O ano de 2024 chegou ao fim e, com ele, muitos de nós somos acometidos por um fascínio peculiar: fazer listas de resoluções para o ano novo. Perder peso, começar um curso, ser mais presente na família ou, simplesmente, levar a vida de forma mais leve. Mas o que há por trás desse ritual tão comum? Por que, todos os anos, insistimos em escrever essas listas, mesmo sabendo que muitas vezes elas não passarão do papel?
A virada do ano, com sua carga simbólica, nos dá a sensação de uma nova oportunidade, uma página em branco para reescrevermos a vida. A lista se torna um instrumento de ordem no caos, um jeito de trazer organização a uma existência cheia de incertezas. Psicologicamente, ela é uma tentativa de equilibrar nossas aspirações com a realidade. O problema, muitas vezes, é que subestimamos a realidade e superestimamos nossas forças.
Pense na história do Renato, um advogado de 38 anos que me contou, durante uma sessão de terapia, sobre sua lista de resoluções para o ano anterior. Ele decidiu que iria acordar às 5h, fazer exercícios diariamente, aprender francês e economizar 30% de seu salário. A lista parecia promissora, mas também inalcançável. Em fevereiro, ele já havia abandonado o francês e, em março, os treinos. No final do ano, ao revisar a lista, Renato se sentiu derrotado, dizendo que não era capaz de nada. O problema não era Renato, mas a lista —ou melhor, as expectativas irreais que ela representava.
Por outro lado, existem histórias inspiradoras. Carolina, uma professora de 45 anos, decidiu, há dois anos, que queria voltar a ler por prazer. Ela escreveu na sua lista: “Ler um livro por mês”. O objetivo era modesto, mas significativo. Carolina começou com romances curtos e, aos poucos, foi redescobrindo o amor pela literatura. Hoje, ela lê até mais do que planejou e acredita que essa meta simples trouxe mais leveza à sua rotina. A diferença entre Carolina e Renato? Carolina soube calibrar suas expectativas, enquanto Renato tentou transformar sua vida de forma drástica em pouco tempo.
Esse contraste revela muito sobre a psicologia das resoluções. Quando traçamos metas excessivamente ambiciosas ou numerosas, o fracasso se torna quase inevitável. Nosso cérebro, ao perceber a dificuldade, tende a desistir. Por outro lado, metas pequenas, específicas e alcançáveis nos motivam. Cada pequena vitória nos dá um senso de competência e reforça o hábito de tentar.
O valor de uma lista de resoluções não está na quantidade de itens riscados ao final do ano, mas na reflexão que ela proporciona. Quando feita com honestidade e equilíbrio, ela nos ajuda a perceber o que realmente importa e nos move. É como se a lista dissesse: “Esses são os pedaços de mim que quero cuidar.”
Nesse sentido, as resoluções deixam de ser metas rígidas e se tornam um mapa para navegarmos com intencionalidade pelas águas do novo ano. Elas nos lembram que cada escolha feita ao longo do caminho pode ser um passo em direção à nossa melhor versão.
Então, se você pretende fazer sua lista de resoluções, faça-a com carinho. Escolha metas que conversem com o que você realmente valoriza, e não com o que o mundo espera de você. Pense se, no fundo, o que está escrito ali tem a ver com gostos e sonhos seus, ou com as expectativas das outras pessoas.
O ano novo não tem mágica, mas ele pode ser uma boa desculpa para planejar e começar. Quem sabe, um dia você será a inspiração de outra história bem-sucedida. E se a lista falhar? Tudo bem. A beleza da vida está em poder recomeçar, com ou sem listas.