Mais famoso jogador de futebol brasileiro da última década e meia, Neymar foi em 2024 mais noticiado pelo que fez fora de campo do que dentro dele.
Pudera. Viveu longa recuperação de grave lesão no joelho esquerdo sofrida em jogo pela seleção brasileira em outubro do ano retrasado, que exigiu cirurgia. Na volta, 12 meses depois, teve nova contusão, na coxa.
Resultado: fechou o ano com dois jogos válidos por competição, ambos por seu atual clube, o saudita Al Hilal, ambos pela Liga dos Campeões da Ásia, ambos entrando no segundo tempo. Zero gol, zero assistência.
Longe das quatro linhas, o atacante, que é popularíssimo nas redes sociais (são 227 milhões de seguidores somente no Instagram, número superior à população do Brasil), envolveu-se em atrito verbal com a atriz Luana Piovani, foi multado por suposta infração ambiental em sua mansão no RJ, vendeu outra mansão, em SP, para o casal Maíra Cardi e Thiago Nigro, reconciliou-se com Bruna Biancardi (mãe de um de seus três filhos e grávida do quarto).
Popularidade geralmente significa admiração, e estou certo de que a esmagadora maioria das pessoas que acompanham Neymar o veem como um ídolo, um exemplo de sucesso profissional, um esportista top de linha.
Há, porém, quem o considere acabado para o futebol, ou, se não tanto, superestimado, enaltecido além do que deveria.
Muitos leitores desta Folha, aliás, pensam assim. Comentários em textos a respeito do camisa 10 trazem palavras nada abonadoras: “enganação”, “fake”, “puro marketing”, “falecido Ney”, “ruim sem ele, pior com ele”.
Ajuda nas críticas uma imagem mal administrada, já que o jogador ostenta ao se vestir (incluindo joias luxuosas), propagandeia empresa de apostas (bets), não faz questão de parecer simpático a quem não seja “parça”.
E ajuda muito mais nas críticas o histórico pela seleção brasileira: disputou três Copas do Mundo (2014, 2018 e 2022) como protagonista e saiu de cada uma sem a taça. Não deveria ser assim, pois o futebol é um esporte coletivo, mas “o Brasil não ganhou? Culpa dele”.
Isso registrado, Neymar, que completará 33 anos em fevereiro, tem para 2025 um duplo desafio.
1) Mostrar que fisicamente tem condição de jogar em alto nível, como fez na maior parte da carreira; se o corpo não consegue responder, não há cabeça que resolva.
2) Mostrar que, caso o corpo permita, a cabeça está majoritariamente focada no futebol. Que ainda tem gana de gols, de vitórias, de títulos. Que está motivado.
Esse é um aspecto crucial: a motivação. Tenho dúvida acerca de quanto Neymar continua animado para jogar futebol profissionalmente, se tem o mesmo prazer de outrora.
Caso ele esteja em sintonia com o futebol, o que o calendário dos próximos meses lhe oferece para a colheita de dividendos? São duas as frentes: clube e seleção.
No irrelevante futebol saudita, ganhar o título nacional pelo Al Hilal não é lá grande coisa. Neymar precisa brilhar na Champions League asiática, ser eleito o melhor da competição (em andamento; a final é em maio).
E, na sequência, liderar o time a uma campanha histórica no Supermundial da Fifa (com 32 clubes, em junho e julho, nos EUA).
Na seleção, estando em forma, Neymar será convocado por Dorival Júnior. E, do jeito que o Brasil vem jogando (mal), tem tudo para ser, novamente, figura vital.
É, gostem ou não, o maior artilheiro com a camisa amarela (79 gols, mais que os 77 de Pelé, nas contas da Fifa). Na teoria, não dá para prescindir dele. Na prática, só o próprio poderá dizer.
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