A Nasa apresentou no fim do ano passado sua estratégia para a futura exploração robótica de Marte, e o novo plano é ter muitas missões de baixo custo, voando sempre que possível.
É verdade que o planeta vermelho anda meio esquecido, com a priorização do retorno à Lua e a confusão toda com a missão de retorno de amostras marcianas, mas a agência espacial americana ainda tem o quarto mundo a contar do Sol como um de seus focos mais importantes de estudo.
O documento de 154 páginas tenta projetar o que serão os próximos 20 anos de exploração de Marte, concentrado em três temas. O primeiro seria, segundo Becky McCauley Rench, cientista da divisão de ciência planetária da agência e uma das líderes do trabalho, “explorar o potencial para vida marciana”, ou seja, procurar evidências de vida, passada ou presente, no planeta vermelho.
O segundo tema é “suporte à exploração humana de Marte” –um campo que deve ganhar prioridade dentro da agência, sobretudo com a perspectiva de uma influência grande de Elon Musk (que tem por objetivo declarado promover a colonização marciana) na nova gestão de Donald Trump. O programa robótico da Nasa buscaria tarefas a serem realizadas como forma de otimizar uma futura viagem tripulada.
O terceiro, por fim, é “revelar Marte como um sistema planetário dinâmico”, ou seja, entender de forma minuciosa a origem, evolução e estado atual do planeta, com uma ênfase no nascente campo da planetologia comparada, que contrasta as diferentes rotas tomadas por cada mundo, no Sistema Solar e além dele, ao longo de seus bilhões de anos de existência. “Queremos aprender tanto sobre Marte quanto sabemos sobre a Terra”, diz Rench.
Como fazer isso? Com muitas missões de pequeno porte e baixo custo, lançadas em todas as ocasiões possíveis –uma janela para voos da Terra a Marte se abre a cada 26 meses, em razão do movimento constante dos dois planetas ao redor do Sol. As mais baratas sairiam entre US$ 100 milhões e 300 milhões –bem mais modestas que os bilionários rovers Curiosity e Perseverance, que hoje perambulam pelo solo marciano.
A agência também espera aproveitar oportunidades para lançar instrumentos em missões de países parceiros, e há a ideia de engajar a iniciativa privada, sobretudo para desenvolver infraestrutura para futura exploração. Hoje, as telecomunicações e o sensoriamento remoto do planeta dependem essencialmente do Mars Reconnaissance Orbiter, um orbitador que já opera por lá há 20 anos.
Reparem que, no momento, tudo se trata de noção estratégica. Não há missões específicas com prazos determinados, e todo esse planejamento passa ao largo do esforço internacional para o retorno de amostras, que a Nasa está tocando em parceria com a ESA (Agência Espacial Europeia) e que corre em uma trilha paralela (no momento, o programa está suspenso, em busca de soluções mais baratas e rápidas).
Com o planejamento rascunhado, caberá à nova administração definir como será conduzida a exploração marciana nas próximas duas décadas e que papel a iniciativa privada –em particular o veículo Starship, da SpaceX– terá nessa empreitada, pensando não só em missões robóticas mas também no envio de astronautas.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, em Ciência.
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