Os líderes da Nasa têm uma posição incômoda. Embora sejam os chefes de uma organização amplamente reconhecida, geralmente não são as pessoas mais famosas da agência. Provavelmente, mais pessoas conhecem os nomes de Butch Wilmore e Suni Williams, os astronautas atualmente “presos” na Estação Espacial Internacional, do que Bill Nelson, o atual administrador da Nasa.
Os astronautas podem ser as pessoas mais intimamente associadas à Nasa, mas os administradores são indiscutivelmente mais essenciais para fazer os programas decolarem.
Como especialista em política espacial, vi o impacto que os líderes individuais da Nasa podem ter no sucesso da agência. Eles desempenham um papel vital na decisão do que a Nasa faz e como faz, e também ajudam a fomentar apoio político para a exploração espacial.
O papel do administrador da Nasa
A Nasa é uma agência governamental independente, o que significa que ela não está subordinada a um dos departamentos do gabinete do presidente (o equivalente aos ministérios do governo federal no Brasil), como o Departamento de Estado. Dessa forma, o líder da Nasa é um administrador, e não um secretário.
Embora o nome seja diferente, um administrador da Nasa tem deveres e responsabilidades semelhantes aos de um secretário de gabinete. Eles ajudam a tomar decisões sobre quais programas e políticas devem ser adotadas e como elas serão executadas. Os administradores da Nasa trabalham com parceiros do setor, inclusive o setor espacial comercial. Eles também representam a Nasa em suas apresentações ao Congresso e nas relações diplomáticas com outros países.
Os administradores da Nasa também são responsáveis perante as autoridades eleitas. Os administradores são nomeados pelo presidente, mas devem ser confirmados pelo Senado. O Congresso tem muito a dizer sobre o orçamento que a Nasa recebe a cada ano. Eles também devem autorizar programas importantes, como o programa Artemis, que tem como objetivo levar os EUA e seus parceiros de volta à Lua.
Embora decisões importantes como essas muitas vezes estejam fora de seu alcance, os administradores da Nasa ainda têm muita influência nos bastidores. James Webb, o segundo administrador da Nasa, que ocupou o cargo entre 1961 e 1968, é frequentemente creditado como parte integrante e fundamental da manutenção do apoio político ao programa Apollo, que primeiro levou pessoas à Lua.
Dan Goldin, o mais duradouro administrador da Nasa, ajudou a salvar a Estação Espacial Internacional do cancelamento no início dos anos 1990, convencendo o governo Clinton a convidar a Rússia para participar do projeto.
Como administrador no início dos anos 2000, Mike Griffin ajudou a impulsionar o setor espacial comercial ao instituir o programa Commercial Orbital Transportation Services (“Serviço Comercial de Transporte Orbital”, em inglês). Esse programa forneceu financiamento para empresas que primeiro enviariam cargas para a Estação Espacial Internacional e, posteriormente, astronautas, como a SpaceX, do bilionário Elon Musk.
Entretanto, nem todos os administradores são tão produtivos quanto Webb, Goldin ou Griffin. Richard Truly foi demitido do cargo por George H.W. Bush em 1992 depois de discordar da proposta do governo de 1989 de levar os EUA de volta à Lua.
Charles Bolden foi alvo de controvérsia quando disse à Al-Jazeera que o presidente Barack Obama o instruiu a tornar a aproximação com os países muçulmanos uma das prioridades da Nasa.
Tanto Truly quanto Bolden foram astronautas antes de se tornarem administradores. Mas isso não significa que ex-astronautas sejam, de alguma forma, piores no cargo do que pessoas de outras origens. Historicamente, os administradores da Nasa têm tido uma grande variedade de formações, incluindo cientistas, engenheiros e até mesmo ex-membros do Congresso.
O atual administrador da Nasa, Bill Nelson, é ex-senador e ex-astronauta, tendo ido ao espaço no ônibus espacial Columbia em janeiro de 1986.
Grandes questões à frente
Independentemente do administrador, os próximos anos trarão grandes decisões para quem for o próximo.
Com o recente anúncio de que a missão ao redor da lua Artemis 2 será atrasada pelo menos até o primeiro semestre de 2026, a Nasa ainda tem muito trabalho a fazer em seu programa Artemis. Ainda há questões importantes a serem resolvidas com o veículo tripulado, incluindo problemas com o escudo térmico e os sistemas eletrônicos da cápsula.
Além disso, o sucesso das empresas espaciais comerciais, como a SpaceX, significa que haverá mais pressão sobre a Nasa para encontrar maneiras de reduzir os custos aproveitando os serviços das empresas comerciais.
De forma mais ampla, muitos outros países estão observando como os EUA estão operando no espaço. Além do que alguns consideram uma nova corrida espacial com a China, questões sobre detritos espaciais, gerenciamento de tráfego espacial e recursos espaciais envolverão cooperação com outros países e exigirão o envolvimento do administrador.
Por fim, o administrador da Nasa terá que lidar com uma questão recorrente: menos recursos. Historicamente, a Nasa tem recebido menos dinheiro do que o necessário para realizar todas as tarefas que lhe são atribuídas.
Essa situação leva a decisões difíceis sobre os tipos de missões a serem apoiadas. A ciência espacial e a exploração robótica normalmente perdem para coisas como voos espaciais tripulados.
Embora o próximo administrador precise tomar decisões difíceis, os próximos anos serão repletos de entusiasmo, pois os EUA e outros países estão buscando metas cada vez mais ambiciosas na exploração espacial.
Este artigo foi publicado no The Conversation Brasil e reproduzido aqui sob a licença Creative Commons. Clique aqui para ler a versão original