Na costa da Baixa Califórnia, no México, a orca Moctezuma, 50, lidera seu grupo em ataques rotineiros aos maiores peixes do mar.
Houve relatos isolados no passado de que a espécie avançasse contra os tubarões-baleia. Mas um estudo, publicado na última sexta (28) na revista Frontiers in Marine Science, é o primeiro a mostrar que aquele grupo repetiu o comportamento ao menos quatro vezes.
Dos quatro eventos documentados de 2018 a 2024, Moctezuma estava presente em três deles. E o quarto foi realizado por orcas com as quais ele é conhecido por se associar.
Você pode encontrar orcas em todos os oceanos da Terra. As baleias-assassinas são na verdade o maior membro da família dos golfinhos. Como os golfinhos são um ramo da ordem das baleias, você poderia dizer que todos os golfinhos são baleias, mas nem todas as baleias são golfinhos. De maneira semelhante, os tubarões-baleia não são baleias, e sim tubarões, embora, como algumas baleias, sejam filtradores.
Apesar de existir apenas uma espécie de orca, os cientistas documentaram que muitas populações estão adaptadas a habitats específicos. Cada uma parece se alimentar de certos animais, incluindo filhotes de baleia, focas, salmões, raias e tubarões-brancos.
Os tubarões-baleia são gigantes gentis, mas os ataques coordenados de Moctezuma e seu grupo são brutais, segundo os cientistas. As orcas batem no peixe gigante por baixo, virando-os para induzir um estado catatônico. Também mordem as vítimas perto de seus órgãos genitais, o que faz com que sangrem até a morte.
O objetivo das orcas, de acordo com Francesca Pancaldi, bióloga marinha do World Wildlife Fund e autora principal do novo estudo, é chegar aos grandes fígados dos tubarões-baleia, que estão repletos de nutrientes e calorias.
Pancaldi destaca que todos os ataques documentados ocorreram contra tubarões-baleia juvenis, que têm cerca de 6 a 8 metros de comprimento.
“Os juvenis são definitivamente os mais vulneráveis”, disse Pancaldi, quando comparados aos adultos mais robustos, dos quais os maiores foram documentados crescendo para mais de 18 metros de comprimento.
Pancaldi e os coautores da pesquisa dizem não acreditar, por enquanto, que a pressão de predação das orcas represente um risco significativo para os tubarões-baleia, que são classificados internacionalmente como ameaçados de extinção devido a mudanças climáticas, poluição e colisões com barcos.
Alisa Schulman-Janiger, a principal pesquisadora de campo do Projeto Orca da Califórnia, disse que achou o estudo intrigante.
Em 1992, um colega havia retornado de uma viagem de pesca na Baixa Califórnia com uma história sobre ter visto duas orcas atacando um tubarão-baleia. Mas Schulman-Janiger nunca conseguiu confirmar o evento.
Além disso, Schulman-Janiger, que não estava envolvida na pesquisa, já havia encontrado Moctezuma antes. “Nós o vimos pelo menos duas vezes no sul da Califórnia”, disse ela, em 2002 e 2017.
Em ambas as ocasiões, Moctezuma estava acompanhado por uma fêmea. Schulman-Janiger se perguntou se a mesma fêmea poderia estar agora atacando os tubarões-baleia e, se sim, se ela poderia ser a mãe de Moctezuma, que o havia instruído nos métodos de caça ao fígado de tubarão-baleia.
Mães e avós são importantes na sociedade das orcas. Os cientistas descobriram, por exemplo, que as orcas são uma das poucas espécies a viver além da menopausa e que machos adultos que ainda têm mães vivas sobrevivem melhor do que aqueles que não as têm.
Embora documentar orcas se unindo para atacar tubarões-baleia seja algo novo, o comportamento provavelmente vem ocorrendo nos mares há muito tempo.
“O fato é que agora há mais olhos, e todos têm acesso a iPhones”, afirmou Pancaldi. “Todo mundo pode tirar uma foto ou um vídeo.”