Uma análise conduzida pela Universidade da Pensilvânia mostrou que casos de suicídio não costumam aumentar durante as festas de fim de ano —Natal e Réveillon— nos Estados Unidos.
Os pesquisadores têm estudado o fenômeno há 25 anos por meio de notícias de jornais e dados do CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças, dos EUA) e, como resultado, afirmam que a ideia de que as pessoas se matam mais nas últimas semanas de dezembro é um mito.
“Por mais de uma geração, temos analisado como a mídia noticia a crença equivocada de que a taxa de suicídio aumenta durante a temporada de festas”, diz Dan Romer, diretor de pesquisa do Centro de Políticas Públicas Annenberg (APPC) da Universidade da Pensilvânia. “A persistência desse mito sugere que seu domínio sobre a imaginação do público é difícil de desfazer. Apoiar esse mito não serve a nenhum propósito útil e pode ter um efeito contagioso em pessoas vulneráveis que estão passando por uma crise com ideação suicida durante as festas.”
Uma pesquisa de abrangência nacional nos EUA, feita em 2023 pela Universidade da Pensilvânia, descobriu que 4 em cada 5 adultos acreditam que o mês de dezembro é o “período do ano em que ocorre o maior número de suicídios”.
Para desmistificar essa crença, a equipe lança comunicados anuais à imprensa com recomendações de como abordar o suicídio em reportagens e não publicar informações que possam afetar pessoas que já estejam deprimidas ou passando por outras questões de saúde mental. Uma das sugestões aos jornalistas, inclusive, é não divulgar relatos de epidemias ou aumentos sazonais de mortes por suicídio quando não há dados oficiais confiáveis que mostrem isso.
Quando for preciso noticiar um caso de suicídio é importante, por exemplo, não divulgar o método que a pessoa usou para tirar a própria vida. Também é indicado publicar junto com essas reportagens canais de atendimento para pessoas que estejam precisando de apoio emocional. No Brasil, o serviço mais abrangente é o do CVV (Centro de Valorização da Vida).
Os dados do CDC mostram que os meses com as menores taxas médias diárias de suicídio nos EUA são novembro, dezembro e janeiro.
Em 2023, o último ano completo para o qual os dados do CDC estão disponíveis, dezembro teve a menor taxa média diária de suicídio —foi o 12º entre os meses, e novembro foi o 11º. Janeiro ficou em 5º lugar. Os meses com as taxas mais altas foram agosto (1º) e julho (2º).
Esse padrão sazonal também ocorre na Austrália, de acordo com a pesquisa da Universidade da Pensilvânia. O diretor Dan Romer conduziu, em 2023, uma análise das taxas médias diárias de suicídio ao longo de doze anos na Austrália. Ele descobriu que os meses de inverno lá tinham taxas de suicídio mais baixas, semelhantes aos Estados Unidos. Como a Austrália está no hemisfério sul, o mês com a menor taxa média diária de suicídio foi junho, que marca o início do inverno.
Ao divulgar os dados australianos no ano passado, Romer disse: “Isso ajuda a explicar a menor taxa de suicídio que vemos aqui em dezembro —é principalmente devido ao início do inverno. Psicologicamente, por causa dos dias mais curtos e sombrios do inverno nos EUA, tendemos a associá-los ao suicídio. Mas isso não é o que acontece na realidade.”
Onde encontrar ajuda
Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio
Oferece grupos de apoio aos enlutados e a familiares de pessoas com ideação suicida, cartilhas informativas sobre prevenção e posvenção e cursos para profissionais.
vitaalere.com.br
Abrases (Associação Brasileira dos Sobrevivente Enlutados por Suicídio)
Disponibiliza materiais informativos, como cartilhas e ebooks, e indica grupos de apoio em todas as regiões do país.
abrases.org.br
CVV (Centro de Valorização da Vida)
Presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo e anonimato pelo site e telefone 188
cvv.org.br
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