que faz mais do que deveria. Os demais 10% não quiseram opinar.
Para Malu Ribeiro, diretora de Políticas Públicas da SOS Mata Atlântica, os municípios são atores importante neste contexto, uma vez que têm papel preponderante na definição do uso do solo.
“As prefeituras e as câmaras municipais têm a competência constitucional de criar áreas verdes, por exemplo. São elas que têm o poder de criar cidades mais resilientes, com rios recuperados, sem ocupação em áreas de várzea, com maior qualidade de vida para a população”, afirma.
A pesquisa mostra que o governo federal teve avaliação apenas ligeiramente superior aos governos estaduais e municipais.
Ainda que 39% tenham dito que essa esfera de poder não faz nada para enfrentar a crise do clima, 54% responderam que está fazendo algo —sendo que 25% disseram que faz menos do que deveria, 22%, que faz o que deveria e 7%, que faz além do que deveria.
Em relação ao governo de seu estado, 40% consideraram que a ação para enfrentar as mudanças climáticas é nula e 49%, que há algum tipo de ação —para 21%, é suficiente, para outros 21%, é menos do que o necessário e, para 6%, mais do que o necessário.
Nos três casos, a avaliação dos mais jovens foi mais negativa do que a dos mais velhos. Entre os que têm 24 anos ou menos, 37% acham que o governo municipal está fazendo algo em relação às mudanças climáticas, 42% disseram o mesmo sobre o governo de seu estado e 47%, sobre o governo federal.
No grupo dos que têm 60 anos ou mais, as porcentagens foram, respectivamente, 49%, 52% e 59% —ou seja, uma diferença de ao menos dez pontos percentuais.
“O jovem sente na pele a omissão da geração que deixou como herança rios poluídos, desmatamento, lixo. Ele quer resposta imediata, e os governos não falam o que ele quer ouvir”, analisa Ribeiro.
Segundo a especialista, os resultados da pesquisa mostram que a questão climática ainda não foi encampada adequadamente pelo poder público. “Isso revela a distância dos partidos políticos tradicionais da realidade que o mundo está vivendo”, afirma.
Para Ribeiro, a pior avaliação das prefeituras em relação às outras esferas de governo se deve a uma combinação de dois fatores: o impacto da crise do clima no dia a dia das cidades e a falta de estrutura do poder público municipal para lidar com adaptação climática e outros desafios ambientais.
“A realidade dos municípios, principalmente os menores, é que falta estrutura. Estamos vendo isso com a situação recente das queimadas e com a falta de defesa civil, brigadistas. Muitos não têm nem sequer secretaria de meio ambiente. E é justamente nas cidades que os eventos extremos climáticos pegam mais: enchentes, ilhas de calor, falta de água”, afirma.
Ribeiro também ressalta o pouco destaque do tema nas atuais eleições municipais. “Pouquíssimos candidatos e candidatas às prefeituras colocaram a questão da adaptação climática nas plataformas”, diz. “Será necessária uma pressão social muito grande para que o clima entre na agenda pública.”
A causa “Mata Atlântica: Regenerar e Preservar” tem o apoio da Fundação SOS Mata Atlântica.