Milhões de brasileiros foram às urnas neste domingo (27) nas cidades em que ocorreram o segundo turno das eleições municipais. Em São Paulo, a disputa entre o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o postulante ao cargo Guilherme Boulos (PSOL) foi bastante acirrada nas redes sociais, mas a alta rejeição ao candidato do PSOL determinou o resultado nas urnas.
Ao longo de todo o segundo turno, as menções aos dois candidatos se mantiveram elevadas em todas as fontes de dados analisadas pela Palver. Nas redes sociais, Boulos teve leve vantagem, principalmente nos grupos públicos do WhatsApp e Telegram. Por outro lado, Nunes liderou nos veículos tradicionais de imprensa como rádio e televisão, além de uma leve vantagem em sites e blogs.
Nos grupos públicos de WhatsApp e Telegram analisados pela Palver, Nunes ganhou força na reta final da campanha, principalmente após o debate promovido por Pablo Marçal. Com mais de 1,7 milhão de votos no primeiro turno, o empresário reuniu um importante capital político na cidade, com mais de 28% dos votos válidos.
Nessa linha, ao promover o que chamou de “entrevista de emprego”, o empresário convidou os dois candidatos para uma sabatina. No monitoramento da Palver, o número de menções a Marçal nos grupos públicos de mensageria estavam muito baixo após o primeiro turno das eleições. Após a realização da conversa com Boulos, seus números aumentaram significativamente.
Se o interesse de Marçal era financeiro, de tal forma que usa sua visibilidade e engajamento para tentar converter vendas de produtos digitais e cursos de prosperidade, é possível que a sabatina tenha ajudado o empresário a alcançar seus objetivos. Contudo, do ponto de vista político, Marçal criou uma saia justa para seus apoiadores mais fiéis, visto que a repercussão foi bastante negativa.
Em grupos de direita, o empresário foi duramente criticado por dar espaço a Boulos. Mensagens enviadas diziam que o pastor Silas Malafaia estava certo ao dizer que Marçal não representava a direita e que é um enganador. Nessa linha, alguns vídeos mais incisivos circularam com ex-apoiadores dizendo que foram traídos e que em São Paulo ele não teria mais espaço.
Esse movimento de Marçal, se por um lado deu espaço para Boulos, por outro fortaleceu a campanha de Ricardo Nunes. Nas redes sociais, o atual prefeito recebeu apoio da direita, que argumentou que o apoio é necessário “para conter danos” de uma eventual vitória de Boulos, e que se trata de um “movimento estratégico” por parte de Bolsonaro.
Com elevada rejeição, Boulos tinha o desafio ao longo do segundo turno de mostrar ao eleitorado que sua candidatura não representava uma mudança extremista. Nos grupos de WhatsApp, grande parte da comunicação de seus apoiadores destacava os pontos positivos de outras gestões de esquerda, como a do próprio presidente Lula e de Marta Suplicy.
Já nos grupos de apoiadores de Boulos, apesar de alguns questionamentos sobre a sua ida à sabatina de Marçal, e vozes isoladas pregando o voto nulo, a maior parte das mensagens era de suporte e de crença na virada. Para reforçar o argumento, alguns usuários traziam lembranças da eleição de 2012, em que Fernando Haddad (PT) conseguiu virar no segundo turno contra José Serra (PSDB).
Contudo, as tentativas da campanha de Boulos de apresentar uma candidatura mais equilibrada não foram suficientes. Para piorar, o monitoramento da Palver identificou nos grupos de mensageria vídeos e mensagens de texto afirmando que Boulos era o candidato escolhido pelo PCC. Esse discurso foi, inclusive, replicado pelo Governador Tarcísio na tarde de ontem.
A rejeição a Boulos e ao PT, que vem sendo alimentada constantemente pela direita ao longo dos últimos anos, foi elemento decisivo para a derrota nas urnas. Esse resultado é, em parte, explicado pela ampla vantagem que a direita possui no campo da comunicação digital.
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