As sessões de terapia das semanas que antecedem as festas de fim de ano são marcadas por relatos de pacientes que se sentem pressionados a demonstrar felicidade. Há uma expectativa social de que, no Natal, as pessoas mostrem alegria e satisfação, independentemente de suas circunstâncias ou sentimentos reais. Segundo uma pesquisa publicada em 2022 na revista Nature, a “pressão social para ser feliz” —nome dado a esse fenômeno— está associada a uma queda no bem-estar individual.
Com tanto estímulo cultural e comercial para a celebração natalina, muitos nem sequer percebem que nem todos comemoram a chegada das festas. Para alguns, essa época intensifica uma sensação de vazio que não pode ser mascarada por presentes, decorações ou canções.
Na última semana, conversei com Ana (nome fictício), uma mulher de 66 anos que perdeu o marido em outubro de 2022. Desde então, o Natal deixou de ser um dia de festa e se transformou em um lembrete do silêncio que agora preenche sua casa. “Parece que o mundo inteiro está comemorando e eu não pertenço mais a ele”, desabafou. A solidão, nessa época, não é apenas ausência de companhia, mas uma desconexão profunda com o que ela percebe ao seu redor.
Essa desconexão pode trazer impactos sérios para a saúde emocional. Ao tentar parecer sempre alegre, muitas pessoas acabam escondendo sentimentos legítimos, como tristeza ou frustração, o que pode levar ao isolamento e ao cansaço emocional.
Marcos (nome fictício), de 37 anos, não mantém contato com a família desde o início da vida adulta. Diagnosticado com transtorno de ansiedade generalizada, ele contou em uma consulta que, nos últimos 17 anos, sempre alguém tenta convencê-lo a se reaproximar dos parentes no período do Natal. “É uma tortura, não é o que eu quero, e isso sempre faz minha ansiedade sair de controle”, relatou.
Além de afastar as pessoas de uma vida mais autêntica, a pressão social para ser feliz ignora que as emoções não seguem um calendário. Todas as emoções, inclusive as difíceis, merecem espaço, independentemente da época do ano.
Nesse período, uma maneira de evitar essa pressão sobre os outros é cultivar empatia e respeitar os diferentes momentos de vida de cada pessoa. Nem todos estão prontos para celebrar da mesma forma, e isso deve ser aceito sem julgamentos ou tentativas de mudar os sentimentos alheios. Frases como “Você tem que se animar, é Natal!” podem ser substituídas por perguntas mais abertas, como “Como você tem se sentido nesse período?”, ou gestos simples de presença e acolhimento, que demonstram disponibilidade sem impor expectativas.
Outra atitude importante é repensar as tradições natalinas, adaptando-as para incluir todos, independentemente de como se sentem. Em vez de criar ambientes onde todos precisam aparentar alegria, pode-se focar em momentos mais tranquilos e significativos, como compartilhar memórias, abrir espaço para conversas sinceras ou até simplificar as celebrações para aliviar pressões.
O Natal não precisa ser uma data de demonstrações perfeitas, mas um momento de conexão genuína, onde o bem-estar das pessoas seja mais importante do que atender a padrões sociais.
Ninguém é obrigado a ser feliz. Em qualquer estação, o ideal é que cada um viva de acordo com sua própria realidade. A verdadeira conexão não exige máscaras, mas abraça a autenticidade. Respeitar as emoções do outro pode ser o maior presente de Natal que podemos oferecer.