A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) proibiu, no início de abril, a fabricação e a venda de suplementos alimentares compostos pela folha do ora-pro-nóbis. A decisão ocorreu pela ausência de comprovação científica sobre a segurança e a eficácia de tais suplementos, segundo a agência.
A medida da Anvisa não afeta o consumo in natura de ora-pro-nóbis, uma PANC (planta alimentícia não convencional) originária do continente americano e muito usada na culinária de Minas Gerais.
A planta possui benefícios comprovados para a saúde. Segundo a nutróloga Marcella Garcez, diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), relatos na literatura apontam que o ora-pro-nóbis possui leve atividade anti-inflamatória e antioxidante e ajuda a regular o funcionamento do intestino.
Por ser um vegetal, é também rico em minerais, vitaminas, fibras e ferro, além de bioativos que podem auxiliar na redução da absorção de glicose e gordura e na modulação do metabolismo, assim como qualquer alimentação balanceada com cereais, frutas e legumes, explica a nutricionista Cinthia Cazarin, professora do Departamento de Ciência de Alimentos e Nutrição da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp (Universidade de Campinas).
O problema, afirma Marcella Garcez, está no fato de as empresas venderem suplementos alimentares como eficazes para o tratamento ou a cura de doenças. Publicidade de suplementos de ora-pro-nóbis prometiam emagrecimento e controle do diabetes e do colesterol, por exemplo.
“O ora-pro-nóbis é um alimento funcional, utilizado historicamente no nosso país. Mas estão vendendo como um milagre que ele não tem como entregar. Não há comprovação científica para ser utilizado como suplemento ou medicamento fitoterápico”, afirma.
Outro atrativo do ora-pro-nóbis é a alta concentração de proteínas.
Estudos que analisaram sua composição apontam que a folha in natura pode conter 17,4 gramas de proteína por quilo; e 28,9 gramas por quilo de matéria seca, contendo principalmente L-lisina —aminoácido essencial que não é produzido pelo corpo humano e é responsável pela formação de colágeno, absorção de cálcio e produção de anticorpos.
Embora a proporção de proteína nas folhas de ora-pro-nóbis seja consideravelmente maior do que em outros vegetais, a planta não é completa em aminoácidos essenciais e por isso a alimentação dever se complementada com outros alimentos, como cereais.
A matéria seca é justamente a substância usada para produzir os suplementos em cápsula. Para alcançá-la é necessário drenar toda a água da planta, o que faz com que uma grande quantidade de folhas seja usada.
“E não temos estudos suficientes que comprovem qual é a dose máxima segura de consumo de ora-pro-nóbis”, explica Cinthia. “As pessoas tendem a achar que o natural não faz mal, mas pode fazer mal, sim.”
A especialista reitera, no entanto, que dificilmente alguém faria um consumo exagerado do alimento em sua condição natural. Em outras palavras, a folha do ora-pro-nóbis continua liberada para a alimentação, agregando para uma nutrição saudável e equilibrada —sem milagres.