Após o incrível sucesso do último voo do Starship, e a demonstração da SpaceX de que pode recuperar o primeiro estágio para rápida reutilização, é difícil desacreditar da viabilidade do programa que promete revolucionar a exploração espacial. Contudo, a empresa ainda tem algumas etapas importantes a cumprir.
Para o ano que vem, será preciso demonstrar dois outros elementos essenciais para tornar o maior foguete do mundo de fato revolucionário. O primeiro é a capacidade de reabastecimento em órbita –algo que jamais foi feito nessa escala– e o segundo é o pouso suave do segundo estágio –algo que jamais foi feito, em qualquer escala.
Contudo, antes mesmo que essas duas tarefas sejam concluídas, o Starship começará a atuar como lançador de satélites em órbita baixa. Para que isso aconteça, falta apenas uma demonstração: a capacidade de reacender os motores Raptor, do segundo estágio, em órbita, para uma reentrada na atmosfera.
Até agora, os voos têm sido feitos numa trajetória suborbital, ou melhor, quase orbital, em que o veículo retornaria naturalmente ao oceano Índico sem qualquer intervenção propulsada. Questão de segurança. Caso a trajetória fosse de fato orbital, e os motores falhassem na volta, teríamos um estágio de 50 metros (um prédio de 15 andares) inerte em órbita, como lixo espacial. Ninguém quer isso.
Com tantos testes de reacendimento dos motores do segundo estágio para o pouso na água, já há confiança para dar o próximo passo. E aí o Starship passará a levar à órbita satélites da constelação Starlink, também da SpaceX, testando a capacidade de voar depressa e de forma custo-efetiva (meio que escanteando o Falcon 9, atual veículo de preferência da companhia para lançamentos comerciais).
Tudo isso é para o ano que vem. Para 2026, o desafio será demonstrar o Starship para um voo a Lua, prelúdio para seu uso como módulo de pouso tripulado na missão Artemis 3, da Nasa. A SpaceX também pretende, em 2026, lançar alguns Starships, não tripulados, para Marte, a fim de demonstrar a capacidade de pouso lá. É ousado, vamos ver se vai rolar ou vai ficar para a janela seguinte, 2028.
Nesse ínterim, o Starship, com sua alta capacidade de carga (tanto em volume como em massa), vai se tornar um recurso inédito para missões espaciais de todo tipo. O Pentágono já estuda sua aplicação para missões de defesa, transportando carga ponto a ponto na própria Terra (é possível levar boas toneladas a qualquer lugar do planeta em menos de uma hora).
Já a Nasa, para além de seu uso no programa Artemis, parece tímida em pensar nesse assunto. A hora é agora para começar a pensar em um programa que se beneficie das características únicas do Starship (sondas e telescópios de porte até então inconcebível) para dar esse novo salto na exploração do espaço.
Está claro que o Starship será totalmente funcional em mais um ano ou dois, e será importante que ele tenha o que fazer, para além do programa lunar. Isso sem falar no que deve perder sua utilidade –manter um foguete como o SLS, da Nasa, em operação, a um custo de US$ 2 bilhões por lançamento, quando há opção melhor e mais barata (um voo do Starship sai hoje por algo da ordem de US$ 100 milhões, com viés de baixa), será uma proposição cada vez mais difícil de manter.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, em Ciência.
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