A poucos dias do início da conferência do clima COP29, a ONU avaliou, nesta quinta-feira (7), que o mundo está longe de completar a sua preparação para as calamidades geradas pelas mudanças climáticas.
Os esforços globais para se adaptar à crise climática —desde a construção de barragens à plantação de cultivos resistentes a seca— não acompanharam o aquecimento global, que acelerou a frequência e a intensidade das catástrofes.
O ano de 2024 está prestes a se tornar o mais quente já registrado, anunciou também nesta quinta-feira o observatório europeu Copernicus. E este será provavelmente o primeiro ano em que o limite de 1,5°C de aquecimento será ultrapassado em relação aos níveis pré-industriais.
“As calamidades climáticas são a nossa nova realidade. E não estamos à altura disso”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, nesta quinta.
“Devemos nos adaptar, agora mesmo”, acrescentou, lembrando a lista de catástrofes climáticas recentes envolvendo enchentes, incêndios e furacões, entre outros.
As últimas inundações devastadoras na Espanha são a mais recente ilustração disso.
No entanto, de acordo com um relatório do Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), os fundos públicos internacionais atribuídos aos países mais pobres para medidas de adaptação estão longe de ser suficientes.
Os US$ 28 bilhões gastos em 2022 (R$ 146 bilhões de reais, na cotação da época) não cobrem nem sequer um décimo das necessidades, estimadas entre US$ 215 bilhões e US$ 387 bilhões (de R$ 1,23 trilhão a R$ 2,23 trilhões, na cotação atual) para 2030.
Na COP26, os Estados se comprometeram a dobrar este valor até 2025, para aproximadamente US$ 40 bilhões de dólares anuais (R$ 230 bilhões), masm mesmo assim, a lacuna de financiamento para a adaptação permaneceria enorme” e “não estaria à altura do desafio”, disse o Pnuma.
“Os Estados devem aumentar dramaticamente os seus esforços de adaptação e isso deve começar com um compromisso financeiro na COP29”, que começa na segunda-feira (11) em Baku, sublinhou o Pnuma, fazendo um apelo para que esta questão seja uma prioridade nos debates.
A maior parte dos fundos públicos atribuídos à luta contra a mudança climática destina-se à redução das emissões responsáveis pelo aquecimento global (a chamada mitigação), e não à adaptação às suas consequências, que afetam especialmente os países menos desenvolvidos.
No entanto, lembra Patrick Verkooijen, diretor-geral do Centro Global para Adaptação, “nenhuma nação, nenhuma comunidade está a salvo”.
A ONU destaca ainda que, além de aumentar os fundos, tanto públicos como privados, será necessário reforçar a transferência de tecnologias para melhorar a eficácia das medidas de adaptação, que atualmente “são muitas vezes aleatórias, caras e de curto prazo”.
No futuro, estas medidas deverão também ser “mais adiantadas” e não apenas reativas face a catástrofes.