Erica Liebman queria perder peso, mas estava nervosa para experimentar um medicamento como o Ozempic. Liebman, psicóloga na Filadélfia, tinha ouvido histórias assustadoras sobre efeitos colaterais —náusea, vômito, constipação intensa.
Então, Liebman recorreu a uma solução que, apesar de evidências limitadas, parece estar se tornando mais popular: “microdosagem” de medicamentos para perda de peso, ou tomar quantidades muito pequenas.
Para consumidores como Liebman, a microdosagem é um truque: uma maneira de perder peso enquanto evita efeitos colaterais desagradáveis das doses padrão. Em plataformas de mídia social, como Reddit e TikTok, as pessoas postam seus cronogramas de dosagem personalizados e compartilham supostos resultados.
Liebman conheceu a ideia quando ouviu Tyna Moore, uma influenciadora de saúde, falar em um podcast sobre microdosagem de Ozempic.
Moore promoveu a microdosagem não apenas para perda de peso, mas para ajudar com uma variedade de condições, incluindo pressão alta, doenças autoimunes e névoa cerebral. Em uma entrevista, Moore disse que quase 500 pessoas se inscreveram em seu curso online, “Ozempic Done Right University” (Universidade Ozempic do Jeito Certo), que custa mais de US$ 2.000 (cerca de R$ 12 mil) e inclui conselhos sobre microdosagem.
A questão agora é: a microdosagem é só um truque ou realmente funciona? Os médicos não têm certeza. Teoricamente, esses medicamentos são tão potentes que talvez até mesmo doses pequenas possam reduzir um pouco a fome, diz Daniel Drucker, pesquisador do Lunenfeld-Tanenbaum Research Institute, no Mount Sinai Hospital em Toronto e um dos primeiros cientistas a estudar medicamentos como o Ozempic.
Muitos que promovem a microdosagem online afirmam que as pequenas doses são suficientes para ajudá-los a perder alguns quilos e acalmar seus desejos. Outros afirmam que a microdosagem os ajuda a manter o peso que perderam enquanto tomavam doses padrão de medicamentos para perda de peso.
Ozempic, Zepbound e outros novos medicamentos para diabetes e perda de peso seguem um cronograma de titulação: os pacientes começam com uma dose baixa e depois aumentam para quantidades maiores ao longo de várias semanas.
Mas há poucos dados para sugerir que tomar doses ainda menores (digamos, 0,05 miligrama, em comparação com uma dose inicial padrão de 0,25 miligrama de Ozempic) pode levar à perda de peso ou ajudar a mantê-lo.
“Há esse desejo de ultra-personalização”, diz Andrew Kraftson, professor associado clínico na divisão de metabolismo, endocrinologia e diabetes na Michigan Medicine. “Eu posso entender isso e afirmá-lo. Mas não temos orientações para dizer às pessoas para fazerem microdosagem por conta própria.”
Se as pessoas perdem peso com pequenas doses, isso pode ser porque elas são o que os cientistas chamam de “super respondentes”, referindo-se a um subconjunto de pessoas que rapidamente perdem quantidades substanciais de peso com esses medicamentos.
Também é possível que os benefícios que alguns microdosadores afirmam ter visto sejam resultado do efeito placebo, diz Kraftson. Se as pessoas acham que estão recebendo um impulso do medicamento, podem se sentir mais encorajadas a fazer mudanças no estilo de vida que podem levar à perda de peso.
Michael Hammer, 47 anos, começou a microdosar Ozempic em 2022. Ele já havia tomado doses padrão do medicamento por três meses, mas odiava os efeitos colaterais. Ele sentia que ia vomitar sempre que comia. Ele comia tão pouco que estava preocupado em ficar desnutrido.
“Eu pensei, prefiro desistir do que ficar tão doente”, diz ele.
Hammer obteve sua prescrição de Ozempic por meio da Calibrate, uma empresa de telemedicina. Quando ele entrou em contato com a Calibrate para ver se havia alguma maneira de reduzir os efeitos colaterais, um funcionário sugeriu que ele poderia tentar a microdosagem.
Samantha Baker, vice-presidente de marketing da Calibrate, disse em um email que “é bem documentado na indústria, além da Calibrate, que alguns pacientes experimentam efeitos colaterais” com medicamentos como o Ozempic, e que “a microdosagem tem sido utilizada como uma estratégia para mitigar esses efeitos”.
Para Hammer, as doses menores foram uma ferramenta que o ajudou a fazer mudanças no estilo de vida. Agora que ele não se sentia doente o tempo todo, ele se exercitava mais e se concentrava em comer alimentos mais saudáveis. Ele perdeu 50 quilos. Ele ainda se sentia enjoado às vezes, mas não tão intensamente quanto com as doses maiores.
Microdoses provavelmente não são prejudiciais, diz Drucker, que consultou o fabricante do Ozempic, Novo Nordisk.
“Não estou preocupado que eles vão crescer três braços ou que algo horrível aconteça com eles”, diz.
Mas os médicos afirmam que estão preocupados com pacientes que tomam pequenas doses sem a orientação de um profissional médico. Estender as doses pode levar as pessoas a usarem medicamentos acidentalmente além da data de validade, diz Brianna Johnson-Rabbett, endocrinologista da Nebraska Medicine.
Vários médicos dizem que estavam preocupados que a tendência pudesse encorajar as pessoas a recorrerem a medicamentos compostos para perda de peso, que são versões imitadoras que a Food and Drug Administration (agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos) não avalia e que repetidamente alertou que vêm com riscos à saúde. Medicamentos compostos para perda de peso vêm em frascos que facilitam a personalização das doses em comparação com as canetas de marca.
Liebman toma um quinto da dose inicial recomendada de tirzepatida composta, uma versão da substância no medicamento para perda de peso Zepbound. Isso a ajudou a perder uma pequena quantidade do peso que ela achava difícil de eliminar desde que completou 40 anos.
Ela ainda sente fome, mas agora não tem problemas para parar de comer após uma refeição modesta. E ela se pega pensando menos em comida ao longo do dia —um resultado que ela disse que valeria a pena mesmo que não perdesse peso algum.