Não canso de repetir como o esporte nos traz lições para a vida.
Nesta semana, ouvi uma entrevista da Bia Haddad Maia no ótimo podcast de tênis “New Balls Please”, do jornalista Fernando Nardini e do ex-tenista profissional e comentarista Fernando Meligeni. Não me surpreendi com a maturidade em todas as respostas da Bia porque acompanho a carreira dela há anos, já a entrevistei algumas vezes e sua determinação e foco são claros. Nenhuma tenista chega onde ela está, atualmente número 17 do mundo, não tivesse isso e mais.
Mas é sempre bom ouvir a perspectiva do atleta, ainda mais em tempos de redes sociais, quando muitos têm receio de se expor, não querem expressar opiniões ou se posicionar.
Quando foi questionada sobre como lidava com críticas a ela e à sua equipe, especialmente nos momentos não tão bons da carreira, Bia disse que no começo fica chateada porque só ela e seu time sabem o que se passa dentro do seu mundo. Mencionou que ela e a família recebem ameaças horrorosas na internet, tão nojentas que nem vou repetir para não dar espaço para os malucos. E completou falando algo que eu também tento usar na minha vida: quando temos a certeza de que estamos fazendo o bem, seguros do nosso caminho, se alguém nos criticar ou tentar nos botar para baixo, isso diz mais sobre a frustração daquela pessoa do que sobre nós mesmos.
Não é questão de ser arrogante, mas de filtrar o que realmente vale a pena e de quem vem a opinião. E, claro, em um ambiente extremamente competitivo como o esporte, atletas de alto nível precisam, sim, ser individualistas em vários momentos.
Muitas vezes é difícil termos esse discernimento, porque o ser humano tende a depender da aprovação do outro (como disse o ex-técnico da seleção da Inglaterra de futebol, Gareth Southgate, em uma fase em que foi duramente criticado: “Todos nós queremos ser amados, certo?”). Bia disse que, hoje em dia, não sente a pressão de precisar prestar satisfações para quem está só vendo de fora. Imagino o quanto isso deve ser libertador.
Mas o fato é que cada um, seja no ambiente esportivo, seja na vida em geral, tem suas lutas, seus problemas, e não dá para esperar que o outro reaja da forma como nós faríamos. Não temos controle sobre tudo o que pensam a nosso respeito, e tudo bem.
Além do mais, hoje em dia muita gente se sente no direito de opinar sobre qualquer coisa, em áreas em que não tem o menor conhecimento, se meter na vida de uma pessoa pública como um atleta e achar que ele tem que ouvir porque “escolheu ser famoso”. Piora o fato de vivermos em um mundo que está agressivo e impaciente.
Me identifiquei com a fala da Bia porque, nesta semana, dei um pequeno passo profissional –algo corriqueiro, nada demais, que só teria consequências para mim e mais ninguém– mas me peguei imaginando como os outros reagiriam, se estava me expondo demais. Mas tentei pensar como a Bia: se alguém me julgar, isso dirá mais sobre aquela pessoa do que sobre mim.
Bia disse o quanto deseja estar e se manter no top 10 do ranking mundial e que, para isso acontecer, 80% dependerão da saúde mental. Ela está confiante tecnicamente, sonha ganhar um Grand Slam. E é bem isso: às vezes, quem nos boicota é a nossa cabeça.
Sigo aqui, à distância, torcendo por ela.
Como parte da iniciativa Todas, a Folha presenteia mulheres com dois meses de assinatura digital grátis.
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.