Um túnel subaquático de 5.500 quilômetros ligando os Estados Unidos ao Reino Unido em menos de uma hora de viagem parece algo impossível. Mas essa ideia, que leva o nome de “Túnel Transatlântico”, é uma proposta que vem sendo discutida há décadas e voltou a ocupar páginas de diversos tabloides britânicos na última semana devido aos avanços tecnológicos e às discussões sobre mobilidade sustentável.
Com um custo estimado em cerca de US$ 20 trilhões, quase equivalente ao PIB combinado de potências como China, Japão e Alemanha, esse megaprojeto ambicioso tem como objetivo reduzir a jornada entre Nova York e Londres, que atualmente leva cerca de oito horas de avião, para apenas 54 minutos.
O túnel
A proposta envolve a construção de um túnel submarino que atravessaria o Oceano Atlântico, conectando a costa leste dos Estados Unidos ao Reino Unido. Diferente de outros projetos de infraestrutura, o chamado “Túnel Transatlântico” teria características futurísticas: ele utilizaria trens movidos pela tecnologia de levitação magnética, conhecidos como “vactrains”, que operariam em um ambiente de quase vácuo, eliminando a resistência do ar e permitindo que os trens alcançassem velocidades entre 6.400 km/h e 8.000 km/h. A jornada entre Londres e Nova York seria mais rápida do que um voo doméstico realizado dentro de muitos países.
Entre as propostas mais estudadas, destaca-se a teoria de um modelo de túnel flutuante, submerso a cerca de 49 metros de profundidade e suspenso por cabos ancorados ao fundo do oceano. Outra ideia considera um sistema híbrido que alternaria segmentos assentados no leito oceânico com partes suspensas.
Aproximação e “sustentabilidade”
Além de revolucionar o transporte global, a mídia britânica afirma que o projeto promete ser mais sustentável do que a aviação, que, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), é uma das maiores fontes de emissões de carbono no mundo. O túnel também poderia reforçar as relações comerciais e políticas entre os EUA e o Reino Unido, consolidando o que muitos chamam de “relação especial” entre as duas nações.
Desafios monumentais
No entanto, as vantagens não vêm sem desafios. A construção de um túnel desse porte é tecnicamente e economicamente monumental para nossa realidade atual. Para se ter uma ideia, o Eurotunel, que fica sob o Canal da Mancha e que conecta a Inglaterra à França, levou seis anos para ser concluído, tem apenas 38 km de extensão e custou cerca de US$ 21 bilhões. Comparativamente, o “Túnel Transatlântico” seria cerca de 90 vezes mais longo e dezenas de vezes mais caro.
Outro desafio seria lidar com a profundidade do Oceano Atlântico, que chega a mais de 5.000 metros em alguns pontos, algo que apresentaria desafios sem precedentes para a engenharia moderna. A pressão exercida nessas profundidades é tão intensa que até mesmo estruturas mais tecnológicas poderiam enfrentar dificuldades para suportá-la.
Outro obstáculo é o possível impacto ambiental. Um projeto dessa magnitude poderia perturbar ecossistemas marinhos sensíveis e até mesmo afetar espécies que podem estar em extinção. Além disso, as correntes marítimas, o risco de terremotos e o alto custo de manutenção são fatores que complicam ainda mais a viabilidade do túnel.
Futuro ou realidade?
Embora o conceito do túnel seja empolgante, ele pode estar bem longe de se tornar realidade. Atualmente, nem o governo dos EUA nem o do Reino Unido, muito menos empresas privadas estão dispostos a assumir os custos e os riscos do empreendimento.
No entanto, projetos menores, como o túnel que deverá ligar a Espanha ao Marrocos, ou seja, o continente europeu ao continente africano, através do Estreito de Gibraltar, já estão sendo estudados e podem até mesmo sair do papel até 2030. Segundo o portal espanhol El Economista, esse túnel subaquático está sendo planejado para ter cerca de 27 quilômetros, sendo 17 quilômetros abaixo do mar, construído em profundidades de até 475 metros. Ele, caso saia do papel, provavelmente servirá como um teste de viabilidade para futuros túneis submarinos de maior porte.