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    Home » O medo dos mortos rompe nosso vínculo com a ancestralidade – 17/04/2025 – Morte Sem Tabu
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    O medo dos mortos rompe nosso vínculo com a ancestralidade – 17/04/2025 – Morte Sem Tabu

    Brasil ElevePor Brasil Eleveabril 17, 2025Nenhum comentário11 minutos de leitura
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    Com reflexões profundas e questionadoras sobre vida, crises climáticas e conflitos de guerra, o mombe’usara (contador de histórias e estórias) Porakê Munduruku mostra como a ancestralidade originária resiste e oferece ensinamentos que podem ir além de uma noção de “sagrado” ligada à religião.

    “O sagrado é próprio da natureza e pode ser encontrado em qualquer lugar. Por isso, tudo que existe é potencialmente sagrado. Ele surge da percepção, mesmo inconsciente, de que somos parte de um todo que nos transcende e transborda”, conta.

    Segundo o escritor, os ancestrais do Povo Munduruku eram nômades e, por isso, seus mortos eram enterrados em casa e deixados para trás quando o grupo levantava acampamento, mas continuavam vivos dentro de cada um.

    “Quem morre permanece vivo nos ensinamentos que construiu com as outras pessoas e legou aos que permanecem. Todos estamos fadados a sermos os ancestrais das gerações que virão. Somos remanescentes de uma civilização circular. Tendo a concordar com o saudoso Nêgo Bispo: quando se transcende o mero individualismo promovido pela ideologia colonial, não faz sentido acreditar em finais; para nós é: começo, meio e começo”, reflete.

    Com a palavra, Porakê Munduruku.


    Morte Sem Tabu: Como você se apresenta?

    Porakê Munduruku: Meus parentes me reconhecem como Porakê Munduruku, indígena em retomada em Ananindeua, na periferia da capital paraense; não sou cacique nem pajé, sou apenas um mombe’usara, um contador de estórias e histórias, pesquisador, escritor, roteirista e educador; Coordenador do Tekó – Coletivo de Artivismo Indígena da Região Metropolitana de Belém; e Articulador no Pará da Kabiadip – Articulação Munduruku no Contexto Urbano. E autor de “Imuê’en: por um estar no mundo originário” (Editora Saberes da Mata, 2024).

    Morte Sem Tabu: Porakê, você se lembra da sua primeira experiência com a morte? Como a sua cultura e ancestralidade o ajudaram a olhar para a morte desde a infância?

    Porakê Munduruku: Nossa família é muito católica, cristã, como a ampla maioria das famílias brasileiras, indígenas ou não. A morte de uma de minhas tias, quando eu era criança, plantou na minha cabeça uma dúvida que germinaria e frutificaria muitos anos depois: como pode haver justiça divina se pessoas boas morrem de forma violenta e repentina, enquanto pessoas más, como Brilhante Ustra, morrem em idade avançada e cercado de regalias?

    Em 1989, eu ainda não conhecia tão bem a minha própria ancestralidade, soterrada sob séculos de catequese colonial, para extrair conclusões do estar no mundo de meus ancestrais. Tudo que tinha para me agarrar eram as trivialidades incoerentes do cristianismo: – “Ela agora está em um bom lugar.” – “Foi para o céu.” – Ainda que uma cova no cemitério nunca tenha me parecido um bom lugar. E sempre tenha me soado meio incoerente essa conversa sobre o céu. Afinal, todos querem ir para o céu, mas quase ninguém está disposto a morrer para chegar lá. O céu é uma promessa sobre a qual, convenientemente, jamais se pode verificar o cumprimento.

    Ainda levariam décadas para eu me libertar o suficiente das amarras da catequese colonial para deixar para trás o cristianismo e abraçar uma perspectiva originária sobre a morte. As pessoas esperam que indígenas estejam livres de uma perspectiva colonial, mas após mais de meio milênio de imposição violenta, essa expectativa não é realista.

    Os primeiros relatos de contato direto entre meus ancestrais e os colonizadores europeus datam de 1768. Nas primeiras décadas, estivemos em guerra contra a Coroa Portuguesa e seus aliados nativos e estrangeiros. Chegamos a sitiar a cidade de Santarém e ameaçar a capital da Província do Grão-Pará. Só em 1795 selamos o acordo de paz com os portugueses, o que envolveu o compromisso de que nossos maiores guerreiros assumissem patentes no exército colonial e se mudassem para aldeamentos no entorno de Santarém. Em troca, nossos inimigos manteriam intocados nossos territórios mais sagrados no Alto Tapajós. Sou fruto daqueles que foram obrigados a servir ao colonizador: meus ancestrais mais próximos vieram dos territórios Munduruku do Baixo Tapajós, em Aveiros e no Planalto Santareno. Mesmo nos territórios do Alto Tapajós, onde, graças ao sacrifício deles, foi preservada a língua Munduruku e muito de nossa cultura, os missionários cristãos adentraram no início do século passado. Até povos de recente contato, como os Yanomami, estão há décadas convivendo com a catequese colonial. E não é raro que, mesmo hoje, o primeiro contato com povos indígenas isolados seja feito por missões cristianizadoras. No mundo dominado pelo colonizador há muito pouco espaço para quem pensa e vive de forma diferente.





    Um estar no mundo originário exige compromisso com o sagrado, não com o divino. É reconhecer o sagrado na morte como parte indissociável da vida. Não faz sentido temer a morte, muito menos os mortos. Nós reverenciamos nossos ancestrais, não tememos nossos mortos. E celebramos a vida, não cultuamos a morte.

    Morte Sem Tabu: Em um dos seus textos nas redes sociais, você diz que “o medo do outro e dos mortos rompe nosso vínculo com a ancestralidade”. Por que isso acontece? Como podemos ultrapassar esse medo para nos conectar à nossa ancestralidade?

    Porakê: Apesar de toda a onipresença da catequese colonial, nossa ancestralidade originária resiste e oferece ensinamentos para aqueles dispostos a buscá-los. Nossos ancestrais não possuíam deuses nem religião, os próprios relatos coloniais reconhecem isso. Tanto que os termos nos quais nos foi imposta a “Guerra Justa” autorizava os agentes à serviço da coroa portuguesa a exterminar e escravizar pessoas indígenas que se recusassem a aceitar a catequese colonial.

    No entanto, isso não significa que nossos ancestrais desconhecessem o sagrado. O sagrado é próprio da natureza e pode ser encontrado em qualquer lugar. Por isso, tudo que existe é potencialmente sagrado. Ele surge da percepção, mesmo inconsciente, de que somos parte de um todo que nos transcende e transborda. Diante do sagrado sentimos que fazemos parte de algo maior que a nossa mera individualidade. A experiência do sagrado pode, mas não precisa, vincular-se à experiência religiosa. Ela pode ser igualmente encontrada na arte, na natureza, na interação com outras pessoas ou no autoconhecimento. A separação absoluta entre o sagrado e o mundano é própria da catequese colonial.

    Já o divino é o sagrado aprisionado pela lógica autoritária do colonizador, ou seja, pela religião. É a noção de que a experiência com o sagrado só pode ser legitimamente obtida por meio da completa entrega e submissão à divindade. O divino busca restringir e disciplinar o sagrado à mediação dos sacerdotes, ao espaço dos templos e ao tempo dos cultos. Na perspectiva do divino, o protagonismo deixa de ser da Natureza e do vínculo direto com ela, para se tornar o protagonismo de um deus (ou deuses) e de seus alegados representantes. Acredito que um estar no mundo originário nos exige o compromisso com o sagrado, não com o divino. É reconhecer o sagrado na morte como parte indissociável da vida. Então não faz sentido temer a morte, muito menos os mortos. Nós reverenciamos nossos ancestrais, não tememos nossos mortos. E celebramos a vida, não cultuamos a morte.

    Morte Sem Tabu: Você conta que os Munduruku são um povo que não cultivava o hábito de cemitérios, pois é um povo nômade. Como é essa perspectiva da pessoa que morreu continuar viva dentro da gente?

    Nossos ancestrais eram nômades e para eles não fazia sentido o conceito de cemitério. Nossos mortos eram enterrados em casa e deixados para trás quando levantávamos acampamento, embora seguissem vivos em nós. O que me parece mais condizente com o estar no mundo de nossos ancestrais, por tudo que pude conhecer através da oralidade e da leitura, é que nosso sagrado originário assumia, sobretudo, duas formas: Ajojot’yu (ancestrais), dentre os quais o maior é Karosakaybu, o grande legislador responsável por instituir o Povo Munduruku como é compreendido por nós; e Wuyxi’yu (nossas mães), cuja maior expressão é Puybitxi, a mãe da caça, mãe de todas as mães. Tais compreensões do sagrado nada mais são do que a consciência originária sobre a Ancestralidade, os vínculos que nos unem enquanto povo através do tempo e do espaço, por uma história e por um estar no mundo que compartilhamos; e sobre a Natureza: nada pode existir que não seja a Natureza, a Natureza é tudo que existe, seu movimento e suas capacidades, incluindo nós e tudo o que somos e fazemos.

    Morte Sem Tabu: As culturas ocidentais nutrem muitos medos e tabus em relação à morte. Você diz que os povos indígenas encaram a morte como parte da vida e da Natureza. Neste momento de tantas discussões sobre as crises climáticas, como vida-morte-Natureza se conectam na sua visão?

    A morte não é mais do que uma transformação, um novo começo, pois quem morre permanece vivo nas relações e ensinamentos que construiu com as outras pessoas e legou aos que permanecem. Todos estamos fadados a sermos os ancestrais das gerações que virão. E a matéria que compõe nossos corpos inevitavelmente encontrará outras formas de seguir existindo através de novas manifestações da Natureza, viventes ou não viventes. Somos remanescentes de uma civilização circular. Neste ponto, tendo a concordar com o saudoso Nêgo Bispo: quando se transcende o mero individualismo promovido pela ideologia colonial, não faz sentido acreditar em finais; para nós é: começo, meio e começo.

    Os pariwat (não-indígenas) estão se autodestruindo ao ignorarem que são parte da Natureza. A ganância e o egoísmo os tornou cegos e surdos aos ensinamentos da Ancestralidade, mas o que está em risco não é o Mundo ou a Natureza, mas a sobrevivência da humanidade. O Mundo seguirá existindo, a Natureza encontrará uma forma de seguir sem nós. Nosso dilema é se estamos ou não dispostos a cometer um suicídio geral enquanto espécie, uma autoextinção. Na longa história deste planeta, a extinção é muito mais uma regra do que uma exceção. Até os cientistas pariwat sabem disso, mas nós, originários, nunca esquecemos esses ensinamentos, somos cientistas natos.

    Morte Sem Tabu: Vivemos um momento de muitas guerras e conflitos em todo o mundo. O que os rituais do povo Munduruku podem nos ensinar sobre como dar fim aos conflitos?

    Porakê: Conflitos são uma parte inevitável das interações na Natureza. Viver é lutar, do primeiro ao último suspiro. A criança ao nascer luta para respirar, por isso chora. Respirar exige esforço, conseguir alimento, abrigo, parceiros, exige esforço. Quando cessa o esforço, cessa também a vida. Antes do colonizador europeu chegar, nós já conhecíamos a desgraça, já fazíamos guerra, já haviam doenças. Mas a consciência da Ancestralidade e da Natureza nos impunha limites. Nossos ancestrais eram caçadores nômades e sabiam que havia limites para a caça. Regras eram necessárias. Não se podia matar filhotes, nem fêmeas prenhas, por exemplo. Se compreendia que o sacrifício da anta, ou da paca, ou do porco do mato é o que permitia que nosso povo tivesse alimento e prosperasse, então havia o compromisso de honrar a mãe das antas, a mãe das pacas. Da mesma forma, haviam regras e limites para a guerra.

    Nossas histórias mais antigas dizem que nossos ancestrais, que viriam a dar origem ao Povo Munduruku, migraram da região do sopé dos Andes para o vale do Tapajós muito antes da colonização europeia, movidos por conflitos com os antigos impérios andinos, o que é corroborado por traços culturais específicos de nosso povo, como o famoso ritual Munduruku de decapitação, que só encontra paralelo com outros povos relacionados aos Andes, como Paracas e Jivaros.

    Um dos mais emblemáticos rituais de nossos ancestrais é o ritual de decapitação e preservação da cabeça de inimigos derrotados. Embora indigenistas e antropólogos interpretem tal ritual como uma demonstração de poder e virilidade, para nós ele era uma forma de homenagear os inimigos caídos e restaurar a paz, pois nossa tradição de guerra também envolvia acolher os órfãos e viúvas dos inimigos derrotados, não como servos ou escravos, mas como membros de nosso povo. Neste contexto, a decapitação ritual era uma forma de demonstrar o respeito necessário para restaurar a harmonia com seus entes sobreviventes, para que a guerra pudesse ter um fim. Ao investir tempo e esforço preparando a cabeça do morto, a família do guerreiro vencedor comunicava à família do vencido: “Seu parente morreu para que pudéssemos viver e nós honramos sua memória lhe prestando esta homenagem”. Há registros de que este ritual era igualmente realizado em nossos próprios guerreiros. A decapitação era necessária em um contexto em que simplesmente não seria viável transportar, a pé através da mata, o corpo do morto. Respeitar e honrar, mesmo os inimigos, é o que ensina nossa ancestralidade. A guerra nunca é um fim em si. Nenhum povo deseja a guerra permanente, muito menos um povo sem servos ou escravos, sem castas ou classes sociais e sem propriedade privada como o povo Munduruku.





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